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31 de janeiro de 2012

A UE ENSAIA MAIS UMA FARSA, A QUESTÃO É QUE SE TORNOU UM DRAMA
A recente reunião magna da UE trouxe à memória as cenas do sr. José Sócrates na AR, então primeiro-ministro. Quinzena após quinzena de forma triunfal eram apregoadas medidas que tudo resolveriam. Aumentava o desemprego e a pobreza; acentuava-se a estagnação económica. Que importava! Quinzenalmente com mais “medidas” era prometido o paraíso. Manipulavam-se estatísticas e prometiam-se …medidas. Muitas delas não passaram do anúncio e noutras a realidade pouco tinha que ver com as promessas. O líder parlamentar declamava objurgatórias para a sua esquerda e incensava o líder. A sua bancada aplaudia de pé. Claro que hoje fazem por esquecer que tão querido líder tenha existido e contam com a lavagem ao cérebro diária na comunicação social controlada e com as desgraças que o atual governo promove afincadamente para, ao estilo do que consideram o “jogo democrático”, voltarem a fazer mais do mesmo e distribuir cargos entre si.
Pois bem, a UE caiu neste estilo de decadência em termos políticos, económicos, sociais. Quando se recorre à ilusão, à manigância propagandista como forma de governar é já o pré-anúncio da imparável incapacidade de um sistema para resolver problemas.
Eis a última invenção de 27 primeiros-ministros e chefes de Estado: dentro de um ano não haverá desemprego jovem! Cada jovem ou estará empregado, ou a estudar ou em formação. Como se o problema da UE fosse de natureza tecnológica!
Todos sabemos que o problema começa na finança, mas aí não se toca. Por isso as inúteis “medidas” do governo do sr. José Sócrates vieram á lembrança. Úteis apenas para prepara o caminho à atual direita e extrema-direita.
Aqueles 27 não são capazes de tirar a Europa da estagnação, de controlar a finança especuladora que asfixia os Estados, de resolver o problema dos endividamentos. Nada alteram das razões que levaram a UE para a situação em que se encontra, mas prometem acabar com o desemprego jovem. É caso para perguntar: e o não jovem?
O mais curioso é que até são capazes de o querer fazer à sua maneira. Como? É fácil, é barato, e dá milhões (como dantes o totobola). Despedem-se os mais velhos – ou menos jovens – com direitos laborais e contratos colectivos, legislação para isso aí está, ao nível da arbitrariedade patronal, pois é mais fácil e mais barato despedir. As austeridades ao sabor dos “mercados” fazem o resto da função. Depois admitem-se jovens no âmbito da precariedade e do salário de subsistência.
Diz-nos a psicologia que a melhor forma de compreender os comportamentos futuros é analisar os comportamentos passados.
Se os trabalhadores, se toda a força de trabalho, não impedirem que o padrão vigente se altere é aquela a via que se preparam para prosseguir. Generalizar a precariedade e os salários de subsistência.

28 de janeiro de 2012

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO - ALIENAÇÃO I – O DESAPOSSAMENTO

