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6 de dezembro de 2019

O capitalismo não é verde

Extratos da intervenção de Rui Salgado , físico metereologista e docente Universitário , no Seminário O Capitalismo não é verde
(...)Muito antes de Al Gore, muito antes de outros, agora politicamente correc-
tos políticos do capital, Fidel de Castro tinha chamado a atenção para a ques-
tão. Há intervenções mais antigas, mas em 1991, num memorável discurso
após a queda da União Soviética, na
fase mais dramática do período especial, Fidel diz:«Entre los enormes daños que el capi-
talismo ha hecho a la humanidad, no
solo está el Tercer Mundo, no solo está el mundo subdesarrollado, no solo están los miles de millones de gente que viven em la pobreza – y em una pobreza que crece, em una pobreza cada
vez mayor, sino que ha deteriorado  la naturaleza, ha destruido el medio ambiente,(...) ha creado los problemas del efecto invernadero que muchos cientificos dicen que es ya irreversible, el
fenómeno del calentamiento de la tierra por excesso del consumo de combustibles fósile».

A questão do aquecimento global é recorrente nas intervenções de Fidel,

sendo muito conhecida a sua intervenção na Conferência do Rio de Janeiro,

em 1992, em que acusa as sociedades capitalistas de terem «envenenado los
mares y rios, han contaminado el aire, han debilitado y perforado la capa de
ozono, han saturado la atmosfera de gases qie alteran las condiciones cli-
máticas com efectos catastróficos que ya empezamos a padecer».
Em outras intervenções explica que são os pobres os mais afectados pelas
alterações climáticas: «Los primerosem sufrir las consecuencias de la
afectación del medio ambiente son los pobres.No poseen automóviles, ni aires
acondicionados, posiblementeni siquiera muebles, si es que disponen de vivienda.
Sobre ellos caen más directamente los efectos de las grandes emanaciones de dióxido de carbono causantesdel calentamiento de la atmósfera».
E que é necessário ampliar a luta: «Sin embargo, la conciencia del mortal
peligro crece. Debe crecer y crecerá la lucha. No hay alternativa»
Tal como Fidel afirma, os efeitos das alterações não são iguais para todos.

Não são iguais para todas as classes sociais. Mas também não são iguais para

todas as regiões do mundo.Em particular, uma das regiões onde
os efeitos podem ser mais fortes é a região do Mediterrâneo que, em ter-
mos climáticos, inclui Portugal. Exactamente porque estamos numa zona de transição, e temos o deserto mesmo aqui a uma centena de quilómetros
para Sul. Uma ligeira (do ponto de vis-a do planeta) deslocação para Norte
das trajectórias dos sistemas frontais(desculpem-me a gíria), que são a prin-
cipal fonte de precipitação nesta região, pode dar origem a uma diminui-
ção acentuada da precipitação na nossa região, e em particular, no Sul de
Portugal.
As estimativas sobre o aumento da temperatura média global devidas ao
aumento da concentração de gases de efeito de estufa têm uma margem

de erro muito inferior ao das projecções existentes sobre as alterações no

domínio da precipitação, até porque estas dependem ainda mais fortemente

das circulações atmosféricas e do local onde nos encontramos. No entan-
to, todos os estudos projectam uma diminuição da precipitação na região

mediterrânica. Em Portugal, os estudos indicam que, nos piores cenários,

a precipitação pode diminuir de 20 a 40% no Alentejo e Algarve e que a di-
minuição vai ser mais acentuada na Primavera.
Os planos de desenvolvimento devem ter em conta o clima e as alterações
climáticas. Em particular, no que nos diz respeito, devemos ter em atenção
que a disponibilidade de água vai tender a diminuir e não aumentar. Portanto,

devemos defender e planear o desenvolvimento de culturas menos exigen-
tes do ponto de vista da água e, claro,

aumentar e não diminuir, como alguns irresponsavelmente defendem, a cria-
ção de novas albufeiras onde só se «perderia» para o mar se estas não
existissem.

No quadro do capitalismo será possível encontrar soluções que minimi-
zem os efeitos das alterações climáticas e, claro, ainda mais facilmente, so-
luções de adaptação (o conceito mais em voga actualmente e para o qual
existem mais financiamentos) às novascondições climáticas. Como para tudo,

serão soluções que serão implementadas à custa das grandes maiorias,

dos humildes e dos explorados e, no caminho, contribuirão para enriquecer os

de sempre, os capitalistas, os primeiros responsáveis pelo aquecimento

global. Mas o capitalismo, pela sua natureza, não poderá nunca resolver a contra-
dição e entre capital e trabalho e ente o seu modo de produção e a natureza,
incluindo o clima.
O combate às alterações climáticas é
também um combate de classe, à qual
pertencemos ou pela qual optámos.(...)

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