A notícia de amanhã: uma divisão
política que se amplia, por François Leclerc
11
Janeiro 2013 por FRANÇOIS
LECLERC |
Do blog de PJ.
Os líderes europeus mudaram as
suas expectativas e, não mais esperando mais ver pequenos brotos
verdes de crescimento, procuram sinais no céu. Acampados num terreno
que eles conhecem e gerem melhor do que as finanças, porque é o
deles, o terreno da política tal como eles a praticam.
Há dois marcos importantes pela
frente: as legislativas italianas em Fevereiro precipitadas por causa
de Silvio Berlusconi e as eleições alemãs agendada para o próximo
Outono. Ambos são portadores de incerteza: a vitória do Partido
Democrático italiano poderia levar a uma aliança com Mario Monti,
enquanto Angela Merkel seria forçado a formar uma grande coligação
com o SPD por causa da queda do FDP. As condições políticas
estariam então reunidas, pelo menos no papel, para que uma mudança
na estratégia actual de desendevidamento pudesse enfim ter lugar. A
campanha eleitoral italiana já decorre sobre um fundo de acusações
e promessas de alívios do sistema fiscal.
Estando fechada
a pista de um relançamento com base em créditos novos - como
evidenciado pela re-afectação estudada pelo último seminário do
governo francês - que flexibilidades poderiam intervir? Em primeiro
lugar aquelas que se impuseram de qualquer maneira, para começar,
por exemplo como a extensão do cronograma de redução do défice em
Portugal, desencadeando um movimento mais amplo. Em segundo lugar
podia ser feito uma concessão à Irlanda, de que a Espanha em
seguida poderia beneficiar e que Jean-Claude Juncker sugere, no
testamento vingativo do até ontem líder
do Eurogrupo: uma retroactividade de assistência financeira directa
aos bancos aliviando os orçamentos dos Estados. A Irlanda também
espera poder beneficiar do programa de compra de títulos do BCE
(OMT). Mas está-se muito longe de tudo isto.
Enquanto isso, sinais de uma
distensão frágil são declarados ou enviados pelo BCE: no mercado
das obrigações, as taxas espanholas caem e multiplicam-se rumores
de pagamentos antecipados por alguns bancos de empréstimos do BCE a
três anos. Este também decidiu manter a sua taxa de juro a 0,75%,
registando uma "melhoria significativa das condições nos
mercados financeiros" e "uma estabilização geral de
certos indicadores de conjuntura." Será que estamos no caminho
para a normalização? Seria demasiado rápido dizer isso, porque as
medidas já tomadas continuam a produzir os seus efeitos sobre o
impulso. E se o governo espanhol aproveitou a calmaria que continua
no mercado de títulos, ele não introduziu mais cláusulas de ação
colectiva quando da emissão afim de facilitar qualquer posterior
reestruturação de sua dívida.
O Banco de França acaba de
confirmar que a França tinha entrado em recessão, uma redução de
0,1% do PIB foi registada nos dois últimos trimestres de 2012. A
publicação na imprensa portuguesa das conclusões de um relatório
encomendado pelo governo ao FMI, ao Banco Mundial e à Comissão
Europeia produziu o efeito de um tiro de canhão no país. Aí se
recomenda a redução do número de funcionários, bem como as suas
reformas e salários no período de 2013-2014, de modo a fazer
economias de 4.000.000.000 de euros. Isso no contexto da adopção de
um orçamento de 2013 que já prevê 5,3 biliões em poupanças, daí
que o Tribunal Constitucional a pedido do presidente Aníbal Cavaco
Silva tenha sido convocado.
De acordo com a ESA, a autoridade
estatística grega, o desemprego num ano passou de 19,7% a 26,8% da
população activa (mais de 56% dos jovens), o que corresponde a
1,345 milhões de desempregados. Mas é a pedrinha cipriota que fere
os líderes europeus, os bancos do país sofrem os efeitos do colapso
dos seus colegas gregos. Resgatar o país é inevitável, mas tudo é
apresentado para poderem arrastar no tempo. Nem o FDP nem o SDP
estariam prontos para o adoptar no Bundestag, antes de verem com mais
clareza as operações de branqueamento de que Chipre é uma placa
geratória, o que torna impossível a sua adopção.
Em Espanha, finalmente, os bancos
com resgate em curso continuam sempre a chamar a atenção sobre
eles, mas de uma nova maneira: milhares de funcionários do bancos
ameaçados por demissões massivas manifestam-se sobre o tema "não
somos banqueiros, mas trabalhadores! ". Rodrigo Rato,
ex-director-geral do FMI, ex-ministro e dirigente do Bankia, foi
levado à justiça por fraude e desvio de fundos, enquanto o Banco de
Espanha é duramente criticado num relatório dos inspectores do
banco central citado pelo El País, segundo o qual os controladores
tinham apanhado o hábito de não ver o que estava acontecendo no
setor bancário, olhando para o lado.
No capítulo dos escândalos, os
da Libor e Euribor fumegam. Ex-empregados têm questionado o Deutsche
Bank pela especulação maciça no primeiro destes índices e o banco
holandês Rabobank, que foi identificado como sendo alvo de uma
investigação, decidiu retirar-se do painel de instituições que
ainda continuam a fixar a Euribor. Aconteceu o mesmo com o banco
alemão BayernLB. Espera-se uma comunicação da Comissão, que
tarda, após a sua investigação.
A crise própriamente financeira
estabilizou-se provisoriamente sob os auspícios do BCE, é a sua
dimensão económica que prevalece, no contexto de um aprofundamento
da sua dimensão social e política. A alternância não é mais
promissora de mudança, instaurou-se uma desafecção da vida
política, as negações são moeda corrente e a corrupção uma
prática estabelecida, minando a credibilidade de um discurso
político que coloca a sua inspiração nos recursos de comunicação.
A fractura era social, tornou-se política. A margem de manobra que
os dirigentes esperam encontrar não a reduzirá tão facilmente.
Tradução de Margarida Silva
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