Na série de BD “O vagabundo dos limbos”, Gosciny, apresenta em “Que realidade, papá” o seu protagonista Axle Munshine na posse de um simpático bicharoco, um “distors”, proporcionado por uma “vidente extra lúcida”. Graças ao “distors” enquanto à sua volta ocorrem tragédias, horrores, violências de toda a espécie, Axle vê um mundo belo, puro, em que os seus desejos parecem sempre prestes a realizar-se, mas parecem apenas. Tudo não passa porém de um logro, de uma miragem, de uma realidade encenada. Além disto, o "distors" tem um inconveniente: é que se alimenta do seu sangue...Ora, é precisamente assim que funciona a alienação.
Qual o princípio condutor da alienação? Ver a realidade da forma mais conveniente para os interesses ou os desejos de outrem. Uma forma talvez mais sedutora, mas que no fundo anestesia, limita, distorce o poder de decidir, de optar, em benefício alheio.
A alienação torna-se assim um mecanismo induzido nos oprimidos e nos explorados para se adaptarem-se à linha de pensamento dos opressores e exploradores como estratégia de sobrevivência.
Procura-se que as pessoas aceitem o que se lhes propõe sem se interrogarem sobre os seus verdadeiros fundamentos; procura-se por todos os meios denegrir e fazer esquecer os valores de progresso transmitidos do passado.
Quando os que defendem o neoliberalismo falam da crise de valores, fazem por ignorar ou escondem deliberadamente que a alienação pela qual o seu sistema sobrevive procura produzir em termos sociais seres humanos no modelo de Frankenstein: o ser sem memória, sem passado, sem perspectivas históricas. A alienação leva a que as pessoas deixem de querer pensar, analisar, concluir.
A humanidade aliena-se porque ignora ou se esquece o que os grandes e bons espíritos nos transmitiram, porque se afasta da sua luz.
Um outro aspecto da alienação é a servidão ao objecto transmitido pela designada sociedade de consumo. No entanto, a componente fundamental da alienação, da qual derivam todas as outras, consiste na perda de consciência do valor criado, valor-trabalho. Toda a economia política do sistema actual se baseia na alienação do conceito de valor, na alienação dos resultados do trabalho: trabalho desapossado, trabalho alienado. “O salário é uma consequência imediata do trabalho alienado”. “Trabalho alienado, significa vida alienada, ser humano alienado, ser humano desapossado”. (Marx – Manuscritos de 1844 p.72 e 71).
As medidas que o neoliberalismo apresenta para a resolução da crise em que os seus procedimentos mergulharam os povos consistem em aumentar a alienação, o desapossamento do valor criado pela força de trabalho, o desapossamento do ser pela eliminação de direitos sociais.
Os promotores da alienação ao serviço de um sistema iníquo, procuram assegurar pela crença na bondade do sistema através dos seus silogismos de verdade parciais ou meras premissas falsas, são apresentadas como leis infalíveis, inelutáveis, eternas.
A alienação existe para os que sofrem as degradações da pobreza, existe para os que vivem na opressão do trabalho sem direitos nem segurança, sujeito apenas às leis da maximização lucro. Estes estão fora da própria condição humana. Mas a alienação existe também para os que se subordinam à religião do consumo.
Mas para serem consumidores terão de tornar-se primeiro mercadorias. Cada indivíduo é confrontado com uma dupla personalidade: ora o incensado consumidor soberano ao qual se tecem loas e se organizam campanhas de sedução ora o produtor, um custo a abater, classificado como parasita se detém pela sua condição de trabalhador direitos sociais. Por um lado, uma aparência de potencial liberdade, por outro a tendencial condição de pária.
Um país paga caro quando os seus cidadãos não exercem as faculdades que possuem. A alienação é precisamente a forma de limitar, desapossar os seres humanos das suas capacidades humanas e humanistas, das suas potencialidades, dos seus direitos. Que se passa se não se exercem, se se gera um permanente desajuste entre a natureza humana e ambiente em que vive?
O que se passa é a disseminação dos desequilíbrios nervosos. Sociedades de pessoas alienadas, com distúrbios nervosos generalizados, que se mantêm à custa de antidepressivos ou outras drogas, quando não levados ao suicídio, imolados ao deus-mercado.
A alienação gera uma massa da Humanidade desapossada e a par disto, em contradição, um mundo de riquezas (Marx - A ideologia Alemã )
A partir do momento em que abrimos os olhos para a realidade mais profunda, para além das aparências, libertamo-nos da alienação.
Condorcet, como todos os iluministas tinha esperança no futuro da humanidade. Dizia: “A nossa esperança no futuro da espécie humana pode reduzir-se a estes três pontos importantes: a destruição da desigualdade entre as nações, os progressos da igualdade num mesmo povo e finalmente o aperfeiçoamento real do homem”.
Em suma, eliminando a alienação, eliminando o desapossamento do ser humano.

25 de janeiro de 2012

A realidade impõe-se

À medida que o tempo passa e que a economia mundial abranda com a U.E a entrar em recessão os charlatanistas da economia  perante a força da realidade começam a avançar com propostas que ainda há pouco recusavam . É ver e ler os analistas cá do burgo...
No plano internacional o FMI  diz agora que sem crescimento não se vence a crise e que o combate ao défice tem de ter em conta esta questão sob pena de mergulhar a Europa numa nova crise
Um alto funcionário desta instituição diz mesmo que o combate ao défice é uma maratona não um sprint.
Mário Monti diz o mesmo por outras palavras e afirma ser partidário dos euro-obrigações e de uma intervenção acrescida do BCE. A Lagarde na Alemanha não querendo falar  em eurobonds diz  que a U. E. devia emitir títulos de dívida em conjunto que é a mesma coisa.
Em relação ao nosso País é cada vez mais claro que  ao contrário do que têm vindo a dizer o Primeiro Ministro e o Ministro das Finanças em 2013 os ditos mercados não nos vão fazer empréstimos a longo prazo a juros aceitáveis. E são cada vez mais os que afirmam que o país vai necessitar de reestruturar a sua dívida
E levando a economia para a ruína continua a insistir que não vai negociar sequer o alargamento do prazo para a redução do défice.






