A terceira guerra mundial tão desejada pelos europeístas não vai acontecer. A atual doutrina de segurança dos EUA procura adaptar-se às realidades atuais. No essencial reconhece a existência do mundo multipolar, com três potências dominantes: os EUA, a China, a Rússia.
Pode perguntar-se: e a UE? A UE não existe em termos geopolíticos, por isso é inútil falar-se em PIB e população, o que existe são países que vão estabelecendo acordos em múltiplas reuniões, dentro das suas grandes fragilidades económicas, financeiras, sociais, militares.
Esta situação é consequência direta da guerra na Ucrânia, que continuam a alimentar, com os felizes propagandistas pondo a Rússia ao nível da bancarrota, com inflação descontrolada e a população opondo-se à guerra. Não vale a pena contrariá-los, o FMI trata disso ao considerar o rublo a moeda com melhor desempenho em 2025.
A UE como instituição é dominada por uma burocracia alojada na sua Comissão e por uma maioria irresponsável no PE. As burocracias caracterizam-se por ignorar a realidade, aterem-se aos formalismos que suportam o seu estatuto e respetivos privilégios, nada pequenos neste caso. Mas são irrelevantes, exceto para falar grosso com os países de segunda ordem, com políticos submissos, que querem ser bons alunos (de quê?!).
Espalhando entre a opinião pública o sentimento de russofobia e as ilusões de que a Rússia está a perder a guerra, com objetivos militares e refinarias a serem destruídos, os belicistas vivem no desejo de prolongar a guerra até Trump sair da Casa Branca e regressarem os neocons.
Este raciocínio faz parte da esquizofrenia política (tomar os desejos por realidades). A política dos neocons foi um falhanço completo que degradou a situação dos EUA a um nível que levou os eleitores a irem atrás do MAGA. Este lema quer dizer que a oligarquia aliada de Trump, o Pentágono, em parte a CIA, reconheceram que os EUA não tem capacidade económica, financeira, militar, nem ambiente social para hostilizar as outras grandes potências.
Falhadas as tentativas de "revoluções coloridas" na Rússia, que persistem nas cabecinhas dos "comentadores", a solução seria os EUA atacarem a Rússia. A questão é: que defesa têm os EUA contra os Sarmat, que pode atacar pelo sul, contra os Poseidon , os Burevestnik, os seus porta-aviões contra os Kinzhal, as suas bases contra os Kalibre ou Avangard? E a Europa contra os Orestnik. (ver)
Claro que só em delírio se pode imaginar a Rússia a atacar os EUA. Nem quando era URSS isso foi colocado - até houve filmes a ironizar a paranoia de "veem aí os russos" (soviéticos).
Podem os EUA atacar a China? Por outras palavras, podem os "heróis" do Afeganistão atacar a China? Falharam revoluções coloridas e insurreições no Tibete, no Xinjiang, em Hong Kong, como derrotar a China? Além do crescente potencial militar da China, inclusive nuclear, um ataque dos EUA e aliados tem intransponíveis fragilidades logísticas e de custos. A China vai atacar os EUA? Como e para quê? As dificuldades logísticas são semelhantes às dos EUA.
Uma das características dos belicistas (os nazis são exemplo) é ignorarem os problemas logísticos, a sua mentalidade não ultrapassou a do tempo da "diplomacia das canhoneiras".
Os EUA reconheceram que têm pela frente blocos que os neocons apenas conseguiram reforçar: o bloco estratégico China - Rússia - RPDC - Irão . Note-se que neste caso a logística é terrestre.
Analistas da Marinha calculam que a China pode construir mais de 200 navios para cada navio que os EUA produzam. Para resolver este déficit desequilibrado, os EUA precisam de novos estaleiros, de um investimento maciço de capital e de uma reavaliação séria de toda a sua abordagem.
Diz um ex-assistente do SG da ONU e membro do PE, Michael van der Shulenburg (1): A Europa entrou numa fase perigosa de loucura política ao aprovar resoluções que fecham o caminho a resolução pacífica da guerra no continente europeu. Fiquei impressionado com a linguagem usada no PE e 500 dos 700 deputados terem votado a favor de uma resolução militar. Apenas uma resolução de guerra - numa guerra que dura há mais de três anos. A resolução afirma que a guerra deve continuar até a Ucrânia vencer a Rússia, até a Rússia ser derrotada. Fala de um tribunal especial para processar os políticos russos. Afirma que a Rússia deve pagar todos os custos. Diz explicitamente que não deve haver negociações. É difícil imaginar uma resolução mais desligada da realidade e desconectada da situação atual. Com esta resolução, a UE essencialmente, diz adeus à possibilidade de uma resolução pacífica no seu próprio continente. É simplesmente impossível conceber uma situação mais insana.
1 - Deputado do PE pela Sahra Wagenknecht Alliance. Em 2025, celebrou em Moscovo o Dia da Vitória (9 de maio) e derrota do nazismo.
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