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10 de maio de 2022

A grave situação mundial

 Notas soltas sobre a grave situação mundial



Jorge Cadima



O mundo está em profunda convulsão. Três décadas após a vitória das contra-revoluções no Leste da Europa, a Humanidade enfrenta o perigo duma catástrofe. A ofensiva para impor a hegemonia planetária dos EUA, com os impunes ataques e assaltos à legalidade internacional por parte dos EUA/NATO/UE/Israel, e o sistema de pilhagem global instaurado pelo grande capital financeiro ‘ocidental’ na sequência das contra-revoluções do final do século XX, desembocaram numa crise de enormes proporções, que a guerra na Ucrânia está a agudizar. O pano de fundo desta situação é a crise global do sistema capitalista que, tendo-se tornado particularmente evidente em 2007-2008, nunca foi ultrapassada, não obstante os biliões de dinheiros públicos gastos para sustentar artificialmente um sistema financeiro insolvente. Elemento central desta crise é também o declínio relativo das velhas potências imperialistas, face à ascensão de novas potências económicas, com destaque para a China, e a recusa das velhas classes dirigentes imperialistas em aceitar a nova correlação de forças económica mundial.

Está nas mãos dos povos do mundo determinar o rumo dos acontecimentos, impedindo a tragédia que se vislumbra.



Hipocrisia sem limites


A intervenção militar russa na Ucrânia, iniciada em 24 de Fevereiro de 2022, não aconteceu num vazio. Não é o começo da crise, mas sim uma das suas expressões. Quem ouvir hoje os dirigentes das principais potências imperialistas pensará que são angélicos defensores da paz e da legalidade internacional, ciosos da soberania dos países. Mas a realidade é o exacto oposto. 

EUA/NATO/UE violaram repetida e descaradamente a legalidade internacional. Foi assim na Jugoslávia, no Afeganistão, no Iraque, na Líbia, na Síria, e noutros países. Essas guerras e agressões foram sempre apresentadas como ‘justas’, ‘humanitárias’, ‘necessárias’ – ou apenas esquecidas, como acontece no Iémen – apesar de os pretextos invocados para as desencadear serem monumentais patranhas e os seus resultados tragédias de enormes proporções. Além das guerras mais ou menos convencionais, foi assim também nas sucessivas operações de ‘guerra híbrida’ e subversão multifacetada contra qualquer país que manifestasse vontade soberana, como Cuba, Venezuela, Bolívia, Irão, RPD Coreia e tantos outros. Foi a sistemática destruição do Direito Internacional por parte dos EUA/NATO/UE que abriu as portas à crise ucraniana.

É uma evidência que a intervenção militar russa na Ucrânia viola o Direito Internacional. Mas ninguém pode afirmar que a Rússia tenha feito algo que não tivesse sido repetidamente feito, ao longo de décadas, pelos EUA/NATO/UE e seus aliados. A hipocrisia sem limites hoje reinante tem de ser firmemente combatida. Não apenas por se tratar de hipocrisia, mas sobretudo porque por detrás dela – e do habitual cortejo de mentiras e propaganda – está o Partido da Guerra imperialista, que desde há muito prepara a confrontação com quem não se submete aos seus ditames, e está disposto a usar todos os meios, incluindo uma catastrófica guerra mundial, para alcançar os seus objectivos de hegemonia planetária. Na boca dos dirigentes e serventuários do imperialismo, os discursos sobre a paz na Ucrânia escondem a estratégia de elevar a guerra para novos e muito mais perigosos patamares. 



Do fim da URSS ao assalto à Rússia


A guerra na Ucrânia não é um mero conflito entre Rússia e Ucrânia. Trata-se dum episódio num embate que, após a fase de Ieltsin, dura há quase três décadas entre a Rússia capitalista que emergiu da contra-revolução na URSS em 1991 e as velhas potências imperialistas, com os EUA à cabeça.

Aquando da trágica desintegração da URSS, os EUA e seus satélites não reservaram à nova Rússia capitalista um papel de parceiro, mas sim de país a saquear e, se possível, desintegrar. Entre as razões de tal opção encontra-se a inevitável tendência do imperialismo para se apoderar das riquezas de outros – para mais dum país tão vasto e rico em recursos como é a Rússia – mas também a vontade de desforra histórica e ‘castigo exemplar’ ao país herdeiro da primeira grande experiência histórica de transformação revolucionária da sociedade e construção do socialismo. O objectivo de abocanhar as colossais riquezas naturais russas tornou politicamente conveniente ‘esquecer’ que a União Soviética socialista foi destruída em 1991 e reorientar décadas de violenta propaganda anti-soviética para uma martelante propaganda anti-russa. 