O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO - O PESO DO ESTADO

A ladainha neoliberal reza assim: “O peso do Estado é em Portugal excessivo, a carga fiscal excessiva. O Estado asfixia a economia privada consumindo demasiados recursos. Por isso o país não pode crescer nem desenvolver-se”. O peso do Estado em percentagem do PIB seria, pois, demasiado elevado para o nosso país. Dado este mote, os comentadores do costume fazem na praça pública o “responsório”.
Por consequência, há que reduzir o “peso do Estado”. Verdadeiro? Falso? Nem uma coisa nem outra: é um primarismo. É como querer tratar de um membro ferido procedendo á sua amputação, como era comum ainda no século XIX. Vejamos porquê na tabela seguinte: (2)

Países
Despesa Publica % PIB
Crescimento entre 2001 e 2010
Défice Público % PIB
Despesa pública por habitante (€)
Dinamarca
59,5
5,9
0
30.148,75
França
56,0
9,9
-5,1
15.788,60
Finlândia *
56,0
17,6
0,2
17.962,73
Suécia
54,9
21,0
1,4
20.713,42
Bélgica
54,2
13,8
-2,8
16.552,40
Grécia
53,2
18,5
-8,23
8.360,03
Áustria
52,3
15,6
-3,7
16.772,07
Itália
51,9
2,1
-3,8
12.160,13
Reino Unido *
51,6
14,1
-8,17
12.734,02
Holanda  *
51,4
12,4
-2,9
17.213,76
Irlanda
48,9
20,9
30,21
14.582,83
Portugal
47,9
4,8
-8,81
6.673,53
Alemanha *
47,5
8,1
-2,23
14.481,86
Espanha
45,8
18,4
-7
9.353,81


* - Países com a classificação AAA mantida recentemente pela S & P
Podemos verificar:
- Portugal é dos países cujo peso do Estado é dos mais baixos neste grupo da UE.
- A despesa pública por habitante em Portugal é de longe a mais baixa
- Portugal é o segundo país com menor crescimento ao longo da década
- Países com elevada despesa pública tiveram melhor ou muito melhor desempenho económico.
 -Países como a Alemanha não têm uma despesa pública em termos de percentagem do PIB muito diferente da de Portugal.
- Não se verifica uma relação entre o volume de despesa pública e o respetivo défice e, como se vê, os “mercados” não se preocupam muito isso.
O que podemos concluir? Na realidade, apenas que as afirmações que suportam as políticas de direita não têm qualquer sentido. A questão pode resumir-se a isto: não é o volume da despesa pública que conta é a qualidade da mesma.
As alegações, contra o “peso do Estado” que comandam as políticas de direita caiem, pois, no domínio da superstição. Uma superstição consiste em atribuir a certas práticas uma espécie de poder mágico, uma eficácia sem razão. Superstição é uma crença sem fundamento em efeitos mágicos de determinadas ações ou rituais. Assim a crença no poder regulador do mercado livre ou a crença nos efeitos negativos do peso do Estado na economia, não passam de superstições. Porém, como diz quem sabe, a superstição tem a particularidade de não ser anulada pela experiência…
Note-se que o grande capital financeiro e monopolista, não tem como objectivo enfraquecer o Estado como instrumento de intervenção, mas sim de o colocar cada vez mais e por completo ao seu serviço, como, por exemplo, fazer uma distribuição fiscal activa retirando aos pobres e classes médias para financiar as prendas fiscais dadas à banca e aos grandes grupos económicos. (3)
A designação “peso do Estado” já de si é manipuladora e preconceituosa. Não se fala no peso da finança especuladora, nem no peso de monopólios e oligopólios na economia e das rendas que obtêm do Estado, nem no peso da saída de capitais e rendimentos do país. Nem a “insustentável leveza” com que os grandes grupos económicos, monopólios e oligopólios, deixam o país transferindo as suas sedes para o exterior pagando não aqui os impostos devidos embora a sua riqueza seja cá criada! Só o Estado é que é pesado! Temos de defender os interesses dos nossos acionistas – dizem – ou seja, deles próprios! Quanto aos interesses do país, que importa isso?
As criticas que os comentadores de serviço por vezes fazem ao governo ou à UE por não haver medidas que promovam o crescimento, vindas de quem sempre defendeu as políticas neoliberais que nos são impostas e passa o tempo atacar o “peso do Estado”, tornam-se no mínimo votos piedosos, para não dizer ridículos ou hipócritas.
(o texto completo pode ser visto em www.resistir.info)
1 – Fonte Ameco, para 2010. O crescimento indicado refere-se ao PIB a preços constantes entre 2001 e 2010.
Não incluímos os países do leste da Europa dado que a análise do seu desempenho económico e social necessitaria de uma abordagem específica, que porém não alteraria no essencial o que dizemos.
2 – São exemplos: as PPP, os fundos de pensões transferidos para o Estado, os 12 mil milhões de “ajuda”para entregar à banca a serem pagos com a “austeridade” e “rigor”, as isenções e benefícios fiscais, etc., etc.

