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5 de maio de 2025

Duas ou três coisas sobre apagões

 Para as redes elétricas funcionarem, têm de ser estáveis. Esta estabilidade no caso de estarem interligadas necessita que estejam em sincronismo, isto é que as grandezas elétricas que caracterizam o sistema sejam iguais: o valor da frequência (50 ciclos/segundo), da tensão, da fase, grandezas que representam os sistemas vetoriais das redes girando de acordo com a frequência, em que a fase representa o ângulo que vetores de redes diferentes fazem entre si. Portanto, para que redes diferentes sejam interligadas é necessário que além da tensão e frequência serem iguais, o ângulo de fase seja nulo (ou muito próximo) no momento da ligação. Não satisfazer esta regra resulta num curto-circuito.

Para manter os geradores (alternadores) em sincronismo existem reguladores para atuarem sobre a potência fornecida pelo acionamento e sobre algo fornecido em corrente contínua, que proporciona a tensão do alternador, designado excitação do alternador.

No caso de uma perturbação grave, os sistemas sofrendo esse choque vão reagir de forma desencontrada, incapazes de superar às solicitações: o sistema perde o sincronismo, as proteções disparam, o sistema desliga-se automaticamente.

É o caso de cair sobre a rede um excesso de carga (pedido de potência) - as razões para isso acontecer é que podem ser diversas - para o qual não está preparado, não foi previsto. A reação propaga-se em cadeia, de forma praticamente instantânea.

Ao desligar-se o sistema fez o que está certo, portou-se corretamente, "o material tem sempre razão"; ao desligar-se protegeu-se a si próprio, impediu a sua destruição e garantiu a segurança das pessoas, pode dizer-se "fail safe".

Há que repor o serviço, o problema é que para produzir eletricidade nestes sistemas, é preciso eletricidade para operar os circuitos auxiliares (força motriz, iluminação, tomadas) instrumentação, comando e controlo. Estamos perante um problema de segurança na garantia de funcionamento dos sistemas. Isso é conseguido - simplificando - pela conceção dos sistemas, duplas alimentações, redundâncias, reserva de potência na rede.

Mesmo assim algo grave e imprevisto pode acontecer. Então há que organizar a rede para que a falha seja o mais localizada possível e a reposição dure o menos tempo possível. A rede pode ser organizada em blocos (regionais, por exemplo) que em caso de emergência possam funcionar autonomamente, desligados dos restantes repondo o serviço através de geradores de emergência e baterias para ligar os serviços auxiliares, comando, etc., repondo as máquinas em funcionamento (turbinas e alternadores) e religando as subestações. Estas operações devem estar previstas em procedimentos, ser objeto de treino, simulações, reciclagem do pessoal envolvido.

Há que ver que a segurança implica reserva de potência na rede, capacidade autónoma de reposição de zonas, isto é, estamos a falar de custos... E aqui há que escolher: querem segurança com empresas públicas ditas "ineficientes" ou lucros à custa da segurança em empresas privadas "eficientes"?

Também se prova que as centrais eólicas e fotovoltaicas não são garantia de funcionamento de uma rede, mas não é disso que aqui se trata. O que fica de toda a palração mediática de gente a pôr-se em bicos dos pés, inclusive dos que alimentaram privatizações e o conceito de que "importar energia é mais barato que produzir", esqueceram-se (!) de dizer que o PCP se opôs ao fecho das centrais do Pego e de Sines que trariam estabilidade ao sistema, desativadas em 2021, pelos "bons alunos" da UE. Também foi o PCP que se opôs ao importar é mais barato... realçando que se tratava de uma questão de segurança no abastecimento e soberania. O que não obsta a que possamos estar ligados à rede espanhola.

Nesta como em muitas outras questões (recorde-se a soberania alimentar) o tempo dá razão ao PCP, por isso a "malta" do sistema, incluindo responsáveis pela situação a se que chegou, tratam de silenciar as suas propostas.

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