Para as redes elétricas funcionarem, têm de ser estáveis. Esta estabilidade no caso de estarem interligadas necessita que estejam em sincronismo, isto é que as grandezas elétricas que caracterizam o sistema sejam iguais: o valor da frequência (50 ciclos/segundo), da tensão, da fase, grandezas que representam os sistemas vetoriais das redes girando de acordo com a frequência, em que a fase representa o ângulo que vetores de redes diferentes fazem entre si. Portanto, para que redes diferentes sejam interligadas é necessário que além da tensão e frequência serem iguais, o ângulo de fase seja nulo (ou muito próximo) no momento da ligação. Não satisfazer esta regra resulta num curto-circuito.
Para manter os geradores (alternadores) em sincronismo existem reguladores para atuarem sobre a potência fornecida pelo acionamento e sobre algo fornecido em corrente contínua, que proporciona a tensão do alternador, designado excitação do alternador.
No caso de uma perturbação grave, os sistemas sofrendo esse choque vão reagir de forma desencontrada, incapazes de superar às solicitações: o sistema perde o sincronismo, as proteções disparam, o sistema desliga-se automaticamente.
É o caso de cair sobre a rede um excesso de carga (pedido de potência) - as razões para isso acontecer é que podem ser diversas - para o qual não está preparado, não foi previsto. A reação propaga-se em cadeia, de forma praticamente instantânea.
Ao desligar-se o sistema fez o que está certo, portou-se corretamente, "o material tem sempre razão"; ao desligar-se protegeu-se a si próprio, impediu a sua destruição e garantiu a segurança das pessoas, pode dizer-se "fail safe".
Há que repor o serviço, o problema é que para produzir eletricidade nestes sistemas, é preciso eletricidade para operar os circuitos auxiliares (força motriz, iluminação, tomadas) instrumentação, comando e controlo. Estamos perante um problema de segurança na garantia de funcionamento dos sistemas. Isso é conseguido - simplificando - pela conceção dos sistemas, duplas alimentações, redundâncias, reserva de potência na rede.
Mesmo assim algo grave e imprevisto pode acontecer. Então há que organizar a rede para que a falha seja o mais localizada possível e a reposição dure o menos tempo possível. A rede pode ser organizada em blocos (regionais, por exemplo) que em caso de emergência possam funcionar autonomamente, desligados dos restantes repondo o serviço através de geradores de emergência e baterias para ligar os serviços auxiliares, comando, etc., repondo as máquinas em funcionamento (turbinas e alternadores) e religando as subestações. Estas operações devem estar previstas em procedimentos, ser objeto de treino, simulações, reciclagem do pessoal envolvido.
Há que ver que a segurança implica reserva de potência na rede, capacidade autónoma de reposição de zonas, isto é, estamos a falar de custos... E aqui há que escolher: querem segurança com empresas públicas ditas "ineficientes" ou lucros à custa da segurança em empresas privadas "eficientes"?
Também se prova que as centrais eólicas e fotovoltaicas não são garantia de funcionamento de uma rede, mas não é disso que aqui se trata. O que fica de toda a palração mediática de gente a pôr-se em bicos dos pés, inclusive dos que alimentaram privatizações e o conceito de que "importar energia é mais barato que produzir", esqueceram-se (!) de dizer que o PCP se opôs ao fecho das centrais do Pego e de Sines que trariam estabilidade ao sistema, desativadas em 2021, pelos "bons alunos" da UE. Também foi o PCP que se opôs ao importar é mais barato... realçando que se tratava de uma questão de segurança no abastecimento e soberania. O que não obsta a que possamos estar ligados à rede espanhola.
Nesta como em muitas outras questões (recorde-se a soberania alimentar) o tempo dá razão ao PCP, por isso a "malta" do sistema, incluindo responsáveis pela situação a se que chegou, tratam de silenciar as suas propostas.
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