22 de janeiro de 2012

NÃO É POR VÓS É PELA BANCA NACIONAL E INTERNACIONAL

O Primeiro Ministro perante técnicos da Troika disse que o que estava a fazer não era por eles ....
Devia dizer com verdade que era pela banca nacional e internacional que é quem manda neste governo.
Um espectáculo indecoroso Um primeiro ministro de um país soberano a prestar contas a técnicos do FMI e U.E:

21 de janeiro de 2012

TERMINOU MAIS UMA JORNADA DO CAMPEONATO DA CONCERTAÇÃO




Terminou recentemente mais uma jornada do “jogo democrático” da concertação. O resultado do último jogo foi de 9-1, mas ambas as equipas garantem que foi um bom jogo e sentem-se satisfeitas com o resultado. O que nos parece de facto algo estranho.

Quando era menino de coro dos manejos empresariais ensinaram-me que uma boa negociação era a que resultava numa base “win-to-win”, isto é, ambas as partes ganhavam qualquer coisa. O que me resta ainda de pura ingenuidade perante as subtilezas de certa argumentação é não perceber como é que um resultado “win - not loose so much”, isto é, uns ganham tudo e outros não perdem tanto, pode ser um bom resultado.

Quer-se dizer, não perdem por 10-0, só perdem por 9-1. Acham que foi um muito bom resultado! Podia ser muito pior, dizem, se por exemplo não tivessem jogado. Bem, aqui ainda percebo menos. Entrar num jogo em que os árbitros jogam pelo outro clube, as regras são definidas pela outra parte e ficar nele até ao final em lugar de exigir imparcialidade dos árbitros e regras que não sejam feitas para favorecer certas equipas é admitir à partida a derrota e pior que tudo, validar um jogo com regras mesmo ilegais e inconstitucionais, sucessivamente alteradas ao longo do tempo para que, como se tem verificado, sempre os mesmos ganhem e sempre os mesmos percam!

Como é possível então estar satisfeito com o resultado que apresentam como uma vitória para os seus adeptos, é a questão que nos surge.

Mas a resposta tem contudo sido dada pelos adversários quando elogiam o espírito desportivo dos que se prestam a entrar e perder neste jogo. Não admira, os que ganharam levam as taças e as medalhas para casa e ainda a totalidade das receitas do jogo, festejam a vitória internamente e apresentam-se no campeonato da Europa como incontestáveis ganhadores no seu país. Os outros ficaram em último lugar e mais do que isso preparando-se para a próxima derrota, pois os competidores já sabem como os hão de vencer. Também é fácil: começam por dizer que querem jogar, que apreciam muito o este jogo, mas entretanto noticiam que a vitória desta vez vai ser por 15-0. É o que tem acontecido no passado. Quando o jogo termina o resultado é por 9-1!

Ora, levar adeptos e jogadores de derrota em derrota, não pode ser uma vitória, parece-me…

É caso para perguntar: não acham que participar num jogo viciado, sem oportunidades iguais para todos os participantes não é ser conivente com a transgressão das regras?

Os bem intencionados da conciliação com os piores motivos, vão dizendo que se não fizessem assim seria pior. Mas é sempre pior!

A propósito enquanto o sr. primeiro-ministro perorava na AR sobre este jogo como grande vencedor e os da sua camisola, os mercados riram-se deste provincianismo bacoco, desta falsa vitória ganha com batota e aumentavam os juros acima dos 19% a 5 anos.

