Perante o
repúdio generalizado pela política alemã, os comentadores de serviço têm-se apressado
a sair em sua defesa e a criticar os portugueses. Merkel em visita de suserania
vem a Portugal. Passos-Gaspar e Cavaco, curvam-se em sinal de obediência. Para
eles a Alemanha – entenda-se: a finança alemã - estaria a sacrificar-se por
todos nós. Como isto é parecido com os tempos do fascismo na Europa: também os
de cá e não só propagandeavam que a Alemanha, agredindo e massacrando outros
povos, estava a defender “a civilização do ocidente”. Hoje os argumentos para
as agressões imperialistas (Jugoslávia, Iraque, Afeganistão, Líbia, Síria,
etc.) não são muito diferentes.
Já foi dito há
muito, que quem dominasse Berlim dominava a Europa. O verdadeiro sinal para a
2ª guerra mundial, foi o Anchluss – a anexação da Áustria – tal como a atual
guerra económica, financeira, social, cultural, contra os povos da Europa foi desencadeada
pela anexação da RDA. Estavam destruídos os equilíbrios europeus; atrás da
cegueira anticomunista veio a cegueira neoliberal. Os tratados da UE foram
sucessivos Munique, até ao verdadeiro ato de rendição (equivalente ao de
Compiégne em 40) perante o poder económico e financeiro da Alemanha, o
“Mecanismo Europeu de Estabilidade” (MEE). Nem a França consegue cumprir estes
critérios que aplicam penalizações de forma automática sem direito de apelo
pelos países. O euro que não é uma moeda comum –nunca foi – tornou-se uma arma
de agressão aos povos.
A Alemanha instituiu
o seu 4º Reich. Não há nenhum diretório. A França faz o papel de pouco mais que
peão, ao sabor dos interesses financeiros dominantes. Há um núcleo duro,
Alemanha e seus satélites privilegiados – os mesmos que no passado – Áustria,
Holanda, Finlândia. A Itália já se rendeu e o resto dos países está
praticamente de rastos, são tratados como protetorados, e o que está em curso,
vai torna-los meras colónias. Veja-se o que ocorre com a Grécia, Portugal vai
na mesma via.
O BCE
desempenha hoje um papel semelhante ao do Reich Bank da 2ª guerra, com uma
moeda própria (o reich mark) para circulação entre os países dominados, era o
instrumento da espoliação dos recursos destes países em nome da “Gross Deutschland”
e da “defesa do ocidente”. Hoje a Alemanha obtém juros à taxa do BCE ou ainda
inferiores, os dominados pagam 5, 6, 7 ou mais vezes. Será isto uma UE?
Recordemos
ainda que o grande capital dos países dominados pelo fascismo não deixou de lucrar com a
guerra, pondo-se ao serviço da agressão alemã. São casos exemplares- entre
muitos outros - a Renault em França, o Espirito Santo em Portugal.
Mas a Alemanha
tal como no passado já perdeu a guerra. O descalabro que de todos os pontos de
vista atinge a UE mostra que a Alemanha não tem capacidade para suportar o euro e para gerir a UE. Os reflexos na sua própria
economia e condições sociais são evidentes, de nada serviram ao povo alemão os
enormes excedentes acumulados à custa demais “parceiros” (?!) da UE. (1) A austeridade
não passa de uma fuga para a frente, semelhante à que anunciavam após a derrota
em Estalinegrado: “Sie strarben damit Deutschland lebe“ “Eles morreram para que
a Alemanha viva”. Em agosto de 43 – após Kursk - era evidente a derrota, mas Goebels,
vociferava ameaças de “guerra total”.
A austeridade
permanente que os tratados impõem, não passa de um grito desesperado para
defender o euro, sem o qual a Alemanha se afunda no panorama da competição
mundial. Já não há na Europa uma economia para defender o euro. A austeridade
era para 2 anos, depois 5, fala-se em 30 e a OCDE diz que salários têm de
ser reduzidos de uns 30%.
A persistente
irracionalidade e fanatismo de gente como Gaspar-Coelho, Rojoi, Barroso, Monti,
Dragi, etc. faz rir do outro lado do Atlântico. Para eles é a História a
repetir-se como farsa, para nós a tragédia continua. Até o FMI critica as
políticas da UE e Stiglitz diz que não se vai resolver nada, que a Europa
mergulha na depressão e na destruição do “capital humano” e que se não
resolvendo os atuais problemas resta abandonar o euro. (Visão 08.nov.2012) Para
Gaspar- Passos e Portas, porém estamos no” bom caminho”…
Tal como no
passado para derrotar esta gente – uma vez o mal feito – foi preciso muita luta
e muitos sacrifícios, mas só assim se conseguiu encetar um caminho de
progresso. Assim terá de ser.
1 – Em 2008 apenas 18
países da UE eram deficitários; a Alemanha e a Holanda detinham 78% do saldo
positivo, que aumentara 51% entre 2003 e 2008; 91% do saldo positivo
concentrava-se em mais 5 países todos estreitamente ligados à economia alemã.