O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO –26.1 - LINGUAGEM - I
“E para que outra coisa são pagos os tagarelas sicofantas que não sabem jogar nenhum outro trunfo científico a não ser que em suma na economia política não é permitido pensar?” (1)
“O jornalismo degradou-se. Transmite-se a mensagem de uma falsa objectividade para ocultar que os media, ao serviço da engrenagem do poder, são, com raras excepções, instrumentos de difusão da ideologia dominante. A mediocridade dos jornalistas reflecte aliás a queda do nível cultural”. (2) “Quando ouço alguém dizer “eu rezarie por ti” , sei que nada será feito.
Nos EUA repetição de ecos (echolalia) chama-se debate” (3)
“A palavra serve para esconder o pensamento” – Talleyrand.
A linguagem é um fenómeno social que permite a comunicação entre os seres humanos. A linguagem está estreitamente ligada ao pensamento e fixa nas palavras o resultado do processo mental. O materialismo dialéctico, considera a linguagem como a realidade imediata do pensamento, como a expressão real, prática, da consciência. A linguagem, é aparentemente e de certa forma indiferente às classes sociais, porém as classes sociais não são indiferentes à linguagem. Pelo contrário, cada classe, na medida em que tem consciência da sua situação e do seu papel social, procura utiliza-la em proveito próprio, procura utiliza-la em proveito próprio, procurando impor o seu próprio léxico.
A análise da linguagem leva-nos a compreender as forças que agem ou procuram agir sobre a realidade. É portanto tarefa progressista desmascarar os artifícios de linguagem destinados a criar ilusões e ficções sobre a realidade objectiva.
Um exemplo de como a linguagem reflete a seu modo relações sociais e internacionais é a decadência da palavra escrita, a perda de riqueza das línguas nacionais e a assimilação do idioma do país dominante, reflexo da submissão às suas estratégias.
Um outro aspecto da linguagem é a definição e o que se quer que os termos exprimam, como forma de à partida controlar a percepção das pessoas sobre a realidade e o debate que se estabeleça. Refere-se o “regime comunista de Havana” (o que é uma falsidade, em termos de definição do que seja o comunismo) o “regime populista de Caracas”, porém o capitalismo nunca é referido como um regime.
“Não se ouve nos media capitalistas uma comemoração pelas centenas de milhares de camaradas assassinados a sangue frio e no silêncio mediático total nas montanhas da América Central. Não se ouve nos médias uma comemoração pelos 300 000 a 500 000 membros do PKI liquidados em 3 meses na Indonésia precisamente antes das eleições que iriam ganhar. Não se ouve nos média capitalistas uma comemoração da destruição das paredes do Palácio de la Moneda. Não se ouve nos média capitalistas uma comemoração de Timor Leste”. (2)
EUFEMISMOS E FALÁCIAS
- “É preciso liberalizar os mercados de trabalho caso contrário o desemprego não se reduzirá”
- “O desemprego resulta de demasiados benefícios sociais”
Consequência – O desemprego aumentou sempre em todos os países que seguiram estes critérios. Quanto mais liberalismo mais desemprego.O desemprego resulta de procura insuficiente e de falta de investimento, o que se pode designar por ausência de medidas “contra-cíclicas”. Aquelas falsidades são “pró - cíclicas”. A falta de investimento é também consequência da livre circulação de capitais sem tributação, de sistemas financeiros dedicados à especulação, de paraísos fiscais.
- “Desenvolver a cultura da liberdade competitiva, risco e inovação”
- “Princípio da confiança nos negócios privados” “O estado intrusivo e dirigista”
- “O que é bom para os negócios é bom para a sociedade”.
Consequência – Privatização de serviços públicos e sectores económicos estratégicos, criando monopólios privados – ausência de risco e inovação. Criação do grande capital rentista – também por meio de escandalosas “parcerias” (PPP). Socialização das rendas e dos prejuízos. Saída dos lucros para paraísos fiscais. Aumento da diferença entre PIB e RN.
- “Realizar reformas”
Consequência – Trata-se da mentira institucionalizada. Representa despedimentos e supressão de direitos adquiridos pelos trabalhadores. O conteúdo das reformas foi claramente expresso por um sr. administrador: “é preciso aproveitar a oportunidade que nos oferece o FMI para realizar reformas corajosas para despedir” (falou em despedir 90% dos funcionários públicos da CMLisboa). O conceito de social não entra nos seus raciocínios, os trabalhadores são uma espécie de lixo que se atira para o caixote à vontade. O governo e os partidos “democráticos” - na opinião do sr. Mário Soares os que assinaram o doc. da “troika” - estão directa ou indirectamente ao serviço destas teses.
- “Conter gastos na saúde”
Consequência – Caminhar para o fim do conceito de cuidados de saúde como um bem social
- Políticas activas de investimento
Consequência – Impostos sobre o trabalho para pagar incentivos aos capitalistas. Fomentar a arbitrariedade patronal, ausência de controlo do Estado e de se estabelecerem directivas que defendam o interesse geral, nacional. A crise é um exemplo acabado do que move a gestão privada do grande capital.
- “Colocar o sistema superior publico a funcionar”
Consequência – O ensino é para quem poder pagar.
Conteúdos correspondentes à mistificação linguística para manipular e controlar o discurso:
Movimento sindical | Corporativismo |
Formas de aumentar a exploração capitalista e a insegurança dos trabalhadores | Reformas |
Direitos sociais conquistados pelos trabalhadores | Arcaísmos |
Deslocalizações, aumento do desemprego, exportação dos lucros | Mercado a funcionar |
Fomentar a monopolização da economia e a penetração das transnacionais | Promover a eficiência |
Repressão e espoliação dos trabalhadores | Medidas corajosas e responsáveis |
Fomentar a arbitrariedade patronal e a concorrência entre os próprios trabalhadores na sua luta pela sobrevivência. | Flexibilizar e racionalizar o mercado de trabalho |
1 - Carta de Marx a Ludwig Kugelmann Londres, 11 de Julho de 1868
3 - To Be Anti-United States is to be Pro-American - 19 Aphorisms to Jaundice Your Day - By Christopher Ketcham www.counterpunch.org – Julho.2008
A seguir – Linguagem II
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