O ataque directo à Rússia capitalista era impossível, dado o seu arsenal nuclear herdado dos tempos soviéticos, mas isso não impedia um processo gradual de assalto, visando a sua desagregação.  O colapso da Rússia esteve por um fio em meados dos anos 90. Não apenas pela enorme tragédia social e económica que se abateu sobre o país com o fim do socialismo e a destruição e pilhagem dos seus recursos pelas ‘terapias de choque’ do imperialismo que estão na origem dos famigerados oligarcas russos (e também dos oligarcas ucranianos que continuam a saquear aquele país sem que a comunicação social deles se lembre). Todos, afinal, criados pelos oligarcas ocidentais. A sobrevivência da Rússia esteve por um fio também como resultado da sistemática intervenção dos EUA e outras potências que alimentou um sem número de guerras nos territórios da ex-URSS (Arménia, Azerbaijão, Geórgia, Moldávia) e no próprio seio da Rússia (Chechénia). Desde o início, o imperialismo financiou e armou a subversão, tendo o assalto à Rússia como objectivo estratégico. O facto do poder russo ter conseguido travar e depois inverter estes processos de desagregação e afirmar uma Rússia soberana e independente é o verdadeiro ‘crime’ que o imperialismo ‘ocidental’ nunca perdoará a Putin.

A ofensiva multifacetada contra a Rússia manifestou-se também nas cinco vagas de alargamento da NATO para países ex-socialistas e mesmo ex-soviéticos, acompanhadas pela instalação de bases, meios militares e repetidas manobras militares envolvendo milhares de soldados da NATO, cada vez mais próximo das fronteiras russas. Simultaneamente, os EUA repudiavam os acordos de controlo de armamentos. Em 2019 os EUA não renovaram o Tratado sobre Forças Nucleares de Alcance Intermédio (INF), seguindo-se uma declaração oficial do MNE da Ucrânia manifestando o seu direito a dotar-se de armas nucleares. Essa intenção foi reiterada pelo Presidente Zelinski na Conferência de Segurança de Munique de Fevereiro 2022. 

Em 1962 a URSS instalou mísseis na Cuba socialista que os EUA haviam atacado no ano anterior (Playa Girón). Os EUA consideraram inaceitável a presença de armas nucleares soviéticas junto às suas fronteiras e levaram o planeta à beira da guerra nuclear. Mas instalar armas nucleares cada mais próximas de Moscovo é apresentado como um acto de ‘liberdade’.



Planos de guerra imperialistas


A ofensiva do eixo EUA/NATO/UE não se dirige apenas contra a Rússia. No seu livro de 1997, «O grande Tabuleiro de Xadrez – A primazia americana e os seus imperativos geoestratégicos», o ex-Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA Brzezinski (1) explica: «os três grandes imperativos da geoestratégia imperial são impedir a colaboração entre os vassalos e mantê-los dependentes em termos de segurança, manter os tributários dóceis e impedir que os bárbaros se associem». Para a superpotência imperialista, há apenas duas opções para qualquer povo e país: tornar-se vassalo e dócil, ou ser tratado como bárbaro. 

Ao longo destes anos foi patente o tratamento brutal reservado aos ‘bárbaros’ que afirmavam a sua soberania, seja na América Latina, Médio Oriente, Ásia, África ou Europa. Em 1999, durante a guerra da NATO contra a Jugoslávia, os EUA bombardearam mesmo a Embaixada da China em Belgrado. 

Mas o mundo não ficou parado. A China, agindo no contexto de regras económicas internacionais ditadas em grande medida pelos EUA e as estruturas de dominação financeira mundial por si hegemonizadas, alcançou um PIB comparável ao dos EUA e cresce a ritmos mais acelerados, manifestando capacidade de desenvolver sectores tecnológicos de ponta. Esta fenomenal ascensão económica é considerada inaceitável e encarada como uma ameaça pelos EUA, cujas doutrinas militares proclamam, de forma cada vez mais explícita, a China como principal inimigo. O eixo China-Rússia, reafirmado no início de Fevereiro aquando da visita de Putin à China é um pesadelo para as velhas potências imperialistas.

