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8 de fevereiro de 2023

      Algumas notas em torno do crescimento do PIB em 2022

 

O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou há alguns dias as suas primeiras estimativas de crescimento do PIB em 2022.

 De acordo com o INE, o PIB em termos reais cresceu no 4º trimestre de 2022, 3,1% em termos homólogos (comparação com o 4º trimestre de 2021) e 0,2% em cadeia (comparação com o trimestre anterior, 3º trimestre de 2022).

No conjunto do ano de 2022 o PIB cresceu em termos reais 6,7%, depois de ter crescido em 2021 5,5% e de ter registado uma queda histórica de 8,3% em 2020, na sequência dos impactos da pandemia sobre a actividade económica no nosso país.

 Uma análise trimestral da evolução do PIB nos últimos anos mostra-nos que se é verdade que em termos anuais o crescimento registado em 2022 parece mostrar um forte dinamismo na nossa economia, a análise dessa evolução em termos trimestrais leva-nos a concluir algo de bem diferente.

 


 

 


 

 Como os gráficos anteriores mostram, após um primeiro trimestre do ano de 2022 em que Portugal atingiu os níveis do PIB que se verificavam no final de 2019, a nossa economia desacelerou fortemente e praticamente estagnou nos restantes três trimestres do ano.

 O primeiro dos gráficos é bem elucidativo do que acabei de referir, depois da nossa economia ter crescido em cadeia 2,4% no 1º trimestre de 2022, nos restantes trimestres esse ritmo de crescimento baixou para cerca de 0,2% ao trimestre. Nos últimos três trimestres o crescimento acumulado foi de apenas 0,7% e não fora o crescimento registado no 1º trimestre e o forte efeito de arrastamento que resultou do crescimento verificado em 2021 e o nosso crescimento económico em 2022 tería sido bem inferior.

É de tal forma assim que se a nossa economia mantiver em 2023 o ritmo de crescimento verificado nos três últimos trimestres, o PIB em termos reais não crescerá sequer 1% no corrente ano, ritmo de crescimento que exceptuando o ano da pandemia é o mais baixo desde 2014, quando PSD e CDS mais a troika governavam o nosso país.

 Embora o INE nesta sua estimativa rápida de evolução do PIB em 2022 avance com muito poucas justificações para essa evolução - quer em termos anuais, quer em termos trimestrais -, não tenho dúvidas de que o abrandamento muito considerável registado a partir do 2º trimestre, está directamente ligado às fortes subidas registadas nos níveis da inflação de mês para mês e às subidas registadas nas taxas Euribor, usadas como referências nas prestações mensais dos empréstimos à habitação que as famílias têm que suportar mensalmente.

A evolução da inflação em 2022, com um crescimento do IPC sem habitação de 8,1%, depois de em 2021 esse crescimento ter sido de 1,2%, acompanhada por uma queda em termos reais das remunerações brutas mensais médias por trabalhador de 4,7% até Setembro de 2022 e por uma actualização das pensões que ficou muito aquém dos níveis atingidos pela inflação, levou a um abrandamento considerável das despesas de consumo das famílias.

A forte subida nas taxas Euribor, fez disparar o valor das prestações mensais com a habitação e agravou ainda mais as condições de financiamento não apenas das famílias mas também das empresas.

Com tudo isto, apesar do crescimento do PIB de 6,7%, não me parece que o governo PS tenha motivos para se vangloriar com a evolução registada na nossa economia em 2022.

 A nossa economia cresceu 6,7% mas, como já atrás vimos, desde o final do 1º trimestre o seu crescimento foi anémico (cerca de 0,2% ao trimestre).

A economia cresceu mas os níveis elevados atingidos pela inflação e a falta de vontade do governo em combater as subidas de preços, em especial dos bens e serviços essenciais e em repor o poder de compra das famílias portuguesas, faz com que milhões de portugueses passem por cada vez mais dificuldades.

A economia cresceu mas o défice externo é cada vez mais preocupante. Em 2022 a Balança Corrente e de Capital, pela 1ª vez desde 2011, apresenta um défice que atinge já os 1,7 mil milhões de euros (cerca de 0,7% do PIB), devido fundamentalmente ao agravamento da Balança de Bens (Mercadorias) que até Novembro atingiu, em termos anualizados, um défice de 26 mil milhões de euros (10,2% do PIB) e ao agravamento da Balança de Rendimentos Primários (-4,3 mil milhões de euros).

A economia cresceu mas o investimento total pesa cada vez menos na nossa economia, representando hoje apenas cerca de 20% do PIB, quando no início do século estava próximo dos 30%. E, com o investimento público a situação é ainda mais preocupante: pesa hoje cerca de 2,5% do PIB quando no início do século atingia os 5%.   

A economia cresceu mas temos no final de 2022 mais cerca de 40 mil desempregados do que em igual período de 2021.

Por fim, a economia cresceu mas é cada vez maior o desequilíbrio na distribuição do rendimento, com os salários e as pensões a perderem poder de compra todos os dias e os lucros dos grandes grupos económicos a crescerem de forma exponencial. Os resultados apresentados até ao 3º trimestre de 2022 por estes grandes grupos económicos aí estão para o demonstrar. Faltando conhecer os resultados do 4º trimestre do ano, os resultados já conhecidos até ao final do 3º trimestre superam os lucros obtidos na totalidade do ano de 2021. 

02 de Fevereiro de 2023

José Alberto Lourenço

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