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23 de novembro de 2012

A ALEMANHA JÁ PERDEU A GUERRA (analogias…)


Perante o repúdio generalizado pela política alemã, os comentadores de serviço têm-se apressado a sair em sua defesa e a criticar os portugueses. Merkel em visita de suserania vem a Portugal. Passos-Gaspar e Cavaco, curvam-se em sinal de obediência. Para eles a Alemanha – entenda-se: a finança alemã - estaria a sacrificar-se por todos nós. Como isto é parecido com os tempos do fascismo na Europa: também os de cá e não só propagandeavam que a Alemanha, agredindo e massacrando outros povos, estava a defender “a civilização do ocidente”. Hoje os argumentos para as agressões imperialistas (Jugoslávia, Iraque, Afeganistão, Líbia, Síria, etc.) não são muito diferentes.
Já foi dito há muito, que quem dominasse Berlim dominava a Europa. O verdadeiro sinal para a 2ª guerra mundial, foi o Anchluss – a anexação da Áustria – tal como a atual guerra económica, financeira, social, cultural, contra os povos da Europa foi desencadeada pela anexação da RDA. Estavam destruídos os equilíbrios europeus; atrás da cegueira anticomunista veio a cegueira neoliberal. Os tratados da UE foram sucessivos Munique, até ao verdadeiro ato de rendição (equivalente ao de Compiégne em 40) perante o poder económico e financeiro da Alemanha, o “Mecanismo Europeu de Estabilidade” (MEE). Nem a França consegue cumprir estes critérios que aplicam penalizações de forma automática sem direito de apelo pelos países. O euro que não é uma moeda comum –nunca foi – tornou-se uma arma de agressão aos povos.
A Alemanha instituiu o seu 4º Reich. Não há nenhum diretório. A França faz o papel de pouco mais que peão, ao sabor dos interesses financeiros dominantes. Há um núcleo duro, Alemanha e seus satélites privilegiados – os mesmos que no passado – Áustria, Holanda, Finlândia. A Itália já se rendeu e o resto dos países está praticamente de rastos, são tratados como protetorados, e o que está em curso, vai torna-los meras colónias. Veja-se o que ocorre com a Grécia, Portugal vai na mesma via.
O BCE desempenha hoje um papel semelhante ao do Reich Bank da 2ª guerra, com uma moeda própria (o reich mark) para circulação entre os países dominados, era o instrumento da espoliação dos recursos destes países em nome da “Gross Deutschland” e da “defesa do ocidente”. Hoje a Alemanha obtém juros à taxa do BCE ou ainda inferiores, os dominados pagam 5, 6, 7 ou mais vezes. Será isto uma UE?
Recordemos ainda que o grande capital dos países dominados pelo fascismo não deixou de lucrar com a guerra, pondo-se ao serviço da agressão alemã. São casos exemplares- entre muitos outros - a Renault em França, o Espirito Santo em Portugal.
Mas a Alemanha tal como no passado já perdeu a guerra. O descalabro que de todos os pontos de vista atinge a UE mostra que a Alemanha não tem capacidade para suportar o euro e para gerir a UE. Os reflexos na sua própria economia e condições sociais são evidentes, de nada serviram ao povo alemão os enormes excedentes acumulados à custa demais “parceiros” (?!) da UE. (1) A austeridade não passa de uma fuga para a frente, semelhante à que anunciavam após a derrota em Estalinegrado: “Sie strarben damit Deutschland lebe“ “Eles morreram para que a Alemanha viva”. Em agosto de 43 – após Kursk -  era evidente a derrota, mas Goebels, vociferava ameaças de “guerra total”.
A austeridade permanente que os tratados impõem, não passa de um grito desesperado para defender o euro, sem o qual a Alemanha se afunda no panorama da competição mundial. Já não há na Europa uma economia para defender o euro. A austeridade era para 2 anos, depois 5, fala-se em 30 e a OCDE diz que salários têm de ser reduzidos de uns 30%.
A persistente irracionalidade e fanatismo de gente como Gaspar-Coelho, Rojoi, Barroso, Monti, Dragi, etc. faz rir do outro lado do Atlântico. Para eles é a História a repetir-se como farsa, para nós a tragédia continua. Até o FMI critica as políticas da UE e Stiglitz diz que não se vai resolver nada, que a Europa mergulha na depressão e na destruição do “capital humano” e que se não resolvendo os atuais problemas resta abandonar o euro. (Visão 08.nov.2012) Para Gaspar- Passos e Portas, porém estamos no” bom caminho”…
Tal como no passado para derrotar esta gente – uma vez o mal feito – foi preciso muita luta e muitos sacrifícios, mas só assim se conseguiu encetar um caminho de progresso. Assim terá de ser.
1 – Em 2008 apenas 18 países da UE eram deficitários; a Alemanha e a Holanda detinham 78% do saldo positivo, que aumentara 51% entre 2003 e 2008; 91% do saldo positivo concentrava-se em mais 5 países todos estreitamente ligados à economia alemã.

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