Linha de separação


13 de outubro de 2021

Cimeira da NATO: uma câmara de ecos

Paul C. Roberts referia-se aos “comentadores” como os “presstitutos. Andrei Martyanov referia-se à propaganda ocidental como “uma câmara de ecos". Foi isso que vimos na ridícula cimeira da NATO realizada em Lisboa. O terrível problema dos manipuladores é que acabam por acreditar uns nos outros e na própria manipulação. Temos assim que a NATO tem que “defender a democracia em todo o mundo”, enfrentar as “ameaças a leste” e no “mar da China”.

Claro que esta gente nem coerente sabe ser em geografia, mas adiante. O PR de Portugal falou como professor a dar a matéria do programa aprovado oficialmente, como antes do 25 de ABRIL, O sr. Costa, falou como bom aluno que quer ter boa nota repetindo de cor o que dizem os livros aprovados. Nenhum deles se preocupou com o que a Constituição diz sobre blocos militares.

O mais curioso foram os apelos à unidade… para combater os “desafios” dos “adversários” da “democracia" e da “Europa”. A subordinação aos desígnios imperiais dos EUA é total, apesar da série de falhanços da política externa dos EUA, da Guerra da Coreia e do Vietname, ao Iraque, Líbia, Síria, Afeganistão, nada melhor encontra esta “Europa” que aplaudir os argumentos contraditórios e as ações absurdas dos EUA. O que a UE mais necessitava era de paz nas suas fronteiras a sul e a leste, desenvolvendo termos de vantajosa mutua cooperação, bem como com a China, Cuba, Venezuela, etc.

Mas não, os governos da UE/NATO e “aliados” são incapazes de separar a narrativa difundida por analistas políticos que não passam de propagandistas, vendo os EUA como omnipotentes, e o resto do mundo como ignorantes (europeus inclusive) em contemplação perante o “execionalismo” dos EUA.

A história e a vida corrente vai demonstrando como as suas estratégias e respetivas análises laudatórias se acumulam numa lixeira de desinformação onde os "comentadores" mergulham incessantemente. O caso da Ucrânia, ou o que resta, transformou-se num pseudo Estado, subordinado a corruptos e nazifascistas, sem outra solução senão voltar-se mais tarde ou mais cedo para o seu aliado natural e a sua matriz histórica, a Rússia. O “ocidente” – a NATO/EUA - queria uma nova guerra da Crimeia como no século XIX, à espera que a Rússia, como afirmou Obama ao impor sanções ficasse com "a sua economia em farrapos”. Vale a frase de Putin sobre Biden: “está-se a olhar ao espelho”.

O processo da Ucrânia, como da Síria, Iraque, etc., mostra como ignoram o que sejam os interesses não apenas estratégicos mas de sobrevivência de outros povos, como a Rússia, China, Coreia do Norte, etc.

A NATO não tem política externa. É incapaz de lidar com a realidade e os reais interesses dos seus povos, mesmo de um estrito ponto de vista das leis do capitalismo. Limita-se a seguir as orientações psicóticas dos estrategas de Washington, consequência de décadas de propaganda anti comunista que se alarga a qualquer país que queira ou possa ter um desenvolvimento independente.

A NATO pode ter vencido batalhas em países com muito fracas capacidades militares mas foi sempre incapaz de ganhar uma guerra, apenas levar o caos, depredação e horrores da morte indiscriminada de civis. No Afeganistão aponta-se para 250 000 mortes sobretudo civis, sem que se vissem as atuais lágrimas de crocodilo televisivas. A o que parece era isto "levar a democracia".

O drama é a forma como lidam com o único país que neste momento pode varrer os EUA e a UE/NATO do mapa: a Rússia. A NATO incapaz de aceitar a realidade que destruiria os mitos da sua manipulação – o seu terrível problema – transformou-se numa espécie de agência de provocações no Mar Negro e no Mar do Sul da China, mas que nada mais faze que fugir quando confrontada. Os media falam, falam, mas nada dizem sobre isto.

Nem admira, gente sem o mínimo de preparação ou conhecimentos emite, opiniões, julgamentos sobre tudo, da geopolítica às alterações climáticas. Não é preciso mais, pois a comunicação ao serviço do império em declínio não passa de uma “câmara de ecos”, basta repetir o que diz a CNN, Wall Street Journal, Financial Times e mais uns poucos. E repetir a lição...senão chumbam.

Este texto baseou-se em alguns trechos do livro de Andei Martianov, Desintegration, Clarity Press, 2021, pag. 127 a 136, sobre a incompetência da elites ocidentais, sub capítulo “An analytical Echo Chamber”.

1 comentário:

Monteiro disse...

O que mais gostei de ver foi da demonstração de amor de António Costa à senhora Pelosi. Que grande fotografia. O Presidente da nossa República a falar estrangeiro também me comoveu mas esse já me comove de há longa data. Um dia lhe pagarei com poesia.