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2 de junho de 2022

Scott Ritter e a situação na Ucrânia

 Scott Ritter (SR) ex-oficial de informações dos marines (EUA), com experiência de guerra no Médio Oriente e também inspetor de armamento, é uma voz relevante para uma análise da guerra na Ucrânia. (SCOTT RITTER: Phase Three in Ukraine – Consortium News)

A sua análise pode ser dividida em duas partes: o aspeto militar e o aspeto político. Do ponto de vista militar a Rússia a Rússia vence a guerra no terreno sem contestação, apesar milhares de milhões de dólares em assistência militar, orientações e informações pelos EUA/NATO. Apesar da incessante propaganda, os russos estão à beira de alcançar a libertação das Repúblicas de Lugansk e Donetsk, dentro das fronteiras administrativas das regiões de Donetsk e Lugansk.

Em 25 de março, responsáveis militares russos anunciavam as capacidades de combate das Forças Armadas da Ucrânia tinham sido significativamente reduzidas, concentrando-se os principais esforços em alcançar o objetivo principal na libertação do Donbass. Todas as 24 formações das Forças Terrestres ucranianas tinham sofrido importantes perdas bem como infligido significativos danos à infraestrutura militar e equipamentos. Apesar dos esforços dos EUA/NATO e UE, fornecerem à Ucrânia uma quantidade significativa de assistência militar,  que, segundo a Rússia "aumenta o número de vítimas e não poderá influenciar o resultado da operação”.

A propaganda chegou a dizer que a ofensiva no Donbass - a Fase Dois - havia parado e que a Rússia era obrigada a uma postura defensiva. Falava-se até na reconquista do território da repúblicas do Donbass e da Crimeia, mas a realidade ignora a propaganda (e vice-versa).

Durante os oito anos de conflito incessante no Donbass, que precipitou a invasão russa, foi preparado com ajuda da NATO um cinturão defensivo profundamente escalonado e bem estruturado, fortificado com um sistema de de betão de grande resistência. Contra esse cinturão defensivo os ataques foram, por necessidade, “precedidos por fogo pesado às fortalezas do inimigo e suas reservas”. A vantagem russa na artilharia foi um fator chave para o resultado vitorioso das operações da Fase Dois, pulverizando as defesas ucranianas e abrindo caminho para a infantaria e blindados acabarem com os sobreviventes.

De acordo com o Ministério da Defesa da Rússia, os ucranianos perdem o equivalente a um batalhão cada dois dias, sem mencionar dezenas de tanques, veículos blindados, peças de artilharia, caminhões.

Segundo SR, vários observadores deste conflito, e ele próprio, consideravam que, com base na análise preditiva da matemática militar básica dado os níveis de baixas reais e projetadas, a lógica ditava que o governo ucraniano, despojado de um exército viável, não teria escolha a não ser a rendição, como a França em 1940 após vitórias decisivas do exército alemão.

Além de uma vitória militar decisiva no leste da Ucrânia, em Kherson (ligada à Crimeia) e Zaporozhye (contíguo), Putin articulou dois objetivos políticos principais para a operação: manter a Ucrânia fora da NATO e criar as condições para a NATO as propostas de tratado de 17 de dezembro, estabelecendo uma nova estrutura de segurança europeiaO objetivo seria também desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia e levar a julgamento aqueles que cometeram crimes sangrentos contra civis, inclusive contra cidadãos russos.

A derrota do Regimento Azov e outras formações neonazis em Mariupol foi importante para este objetivo, porém vários milhares de combatentes neonazis, continuam lutando no leste da Ucrânia e a realizar operações de segurança na retaguarda ucraniana. Saliente-se que a desnazificação não se processou, mantendo-se os partidos políticos neonazis e de extrema-direita enquanto os outros foram fechados pela lei marcial. O governo ucraniano está cada vez mais alinhado com o movimento neonazi para fortalecer seu domínio diante da crescente oposição política doméstica à guerra com a Rússia.

A desnazificação, exigiria retirar Zelensky do poder; a desmilitarização tornou-se muito mais difícil desde a invasão: a ajuda cresceu ao ponto que o total da parte dos EUA aproxima-se de 53 mil milhões. Esta ajuda tem um impacto em termos de militares russos mortos e equipamentos destruído, permitindo a Ucrânia reconstituir o poder de combate, destruído anteriormente.

Embora esse apoio maciço não seja capaz de reverter a vitória militar russa no Donbass, isto significa que embora a Rússia tenha alcançado o objetivo de libertar o Donbass, a desmilitarização não ocorreu. 

A Rússia, juntamente com a China, rejeita a ordem internacional baseada em regras que define a visão de um mundo unipolar dominado pelos EUA e, em vez disso, substitui-a por uma “ordem internacional baseada na lei” multipolar fundamentada na Carta da ONU. Putin foi muito cuidadoso ao tentar vincular a operação militar da Rússia sob o artigo 51 da Carta das Nações Unidas que rege a autodefesa. “As Forças Armadas da Ucrânia estavam concluindo a preparação de uma operação militar para assumir o controlo do território das repúblicas populares”.

De facto, tanto a Fase Um quanto a Fase Dois da operação foram especificamente adaptadas aos requisitos militares necessários para eliminar essa ameaça a Lugansk e Donetsk pela acumulação de poder militar ucraniano no leste.

Um problema surge, no entanto, quando a Rússia concluir a tarefa de destruir ou dispersar os militares ucranianos na região de Donbass. Que fazer a seguir? A resposta dada à situação criada reflete o nosso futuro. Não o podemos ignorar.

(continua)



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