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24 de janeiro de 2013

A Ida aos mercados

Tradução.



A ÁRVORE QUE ESCONDE A FLORESTA, por François Leclrerc

Blog de P:J:


Mais do que qualquer outro país europeu, é a Itália que melhor ilustra a metáfora da árvore que esconde a floresta, nestes tempos de calma. O Tesouro italiano multiplica as emissões de obrigações para melhor aproveitar do abaixamento nas taxas. Já conseguiu financiar 10% das suas necessidades para o ano (420 biliões de euros) e esforça-se para prolongar o vencimento da sua dívida para a tornar menos vulnerável a tensões futuras, uma vez que já atingiu 126% do PIB. Mario Monti, em força na sua campanha eleitoral, usa o argumento para dizer que o pior da crise financeira já passou, reconhecendo que não é esse o caso da crise econômica. Tudo está lá!


A economia italiana mostra com efeito uma degradação lenta e irresistível, no contexto europeu recessivo actual e sob os efeitos das medidas de austeridade tomadas por Mario Monti. Para atingir os objectivos de redução do défice implicará ainda adoptar novas medidas, dado que estão em falta 9000 milhões a partir do orçamento deste ano. Desde Abril de 2008, a produção industrial caiu 24,9% e registou-se uma contração de 3,4% no crédito de Novembro de 2011 a 2012, afectando mais particularmente as empresas. O poder de compra dos italianos caiu 4,1% durante os primeiros nove meses de 2012 (em comparação com o mesmo período de 2011) e 1,9% em apenas três meses, devido ao aumento de impostos e taxas. A taxa de desemprego vai chegar a 12% em 2014, segundo o Banco da Itália. É certo que a situação social na Itália não é o da Espanha, Portugal e Grécia, mas isso deve-se à importância da sua economia informal, que faz de colchão.


Agora a palavra é dos líderes políticos, enquando se aguarda a dos eleitores no final de Fevereiro. Enquanto a campanha de Berlusconi cresce em força, recusando as medidas de austeridade e preconizando a intervenção do BCE para garantir a dívida europeia a de Mario Monti demoniza a perspectiva de um resgate e propõe um programa de reforma pondo o ênfase em medidas de privatização e liberalização, acompanhadas por uma maior flexibilidade do mercado de trabalho, mais cauteloso nas medidas de austeridade. O programa de Pier Luigi Bersani, o candidato de centro-esquerda, que vai à frente na corrida, parte de um grande acordo que trocaria poderes ao nível europeu e perda de soberania contra uma diminuição da austeridade e a adopção de medidas contra-cíclicas de relance. Um caminho estreito e rastreado, feito da continuação das reformas do Estado e de negociações entre sindicatos e líderes empresariais a favor de um crescimento moderado financiados pelo Banco Europeu de Investimento para apoiar o mercado interno. Mas é preciso dois para dançar o tango, como diz a velha expressão, e convencer o parceiro alemão …


Continua a recomposição da paisagem política italiana, mas ela não oferece uma solução para os problemas do país. O advento de um governo de centro-esquerda, que poderia assinar de uma forma ou de outra, um pacto com Mario Monti é esperado pelos meios dos negócios italianos e autoridades europeias. Mas ele não cria grande margem de manobra porque vai enfrentar a necessidade de uma desvalorização interna, á qual em breve terá de se resignar. Deste ponto de vista, o governo saído das eleições terá de enfrentar uma situação semelhante à do governo francês que foi levado a tomar medidas contrárias às inclinações do seu eleitorado.
O tempo que vai levar o desendividamento é uma questão que ultrapassa o destino da Itália e da Europa. A sua progressão está sujeita a percalços de percurso inevitáveis ​​e depende de conseguir um superávit orçamental primário, a menos que aceite que os balanços dos bancos centrais continuem a inchar demais, ou se envolva numa política de reestruturação da dívida. Este superávit fiscal está em vias de se tornar o índice para acompanhar melhor a crise, de que a frágil existência está sujeita aos efeitos negativos da recessão causada pelas medidas de austeridade. Em dez anos, a dívida global privada e pública aumentou de 80 para 200 mil milhões de dólares, o que representa um crescimento de 11% ao ano, muito maior do que o PIB mundial, que é actualmente de 70.000 biliões de dólares. Os balanços dos bancos centrais por sua vez aumentaram 16% no mesmo período, de acordo com Hayman Capital, um fundo de hedge dos EUA que se tornou famoso por apostar com sucesso no colapso do mercado subprime (*). Não é preciso procurar muito para compreender que o sistema se tornou numa máquina para produzir dívida e já foi longe demais. É que pegar na questão somente sob o ângulo da dívida pública é uma piada de mau gosto. A Itália não é excepção e continua ainda a representar a mais perigosa espada de Dâmocles sobre a zona euro.
Trad:
Margarida S.

(*) Com a ajuda de CDS (Credit-Default Swaps) "nus" (sem exposição real ao risco) em títulos lastreados em empréstimos subprime da pior qualidade.


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