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18 de agosto de 2023

Como terminará a guerra na Ucrânia?

 É uma questão complexa, diz Larry Johson, (ex-veterano da CIA e do Combate ao Terrorismo do Departamento de Estado. Treinou unidades de Operações Especiais durante 24 anos) em Como terminará a guerra na Ucrânia?, mas temos de pensar nela se quisermos evitar um holocausto nuclear. Resume-se a três possibilidades: 

    - Renúncia incondicional.

    - Um acordo negociado.

    - Conflito prolongado e exaustão, ou seja, impasse.

Do ponto de vista russo, a operação militar na Ucrânia não é uma guerra. A guerra é destruir o inimigo – física, material e politicamente. Apesar das alegações da propaganda ocidental, a Rússia se absteve de infligir baixas civis em massa. A Rússia não tentou destruir plataformas de inteligência ocidentais, infraestrutura do governo ucraniano ou políticos ucranianos. Em suma, a Rússia jogou apenas algumas das cartas militares que possui. Ir para a guerra é comprometer-se completamente.

A Ucrânia e seus aliados da NATO têm uma visão diametralmente oposta: para eles, é uma guerra de agressão russa. Ao contrário da Rússia, a Ucrânia não apenas mobilizou sua população de homens em idade militar, mas também colocou jovens com menos de 18 anos e homens entre 45 e 65 anos uniformizados e enviou “carne para canhão” para a frente. A capacidade da Ucrânia de manter uma postura de guerra no futuro depende inteiramente de dinheiro e armas fornecidas pelos Estados Unidos e países da NATO. Sem apoio externo, a Ucrânia não pode continuar a travar uma guerra industrial moderna.

Então, vamos rever alguns fatos cruciais:

  1. A Ucrânia está sofrendo perdas militares devastadoras e não tem uma força de reserva treinada que possa enviar para o campo de batalha.

  2. A Ucrânia não tem uma capacidade aérea de combate viável.

  3. A Ucrânia não tem um estoque de tanques, veículos, artilharia e projéteis de artilharia.

  4. A Ucrânia não tem instalações/bases de treino seguras no seu próprio território e tem de contar com países da NATO para fornecerem treino. (Isso significa que o treino é limitado e não padronizado).

  5. A contraofensiva da Ucrânia, que deveria romper as linhas de defesa russas, fracassou, e a Ucrânia não tem poder de combate para aumentar os ataques.

  6. A Rússia, por outro lado, tem um grande número de reservas de tropas treinadas, munição de artilharia, artilharia (móvel e fixa), mísseis de cruzeiro, drones, mais de mil aviões de caça, helicópteros de ataque e sistemas de defesa aérea maciços.

  7. A Rússia é autossuficiente nos recursos naturais essenciais para abastecer as suas indústrias de defesa.

  8. A Rússia não depende mais do ocidente para o comércio e sua economia está crescendo, apesar das sanções económicas ocidentais.

Muitos analistas ocidentais insistem que a situação na Ucrânia é um beco sem saída e postulam que a guerra com a Rússia durará anos. Não será esse o caso. Tendo em conta os factos acima descritos, as vantagens estão inteiramente do lado russo. Nesta fase, a Ucrânia não tem a menor vantagem sobre a Rússia. Na minha opinião, é improvável que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia termine num impasse.

E quanto a um acordo negociado? É possível, mas qualquer acordo será feito nos termos da Rússia. A Rússia vai insistir no reconhecimento internacional da Crimeia, Kherson, Zaporizhzhia, Donetsk e Luhansk como partes permanentes da Rússia. Isso é inegociável. Os líderes políticos da Ucrânia continuam a insistir que este é um ponto de não retorno. Ou seja, não se vislumbra um acordo possível.

Isso deixa-nos com a terceira possibilidade: a capitulação incondicional. Os militares ucranianos caminham para um ponto de rutura devido ao aumento das perdas. A Ucrânia não tem um quadro de reservistas treinados, prontos para continuarem na frente o esforço para romper as linhas defensivas da Rússia.

Acho que o cenário mais provável é um grande desacordo entre Zelensky e seus comandantes militares sobre a continuidade da guerra. O facto dos ucranianos estarem dispostos a lutar não substitui o fornecimento das armas necessárias e, mais importante, as tropas treinadas para as utilizar. Atualmente, a Ucrânia não tem um caminho viável para sustentar operações militares sem o apoio garantido da NATO.

O joker nesses cálculos é a NATO. Na pior das hipóteses, os Estados Unidos ou outros membros da NATO decidem intervir enviando suas próprias tropas para a Ucrânia. Isso marcará o fim da "operação militar especial" e o início de uma guerra total entre a Otan e a Rússia.

Não concordo com algumas das conclusões, mas achei que seriam úteis para quem deseja se aprofundar no assunto. (1) Veja-se um documento da CSIS | Center for Strategic and International Studies): Como termina? O que as guerras passadas nos ensinam sobre como salvar a Ucrânia 

Chegou a hora da diplomacia da crise. Quanto mais tempo uma guerra durar sem concessões de nenhum dos lados, maior a probabilidade de se transformar em um conflito prolongado. Apesar da coragem do povo ucraniano diante da agressão russa, essa perspetiva é perigosa. A crise dos refugiados vai agravar-se. Mais civis morrerão. A Rússia tornar-se-á ainda mais paranoica e irracional. Além da punição, as autoridades russas precisam de uma saída diplomática viável que atenda às preocupações de todos os lados.

1 – LJ apresenta excertos de outros dois documentos.

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