Conclusão: o resultado de mais esta jornada do campeonato da concertação, ou seja, da conciliação, traduziu-se afinal numa grande vitória para a banca especuladora!

Mais uma vez, Portugal e o seu povo perderam. Há que mudar de treinador, de jogadores e de regras iníquas! Já é tempo.

18 de janeiro de 2012

O BCE AMPLIA A SUA INSTALAÇÃO DE RECICLAGEM DE LIXO…FINANCEIRO

Segundo noticiado, na passada segunda-feira bancos europeus depositaram no BCE 491 mil milhões de euros. Depois irão buscar mais, pois o BCE do sr. Mário Draghi garantiu crédito ilimitado à banca europeia a 1% durante três meses.
Eis como funciona a reciclagem do lixo financeiro nesta UE: o BCE empresta com juros de 1% à banca. Esta, além das outras atividades a que se dedica, empresta a juros usurários a governos  que abandonaram os mais elementares deveres sociais para proteger uma classe rentista favorecida pelos impostos para extrair juros, rendas e preços de monopólio. (1)  .
A banca que não financia o consumo nem as MPME, com o que vai extorquindo a toda a sociedade pelas mais variadas formas de austeridade, juros usurários e especulação, deposita os excedentes no BCE…que volta a emprestar a 1%!
Esta gente que pensa ter descoberto o movimento perpétuo na finança enlouqueceu de vez. A UE transformou-se numa “nave de loucos”. A esquizofrenia de assumir “capital fictício” - visto que não tem origem em trabalho produtivo – como valor real leva a esta desconformidade, ou seja, que a especulação cria riqueza:
Tudo isto pode parecer a parecer um paraíso para os banqueiros, porém a situação dos bancos na UE é de extrema fragilidade atulhados de dívidas impagáveis – mercê do esquema atrás descrito e de capital fictício.
Pode-se criticar os bancos? Creio que não. Estas coisas não podem ser analisadas do ponto de vista moral – as políticas sim. Os banqueiros e os oligopolistas dirão (dizem…) que só estão a defender os interesses dos seus acionistas o melhor possível. À custa de toda a sociedade, podiam os srs comentadores acrescentar ao tal ouvir, mas não se atrevem. Porém, sem regulação, num ambiente de competição destrutiva, com instituições que fomentam a especulação e a recessão económica, que hão de fazer? Seguem o que lhes dita a sua natureza.
O BCE tornou-se no principal protagonista (passe o pleonasmo) desta insanidade, numa UE que vive em acentuada crise, com sucessivos períodos de recessão ou estagnação, crescente desemprego, dívidas públicas e privadas impagáveis.
E há quem diga que os problemas atuais se resolvem com “Mais Europa”! Mas qual Europa?!

1 - Mas não a todos. A Alemanha em 9 de janeiro, emitiu 4 mil milhões de euros de dívida à taxa de 0,01%. Isto é, sem juros! União Europeia?