Quando a hegemonia planetária dos EUA era incontestável, o General Loureiro dos Santos revelou o objectivo de os EUA desencadearem uma guerra de grandes proporções contra qualquer país ou grupo de países que «reúnam capacidade para se opor ou desafiar os Estados Unidos» (Diário de Notícias, 13.3.00). Afirmava: «os Estados Unidos precisarão de actuar. Isso não será para já, mas dentro de 15, 20 anos, é praticamente inevitável». A «inevitável» guerra mundial prevista por Loureiro dos Santos resultaria da mera existência de países soberanos, que se ‘opusessem’ ou ‘desafiassem’ os EUA. Dizia o General: «não podemos esquecer que na base de tudo isto está a disputa dos recursos mundiais». 

Provavelmente canalizando concepções a que teria acesso enquanto alta patente de Forças Armadas da NATO, o General Loureiro dos Santos antevia (e desvalorizava) a possibilidade de a guerra se tornar nuclear, sonhando com impossíveis invulnerabilidades: «Começam contudo a aparecer novas tecnologias, nomeadamente nos EUA, que vão permitir tornar os teatros de operações invulneráveis a ataques de mísseis adversários. […] Tem de haver formas novas de fazer a guerra. Possivelmente as outras armas de destruição maciça vão passar a ter um papel muito mais importante, nomeadamente a arma biológica. A arma atómica continuará a ser uma arma muito importante, santuarizando os territórios para médias potências que não possuam essas novas tecnologias, mas para as grandes potências deixará de ser um obstáculo». Assinale-se a referência às armas biológicas, com as insistentes denúncias recentes da Rússia e China sobre as centenas de laboratórios biológicos criados e financiados pelos EUA (2) em todo o mundo, muitos dos quais junto às fronteiras desses dois países. E registe-se também a frase que, considerando que as armas nucleares «não serão um obstáculo» para grandes potências, confessa implicitamente quem pensa começar a guerra.



O fascismo na Ucrânia… e não só


No dia 16 de Dezembro de 2021, a Assembleia Geral da ONU votou uma moção, apresentada pela Rússia, de «Condenação da Glorificação do nazismo, neo-nazismo e outras práticas». A moção foi aprovada por larga maioria, com 130 votos a favor (incluindo países em confronto aberto, como Israel e Síria). Apenas dois países votaram contra a moção: os EUA e a Ucrânia. Como negar o significado deste facto? Confirmando um seguidismo que desde então deu um salto qualitativo, os países da UE (incluindo Portugal) abstiveram-se na condenação do nazi-fascismo. 

Está hoje em voga negar ou minimizar a influência do fascismo nas mais altas esferas do poder na Ucrânia. Esse negacionismo não advém do fascismo ucraniano ser uma ficção. Existe e tem lugar de destaque nas Forças Armadas, que incorporaram oficialmente as milícias nazi-fascistas como o Batalhão Azov. Fascistas colaboracionistas da II Guerra Mundial, responsáveis por enormes massacres, como Bandera, foram transformados em heróis nacionais. O negacionismo visa encobrir a incómoda realidade de os fascistas ucranianos serem aliados ‘do Ocidente’ na estratégia de dominação planetária dos EUA/NATO/UE. Aliados necessários como tropa de choque do regime e como carne para canhão na guerra contra a Rússia. No contexto da guerra híbrida contra a Rússia, os EUA investiram particulares esforços na Ucrânia. Não por amor ao povo ucraniano, que os dirigentes imperialistas desprezam tanto como outro povo qualquer. Mas porque os EUA querem combater a Rússia até ao último ucraniano. 

Em 2013 a Vice-MNE dos EUA Victoria Nuland confessava que os EUA já haviam canalizado 5 mil milhões de dólares para «apoiar a democracia» na Ucrânia (3). O significado dessa ‘democracia’ tornou-se claro com o golpe de Estado que, em 24 de Fevereiro de 2014, derrubou o Presidente eleito Yanukovitch. A faísca para o golpe da Maidan foi o massacre de manifestantes anti-governamentais e polícias. A comunicação social pró-imperialista culpou o governo. Mas a história é mais complexa (4) e indicia uma provocação cometida por franco-atiradores que disparavam sobre os dois lados, instalados no topo do Hotel Ukraina que estava sob o controlo de fascistas ucranianos. 

A violência fascista que se seguiu ao golpe de Estado de 2014 incidiu na repressão da resistência popular ao golpe, nas zonas do país maioritariamente russófonas (que haviam dado maiorias eleitorais esmagadoras ao Presidente deposto). Em Odessa, pelo menos meia centena de pessoas foram assassinadas, após bandos fascistas atacarem manifestantes anti-golpe e incendiarem a Casa dos Sindicatos onde se haviam refugiado. No Donbass a resistência popular proclamou as Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk. A resposta militar foi conduzida pelos fascistas ucranianos. Os acordos de Minsk de 2015, que previam uma solução política preservando o Donbass autónomo no seio da Ucrânia, foram sempre desrespeitados pelo governo ucraniano. É impossível compreender o que se passa hoje sem ter em conta a guerra no Donbass, que causou a morte a 14 mil pessoas durante oito anos, perante a indiferença da comunicação social ocidental.

A aliança dos EUA/NATO/UE com o fascismo não é ‘contra-natura’. O fascismo foi sempre a expressão mais violenta e brutal do poder do grande capital, usado em momentos de crise para impor pela força a sua dominação de classe. Nos anos 20 e 30 do século XX, grande parte das classes dominantes dos países capitalistas europeus e EUA nutriam fortes simpatias pelo fascismo. Após a derrota do nazi-fascismo na II Guerra Mundial, graças sobretudo à União Soviética, o imperialismo norte-americano promoveu uma aliança global anti-comunista, na qual os nazi-fascistas derrotados desempenharam papel de destaque (5). Muitos fascistas ucranianos foram recrutados para a guerra (nem sempre fria) contra a URSS e os comunistas.

A utilização de autênticos exércitos terroristas, capazes dos mais brutais crimes, é uma característica permanente das intervenções do imperialismo nos quatro cantos do mundo. Foi assim nos anos 80 com os Contras nicaraguenses, a Unita ou Renamo, os mujahedines afegãos ou, mais recentemente com os bandos fundamentalistas e terroristas do tipo ISIS, na Líbia, Síria, Iraque e outros países. É assim hoje na Ucrânia.

Por debaixo do verniz ‘democrático’ do poder do grande capital e do imperialismo, está sempre o gatilho pronto. Em momentos de crise aguda, essa veia fascizante vem ao de cima.



A intervenção militar russa


Se é certo que os dirigentes russos lêem, e não sem razão, os acontecimentos das últimas décadas como uma ameaça mortal à sobrevivência do seu país, é igualmente um facto que a natureza de classe do poder russo se reflecte na acção militar iniciada no dia em que passavam oito anos do golpe de 2014. Ao optar por uma operação militar à margem do Direito Internacional, a Rússia enfraqueceu a sua posição no plano internacional. Ao centrar a sua resposta no plano estritamente militar, e não no papel ou intervenção de forças populares nos territórios da Ucrânia, revela desconfiança em relação aos povos. Ao atacar o legado histórico da URSS no reconhecimento e defesa dos direitos nacionais dos povos – nomeadamente do povo ucraniano – ajuda a alimentar os mitos do nacionalismo fascista ucraniano. Ao relegitimar o Império czarista coloca-se fora da História e estreita a sua base de apoio interno e externo. Estas limitações, cujo peso no desenrolar dos acontecimentos ainda está por avaliar, revelam a natureza capitalista e as concepções de classe na Rússia actual, o que, entretanto, não impede o PCP de apontar os EUA, a NATO e a UE como os grandes responsáveis pela grave situação a que se chegou no Leste da Europa.



Uma nova ordem internacional?


Mas a histeria ‘ocidental’ reflecte também desespero. O desespero de compreender que, longe de estar ‘mais fortes e unidos que nunca’, como proclama a propaganda de guerra, os EUA/NATO/UE vivem uma crise sem precedentes (a UE em particular). As ‘sanções do inferno’ anunciadas contra a Rússia cedo revelaram os seus limites e as contra-medidas russas (exigência de rublos para a compra do petróleo, bem como a ligação do rublo ao ouro) parecem ter evitado o colapso da economia russa que os centros imperialistas desejavam. As sanções estão a acentuar um processo inflacionista (que já vinha de trás) nos centros capitalistas, com inevitáveis consequências económicas e sociais. Este processo, a confirmar-se, poderá dar lugar à destruição da hegemonia do dólar como moeda de reserva internacional e ao fim do sistema financeiro sobre o qual assenta a pilhagem das riquezas do planeta pelo centro imperialista. A confiscação dos bens do Banco Central e de cidadãos russos no Ocidente, após análogos actos de pilhagem dos bens estatais da Venezuela, Irão, Afeganistão e outros países, irá acelerar a desconfiança geral em relação à fiabilidade do sistema financeiro hegemonizado pelos EUA. 

