Os povos estão a pagar a especulação feita pelos bancos
Cecile C.
Mais
uma etapa para o afundamento
Os
bancos europeus vão mal, não é segredo para ninguém. Mas porquè?
Porque têm no cofre activos que só valem amendoins. Nesta altura
fala-se muito de obrigações soberanas – as instituições
bancárias são efectivamente grandes compradoras de dívidas
soberanas – se bem que quase se esquece que não são os únicos
activos tóxicos que possuem.
Os
bancos europeus continuam com efeito carregados de pedaços de "A" "tóxicos" e de produtos derivados, estes os mesmos que
engendraram a crise de 2008. Na verdade, agora isso parecia bem
longe, mas os bancos nunca conseguiram apagar da sua contabilidade
essas perdas latentes.
A
acumulação dessas más compras é fatal para os bancos europeus. A
cada nova degradação de um Estado, os bancos que detêm essas
obrigações perdem valor e sancionados pelos mercados.
O
coração do problema: o financiamento
O
principal problema para os bancos é hoje refinanciarem-se. Porque os
bancos mais não fazem que emprestar, eles pedem emprestado também
(para emprestar de novo...). Ora desde há vários meses, os
empréstimos inter-bancários estão em ponto morto. Como repetimos
várias vezes, quem melhor que um banco para conhecer a saúde de um
outro banco. Os banqueiros não são (completamente) descerebrados:
têm plena consciência que emprestar aos seus colegas não é boa
ideia.
Os
bancos europeus têm pois de encontrar outras fontes de
financiamento. Até ao presente, podiam contar com o apoio de fundos
americanos. Mas desde há alguns dias, estes fogem.
O
exemplo do UniCredit
O
caso do banco italiano UniCredit é revelador. Ele detém mais de
1.200 biliões de euros de activos (os créditos que possui, etc.).
Mas apenas possui 74 biliões de fundos próprios (isto é, a sua
reserva). O que nos dá um ratio de 24/1. Ora, segundo as regras
fixadas por Basileia II, os fundos próprios de um banco devem
normalmente atingir 8% dos activos. UniCredit está bem abaixo das
regras com 4,1% de fundos próprios.
Uma
perda de 4% do valor dos seus activos significa pois a falência do
UniCredit. Uma baixa de 10% dos seus activos – o que é fortemente
provável dado que a Itália é o terceiro maior emissor de dívida
soberana no mundo e que os bancos italianos são os principais
detentores desta dívida – implicaria perdas potenciais de mais de
100 biliões de euros.
Mas
o problema não pára aqui. De todos os grandes bancos europeus,
UniCredit é o que mais terá de refinanciar-se em 2012. Terá que
encontrar 51 biliões de euros. Junto de quem obterá esse dinheiro?
Não do Estado italiano que já está sob o fogo cruzado dos mercados
e da União Europeia por causa do seu endividamento. UniCredit deve
pois emitir obrigações... e encontrar compradores, que se fazem
desejar. Actualmente, ele obtém emprestado a uma taxa bem superior à
sua A2 (qualidade média superior) oficial de acordada pela Moody's.
Na prática, ele obtém emprestado como se tivesse a nota B1 (muito
especulativo).
Com
um tal custo de empréstimo, UniCredit não pode verdadeiramente
esperar fazer lucros. Aliás, a banca italiana já registou perdas de
14,3 biliões de euros no último trimestre.
Itália,
Europa, o mesmo combate
O
exemplo do UniCredit é característico mão não é único. Entre os
bancos a quem hoje se aponta do dedo como perigosos pelos analistas e
agências de notação, encontram-se vários grandes bancos franceses
como a Société Générale, Crédit Agricole ainda BNP Paribas.
Como
para o UniCredit, a questão do seu financiamento é crucial. Les
Echos
nos revelam que os bancos franceses tiveram que fazer apelo à ajuda
do BCE em Outubro: "Segundo as últimas estatísticas do Banco
de França, [os bancos franceses] tiveram de pedir emprestado 100
biliões ao Banco central em Outubro, ou seja mais de três vezes
mais do que há dois meses ou que há um ano (36 biliões em Agosto,
e 33 biliões em Outubro 2010). O recurso à liquiditêz da BCE
ultrapassou mesmo o dos bancos espanhóis". Ora conhecemos o
estado de saúde catastrófico dos bancos espanhóis...
O
contágio ao sistema mundial
Ao
nível mundial, é tudo igualmente inquietante. Os bancos europeus
detêm 55.000 biliões de euros de activos. É tanto quanto o total
da dívida americana (do Estado, dos particulares e das empresas
reunidas). O sistema bancário europeu é quatro vezes maior que o
seu equivalente americano.
Os
Estados Unidos estão largamente expostos ao risco bancário europeu.
Em Setembro, 37% dos 1.500 biliões de dólares detidos pelos fundos
monetários americanos estavam investidos em obrigações bancárias
europeias e nos CDS (os seguros contra o risco de falência) destes
bancos.
Pensam
que os Estados Unidos se podem permitir perder estes 500 biliões de
dólares investidos na Europa ?...
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