O QUE SERÁ, QUE SERÁ… Agostinho Lopes
Há um mistério nos órgãos de comunicação social portugueses. Continua a não se perceber, a ausência notícias sobre o Partido Trabalhista do Reino Unido, e sobretudo do seu líder Corbyn (1). Não há dia que dali, do reino de sua majestade, não venha qualquer coisa. Mais um ataque dos russos com novichok, as aflições da srª primeira-ministra, com o brexit e outros «exit», sobretudo de ministros do seu governo, mais um descendente real, com direito quase que ao parto em directo, e de Corbyn, zero. Mesmo aqueles jornais que passaram muitos dias, lá mais para trás, a massacrarem o homem, zero. Perdão. Teve direito a uma chamada de atenção, quando se lembrou de perguntar à Srª May, onde estavam as provas do ataque russo ao espião russo, que afinal era um espião inglês! E também, quando (uma história mal contada), uns membros do Partido se lembraram de atacar o sionismo e o Corbyn passou a ser uma espécie de Hitler! Aterrada, em pânico, Teresa de Sousa logo foi esclarecer o problema entrevistando Chis Patten, velho líder conservador e ex-Comissário Europeu, que logo a esclareceu: «Mas há creio eu, tanto na extrema-esquerda como na extrema-direita do sistema político britânico, traços de antisemitismo. Não creio que seja um problema enorme, mas reconheço que é um grande embaraço para o Labour e para o seu líder». Pega que já almoçaste. Os nossos henriques, o monteiro e o raposo, e mesmo o excelso Francisco Assis, não diriam melhor. Pelo meio, tivemos ainda a notícia via Lusa/Público (29ABR18): «Milhares de contas do Twitter com ligações à Rússia ajudaram Jeremy Corbyn» nas eleições de 2017. O Putin é assim um “mãos largas”, mas justo, não olha quem ajuda. Nos EUA apoia a direita de Trump, no Reino Unido, a “extrema-esquerda” de Corbyn! Nem a vinda de Corbyn a um conclave dos partidos sociais-democratas e socialistas em Lisboa mereceu qualquer relevo. Soube-se que esteve cá, porque apareceu nas imagens noticiosas de algumas televisões. Nem uma entrevistazinha! Por seu lado, o seu camarada, 1º Ministro António Costa foi a Londres, e ainda hoje se está por saber, se teve algum encontro oficial ou oficioso, com o sr. Corbyn! Admirável!
Muitas notícias sobre o Trump em Londres. Sobre o chá com sua majestade. Sobre os lapsos de protocolo. Sobre um balão que nos ares de Londres, dava uma imagem melhorada do Trump. Sobre o discurso de Corbyn nas manifestações de contestação a tal presença, zero!
Mas haja esperança. Agora que no dia 14 de Julho, foi publicada uma sondagem que põe o Labour com 40% nas intenções de voto, 4 pontos acima dos Conservadores com 36%, não vão tardar as notícias! Não foi notícia no dia 15, nem a 16, nem a 17,… talvez, lá para o dia de S. Nunca… O correspondente do Público, António Saraiva Lima, que a 1 de Abril, na onda do “anti-semitismo do Labour” se alegrava: «O clima de optimismo em redor de Jeremy Corbyn dá sinais de estar a desvanecer-se aos poucos», é que vai ter algumas dificuldades…
O que será, que será, que provoca esta cegueira persistente, este esquecimento doentio, esta distorção visual e auditiva?
Será pelo facto desse Partido Trabalhista, à revelia, ao contrário, dos seus partidos irmãos do continente, apresentar um programa contra o neoliberalismo, onde se defende o resgate e reforço financeiro do “NHS”, o celebrado SNS britânico, e o mesmo para a Escola Pública, com o aumento dos salários dos professores, menos alunos por sala e o fim das propinas; reverter o aumento da idade de reforma e um tecto para a factura energética das famílias; afirmar a necessidade de mais impostos para os ricos e as grandes empresas; defender a renacionalização dos correios, da ferrovia, da energia; por criticar a NATO e estar contra os misseis nucleares Trident, pelo desarmamento e pela paz!
Será pelo facto, de em consequência dessas opções políticas, o Partido Trabalhista britânico aparecer numa Europa onde a social-democracia desfalece ou desaparece, reforçando-se em aderentes (há quem diga que é o maior partido da Europa), influência social (incluindo jovens e sindicalistas) e eleitoral? Será porque apesar de todos os maus augúrios e notícias, Corbyn permanece vivo e de pé?
Mistério!
(1) Declaração de interesses (mais uma vez): não sou social-democrata, nem estou filiado no Partido Trabalhista (para os anglófilos, no Labour).
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