Facto saliente da actual crise é a dificuldade dos centros imperialistas em arregimentar à sua estratégia numerosos países, incluindo alguns dos maiores do mundo. Apesar das votações na Assembleia Geral da ONU, os países que aplicaram sanções à Rússia resumem-se à América do Norte, União Europeia e alguns dos seus mais estreitos ‘aliados’. Países como a China, Índia, Paquistão, Brasil, Indonésia e mesmo países da NATO como a Turquia, têm-se recusado a entrar na guerra das sanções. 

Se estas afirmações parecem ousadas, leia-se o Financial Times (7.4.22): «Pode parecer que a maioria do mundo está unido na sua condenação da guerra na Ucrânia, mas embora exista uma coligação dirigida pelo Ocidente contra a Rússia, não existe uma coligação global. Este facto pode ter importantes implicações para o futuro da finança internacional à medida que os países do mundo responderem à decisão dramática dos EUA e seus aliados congelarem as reservas em divisas estrangeiras da Rússia […]. Ao utilizar desta forma o dólar como arma, os EUA e aliados arriscam-se a provocar uma reacção que poderá minar a divisa dos EUA e desagregar o sistema financeiro global em blocos rivais. […] Se houver um afastamento sistemático em relação ao dólar nos próximos anos, as sanções contra o Banco Central russo poderão vir a ser vistas, não como uma nova e audaz forma de exercer pressão sobre um opositor, mas como o momento em que o domínio do dólar começou a declinar».



Que perspectivas para os trabalhadores e os povos?


Os perigos para a Humanidade são evidentes. A guerra não é do interesse dos povos, que são as suas primeiras vítimas. É urgente pôr fim à guerra na Ucrânia e ainda mais urgente impedir o seu alastramento.

Mesmo que seja possível travar o passo aos belicistas e evitar a catástrofe, em todo o centro imperialista será reforçado, a pretexto da conjuntura, o assalto aos níveis de vida dos trabalhadores e dos povos, desviando-se recursos gigantescos para as máquinas de guerra e reforçando o pendor autoritário e fascizante que já se entrevê. Planos há muito existentes (recordem-se as troikas e as medidas tomadas a pretexto da pandemia) serão agora de novo ensaiados, numa escala maior.

Aos comunistas cabe a responsabilidade histórica de, tal como no passado saber ler os acontecimentos e identificar as orientações que correspondam à situação. Fazendo bom uso da nossa teoria, que resulta da experiência acumulada pelo movimento operário ao longo de décadas. E compreendendo que a cada situação concreta têm de corresponder análises concretas, adequadas à situação, com a identificação do inimigo principal e o esforço por criar a melhor correlação de forças possível para isolar e combater esse inimigo principal. Uma coisa é certa: será a luta dos povos que poderá, tal como no passado, derrotar os incendiários da guerra imperialista.



Notas


(1) Brzezinski foi Conselheiro de Segurança Nacional entre 1977 e 1981 e artífice da política de armar e legitimar o terrorismo fundamentalista islâmico, para combater o governo popular do Afeganistão em 1979, seis meses antes do envio de tropas soviéticas para aquele país, como confessou em 1998 em entrevista à revista Le Nouvel Observateur.

(2) Entre as numerosas referências recentes, vejam-se os seguintes artigos no jornal chinês Global Times:

https://www.globaltimes.cn/page/202203/1256586.shtml  https://www.globaltimes.cn/page/202203/1254843.shtml  https://www.globaltimes.cn/page/202203/1255313.shtml  https://www.globaltimes.cn/page/202204/1257443.shtml

(3) https://www.youtube.com/watch?v=U2fYcHLouXY

(4) A censura sistemática introduzida na UE no rescaldo da guerra torna mais difícil aceder a fontes, mas eis uma pormenorizada investigação dos factos: https://consortiumnews.com/2019/04/22/the-buried-maidan-massacre-and-its-misrepresentation-by-the-west/

(5) Entre muitas outras fontes refira-se o livro do jornalista norte-americano Christopher Simpson, Blowback. America’s recruitment of Nazis and its effects on the Cold War, Weidenfeld & Nicolson, 1988.
Militante

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