16 de janeiro de 2012

ASSIM VAI …A DECADÊNCIA DO SISTEMA CAPITALISTA – I I

A ideologia capitalista vive, no campo das fórmulas mágicas alheias à experiência e ao conhecimento. É um regresso às “dark ages” no campo político e social, apesar de todas as proezas tecnológicas. Neste sentido divulgamos alguns textos recentemente publicados no site norte-americano www.counterpunch.org., de dois autores que muito têm escrito sobre o tema (que daria um livro...). Falamos agora da UE, cada vez menos União e também sem saber de que terra é: uma jangada à deriva, sem governo, ao sabor dos ventos e marés das agências de notação financeira…
2 - Assim vai a UE
Escreve Mike Whitney  (1) que os bancos da UE já não são capazes de encontrar fundos por eles próprios no mercado e dependem inteiramente do BCE. O novo presidente, Mario Draghi, tentando apoiar o sistema vacilante oferece empréstimos a 1% à banca. Só numa primeira emissão em dezembro foram entregues à 489 mil milhões de euros, mas apesar disto a situação dos bancos da UE é consideravelmente pior do que se podia imaginar.
Estão a tentar acumular dinheiro para cumprir requisitos, para pagar dívidas e cobrir os buracos deixados por clientes insolventes ou que estão a mover as suas poupanças para fora do sector com receio que a crise se intensifique.
Bancos que não emprestam a outros bancos, empresas ou consumidores, são um obstáculo para a economia.
Um relatório da OCDE é citado (OECD “Economic Outlook” 2011) mostra a preocupação que reina quanto á crise na UE. A crise da zona euro permanece um risco principal para a economia mundial – refere-se. As previsões apenas melhorarão se ações decisivas forem tomadas.
As políticas inconsequentes postas em prática na UE são criticadas por M. Whitney: severas penalidades para os “pecadores” orçamentais não constituirão um estímulo ao crescimento, regras mais estritas não irão eliminar os desequilíbrios contabilísticos, a crise continuará a crescer até que a união monetária eventualmente se fragmente.
O antídoto para a recessão é bem conhecido. Quando os consumidores são forçados a cortar as suas despesas e as empresas reduzem os investimentos o governo deve aumentar aumentar os gastos e manter a economia a funcionar. Na Europa todas estas medidas foram excluídas por atacado. Assim, a crise da dívida tenderá a atingir um clímax em 2012 forçando um ou mais membros a saírem da zona euro, preparando o caminho para uma maior rutura.
Michael Hudson (2) num artigo inicialmente publicado no Frankfurter Allgemeine Zeitung com o título “A guerra dos bancos contra os povos”, escreve sobre a transição na Europa da social-democracia para oligarquia. A Europa tornou-se um paraíso para a especulação, com medidas que poucos votantes aprovariam num referendo democrático. Depois do caso da Islândia os estrategas da finança aprenderam, a não arriscar submeter os seus planos ao voto democrático.
Para a “troika” o que quer que os mais ricos levem, roubem ou evadam da economia deve ser a população a pagar. Por exemplo, no que respeita à Grécia, somente na Suíça estão depositados 45 mil milhões de euros de fundos.
As medidas postas em prática pela “troika” representam um retrocesso relativamente ao que desde o século XIX políticos reformadores democráticos procuraram estabelecer para libertar a economia do desperdício, corrupção e rendimentos não merecidos. Isto é o que está a ser anulado por um conjunto de tecnocratas não eleitos com apoio da “troika”.
Esta ideologia é a mesma que desde os anos 1960 o FMI impôs aos países do Terceiro Mundo. Se o sistema bancário não estiver ao serviço da economia, o que Keynes designava por “eutanásia do rentista”, tornar-se à num novo modo de fazer a guerra aos povos.
Argumenta-se que sem um sistema bancário rentável - não importa quão predador possa ser -  a economia entrará em colapso. Não importa se instituições de regulação ou adequada política fiscal podem ajudar, nada exepto passar o controlo para os lobbies bancários. Estes critérios são apresentados como ciência. Regulação financeira e política fiscal progressiva é agora dito aos eleitores que interferem com o “mercado livre”.
Ora, nas mãos dos neoliberais “mercado livre” é livre apenas para uma classe rentista favorecida pelos impostos para extrair juros, rendas e preços de monopólio. Os interesses rentistas são então designados “criação de riqueza”.
Não há qualquer razão económica ou tecnológica para as políticas que estão a ser impostas na UE pelos bancos que ganharam o controlo da política económica do BCE. O resultado só pode ser desemprego, mais impossibilidade de pagar dívidas e falências. Isto é pior que um plano de soma zero, no qual os ganhos de uns são as perdas dos outros. No final, a economia no seu todo irá reduzir-se. A democracia económica deu lugar à oligarquia financeira invertendo a tendência das décadas passadas.
O FMI e o BCE criando dinheiro que não poderá ser pago (fiat money) não altera as dívidas governamentais, contudo pretende preservar a riqueza e o controlo económico nas mãos do sector financeiro: “honrar as dívidas” passa a significar deflação pela dívida e contração económica generalizada.

1 - January 04, 2012 Mike Whitney, The Growing Crisis The Eurozone’s Looming Credit Crunch
 lives in Washington state. He is a contributor to Hopeless: Barack Obama and the Politics of Illusion, forthcoming from AK Press.
2 - December 9-11, 2011 - Europe’s Deadly Transition From Social Democracy to Oligarchy. MICHAEL HUDSON is a former Wall Street economist. A Distinguished Research Professor at University of Missouri, Kansas City (UMKC), he is the author of many books, including Super Imperialism: The Economic Strategy of American Empire (new ed., Pluto Press, 2002) He is a contributor to Hopeless: Barack Obama and the Politics of Illusion. He can be reached via his website, mh@michael-hudson.com.