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9 de julho de 2018

A subordinação à NATO

Recusando-se imediatamente a assumir a sua independência perante os Estados Unidos e a submeter-se à influência dos contestatários europeus, um grupo de Estados liderados pela França optou por reforçar a sua subordinação à NATO.
Duas Cimeiras, ambas em Bruxelas, num espaço de duas semanas, representam a condição da situação europeia.
A reunião do Conselho Europeu, em 28 de Junho, confirmou que a União, baseada nos interesses das oligarquias económicas e financeiras, relativos às grandes potências, está a desmoronar-se devido a conflitos de interesses e não apenas devido à questão dos migrantes.
O Conselho do Atlântico Norte – no qual participarão, em 10 e 11 de Julho, os Chefes de Estado e de Governo dos 22 países da UE (num total de 28) membros da Aliança (com a Grã-Bretanha de saída da União) - reforçará a NATO sob comando USA.
O Presidente Trump terá, assim, na mão, cartas mais fortes na Cimeira bilateral que acontecerá cinco dias depois, a 16 de Julho, em Helsínquia, com o Presidente Vladimir Putin, da Rússia. O que o Presidente dos EUA estabelecerá na mesa de negociações dependerá fundamentalmente da situação da Europa. Não é segredo que os EUA nunca quiseram uma Europa unida como aliada paritária. Durante mais de 40 anos, aquando da Guerra Fria, têm-na mantido subordinada e na primeira linha de confronto nuclear com a União Soviética.
Em 1991, acabada a Guerra Fria, os Estados Unidos temem que os aliados europeus possam questionar a sua liderança ou considerar a NATO como inútil, ultrapassada pela nova situação geopolítica. Daí a reorientação estratégica da NATO, sempre sob comando USA, reconhecida pelo Tratado de Maastricht como “fundamento da defesa" da União Europeia e o seu alargamento para Leste, ligando os antigos países do Pacto de Varsóvia ainda mais a Washington do que a Bruxelas.
Durante as guerras pós-Guerra Fria (Iraque, Jugoslávia, Afeganistão, novamente o Iraque, Líbia, Síria), os Estados Unidos negociam em segredo com as principais potências europeias (Grã-Bretanha, França, Alemanha) repartindo com elas, áreas de influência, enquanto das outras (incluindo a Itália) conseguem o que querem sem concessões consideráveis.
O objectivo fundamental de Washington é não só manter a União Europeia numa posição subordinada, mas, sobretudo, impedir a formação de uma área económica que abranja toda a região europeia, incluindo a Rússia, ligando-se à China através da Nova Rota da Seda que está a surgir. Daí, em 2014, com a crise na Ucrânia (durante a Administração Obama), a nova Guerra Fria que fez explodir na Europa, sanções económicas e a escalada da NATO contra a Rússia.
A estratégia de "dividir e reinar", isto é, de dividir para dominar, primeiro disfarçada sob roupagens diplomáticas, está agora exposta à luz.
Ao reunir-se em Abril com o Presidente Macron, Trump propôs que a França saísse da União Europeia, oferecendo condições comerciais mais vantajosas do que as da União Europeia. Não sabemos o que estão a decidir em Paris. É significativo, contudo, o facto de que a França tenha lançado um plano que prevê operações militares conjuntas de um grupo de países da UE, independentemente dos mecanismos de decisão da própria União Europeia: o acordo foi assinado em Luxemburgo, em 25 de Junho, pela França, Alemanha, Bélgica. Dinamarca, Holanda, Espanha, Portugal, Estónia e pela Grã-Bretanha, que assim, poderá participar após a sua saída da UE, em Março de 2019.
A Itália, especificou a Ministra da Defesa francesa, Parly, ainda não assinou por “uma questão de detalhes, não de substância”.
O plano foi, de facto, aprovado pela NATO, pois "completa e fortalece a prontidão das forças armadas da Aliança". E, sublinha a Ministra da Defesa italiana, Trenta, visto que “a União Europeia deve tornar-se um produtor de segurança a nível global; para fazê-lo, deve reforçar a sua cooperação com a NATO ".

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