Linha de separação


17 de dezembro de 2025

O poder entre a nulidade e a arruaça

Dos quatro candidatos a PR que nas sondagens estão à frente, três destacam-se pela sua nulidade, repetindo ideias gastas e as habituais "boas intenções". Alguns media empenham-se em promover um quinto, todo iniciativas liberais. O outro do quarteto, acha que o que faz falta neste país é acabar o tempo das falinhas mansas e de quem dê um murro na mesa, para o endireitar... ainda mais. 

A extrema-direita acha que é preciso murros na mesa para pôr o país na sua "ordem". O seu chefe garante que se fosse PR, Sócrates já estaria preso. Mas com que Código Penal? Com que sistema jurídico? A extrema-direita pode falar em 50 anos de corrupção, em prender os que considera corruptos, sem ter de explicar, nem porquê nem como. É espantoso que um "mediador" tenha ouvido afirmações como estas sem ao menos questionar que entendimento tem dos poderes constitucionais do PR.

Curiosamente qualquer outro candidato, mesmo de direita, é confrontado com o que diz ou disse mesmo há meses ou anos. No debate que serve de referencia, o chefe da extrema-direita só respondia ao que lhe era perguntado se lhe interessava, passava ao ataque ao oponente e o moderador em vez de insistir na sua pergunta, ouvia e pedia ao oponente para se pronunciar na situação de defesa, aceitando que o conteúdo do debate fosse determinado a partir da agenda do candidato da extrema-direita. 

Será que como PR criaria uma polícia própria para descobrir "corruptos" e prender. Isto vai para além do fascismo, em que pelo menos havia um código civil e penal independente de juízos de valor que se possam fazer. Havia sim era uma polícia política à margem da Constituição e do seu art.º 7, para os que tivessem "ideias subversivas" e "corrompessem" o sistema. 

O chefe da extrema-direita quer ir mais longe, apresenta-se como adepto do absolutismo, uma espécie de "miguelismo" para prender corruptos e antipatriotas... Aliás as suas convicções não entram em debate, são ditas e são assim aceites nos media. Consideram-se acima da desprezível cobardia dos que sustêm o sistema, a sua função é acusar, acusar sempre enquanto "não formos poder e meter todos na cadeia".

Consideram-se acima de regras sociais, mesmo educação, exigidas aos outros. Pedir desculpas por ofensas, nunca! Custa perceber porque é que os "moderadores" não explicam ao candidato da extrema-direita que alterar a Constituição não é competência do Presidente ou lhe perguntam como é que o iria fazer. E alterar em quê? 

Dizem os psicólogos que indivíduos que reduzem a realidade político-social a uma estrutura corrupta que apenas eles são capazes de liquidar e que seres de outra cor de pele, raça ou religião são assemelhados a criminosos ou parasitas, estão mais perto da psicopatia e da paranoia do que da política.

Quanto ao almirante silenciou o ataque à descolonização e mesmo às FA que a conduziram, diz estar em desacordo com Mário Soares em muitas coisas, mas acha que Mário Soares "evitou que o país ficasse sujeito a uma ditadura comunista". Pondo de parte a má fé ou facciosismo partidário, dizer isto só é possível a partir de profunda ignorância histórica. Será bom lembrar que o PCP colocou-se à frente nas tentativas de golpe de direita que queriam impedir a instauração da democracia, em setembro 1974 e março de 1975, lutando para que fossem realizadas eleições em abril de 1975 e aprovada a Constituição em 1976. 

 A calúnia sempre foi arma principal do anticomunismo para entregar o poder à oligarquia e seus representantes, servindo-se da despolitização que faz o seu caminho refletido nas sondagens. Mais de 20% do eleitorado, além do que extravasa para outros partidos, aceita este mundo distorcido, algo psicopático. Os noticiários e comentadores ajudam, pondo de parte a tão cantada "estabilidade" quando possam estar em causa os interesses da oligarquia. Como se vê, não é o caso. 

A mediocridade da maioria dos comentadores políticos, está ao nível do comentário futebolístico, discutem pessoas e desempenhos televisivos - não ideias ou conteúdos - fazem prognósticos e cada um reage conforme a sua cor clubista (partidária). As diatribes e incoerências da extrema-direita são apresentadas com consideração, branqueando todo um discurso abertamente inconstitucional, aceite como normal num candidato a PR. 

 Neste contexto, António Filipe o candidato mais bem preparado em termos políticos e técnico jurídicos para defender os valores de ABRIL na Constituição, não esquecendo o que nela foi inserido em 1976, acaba menosprezado pelos media e prejudicado pela distorção de nesta fase se induzir o "voto útil".


Sem comentários: