A ideologia capitalista vive, no campo das fórmulas mágicas alheias à experiência e ao conhecimento. É um regresso às “dark ages” no campo político e social, apesar de todas as proezas tecnológicas. Neste sentido divulgamos alguns textos recentemente publicados no site norte-americano www.counterpunch.org., de dois autores que muito têm escrito sobre o tema (que daria um livro...). Falamos agora da UE, cada vez menos União e também sem saber de que terra é: uma jangada à deriva, sem governo, ao sabor dos ventos e marés das agências de notação financeira…
2 - Assim vai a UE
Escreve Mike Whitney (1) que os bancos da UE já não são capazes de encontrar fundos por eles próprios no mercado e dependem inteiramente do BCE. O novo presidente, Mario Draghi, tentando apoiar o sistema vacilante oferece empréstimos a 1% à banca. Só numa primeira emissão em dezembro foram entregues à 489 mil milhões de euros, mas apesar disto a situação dos bancos da UE é consideravelmente pior do que se podia imaginar.
Estão a tentar acumular dinheiro para cumprir requisitos, para pagar dívidas e cobrir os buracos deixados por clientes insolventes ou que estão a mover as suas poupanças para fora do sector com receio que a crise se intensifique.
Bancos que não emprestam a outros bancos, empresas ou consumidores, são um obstáculo para a economia.
Um relatório da OCDE é citado (OECD “Economic Outlook” 2011) mostra a preocupação que reina quanto á crise na UE. A crise da zona euro permanece um risco principal para a economia mundial – refere-se. As previsões apenas melhorarão se ações decisivas forem tomadas.
As políticas inconsequentes postas em prática na UE são criticadas por M. Whitney: severas penalidades para os “pecadores” orçamentais não constituirão um estímulo ao crescimento, regras mais estritas não irão eliminar os desequilíbrios contabilísticos, a crise continuará a crescer até que a união monetária eventualmente se fragmente.
O antídoto para a recessão é bem conhecido. Quando os consumidores são forçados a cortar as suas despesas e as empresas reduzem os investimentos o governo deve aumentar aumentar os gastos e manter a economia a funcionar. Na Europa todas estas medidas foram excluídas por atacado. Assim, a crise da dívida tenderá a atingir um clímax em 2012 forçando um ou mais membros a saírem da zona euro, preparando o caminho para uma maior rutura.
Michael Hudson (2) num artigo inicialmente publicado no Frankfurter Allgemeine Zeitung com o título “A guerra dos bancos contra os povos”, escreve sobre a transição na Europa da social-democracia para oligarquia. A Europa tornou-se um paraíso para a especulação, com medidas que poucos votantes aprovariam num referendo democrático. Depois do caso da Islândia os estrategas da finança aprenderam, a não arriscar submeter os seus planos ao voto democrático.
Para a “troika” o que quer que os mais ricos levem, roubem ou evadam da economia deve ser a população a pagar. Por exemplo, no que respeita à Grécia, somente na Suíça estão depositados 45 mil milhões de euros de fundos.
As medidas postas em prática pela “troika” representam um retrocesso relativamente ao que desde o século XIX políticos reformadores democráticos procuraram estabelecer para libertar a economia do desperdício, corrupção e rendimentos não merecidos. Isto é o que está a ser anulado por um conjunto de tecnocratas não eleitos com apoio da “troika”.
Esta ideologia é a mesma que desde os anos 1960 o FMI impôs aos países do Terceiro Mundo. Se o sistema bancário não estiver ao serviço da economia, o que Keynes designava por “eutanásia do rentista”, tornar-se à num novo modo de fazer a guerra aos povos.
Argumenta-se que sem um sistema bancário rentável - não importa quão predador possa ser - a economia entrará em colapso. Não importa se instituições de regulação ou adequada política fiscal podem ajudar, nada exepto passar o controlo para os lobbies bancários. Estes critérios são apresentados como ciência. Regulação financeira e política fiscal progressiva é agora dito aos eleitores que interferem com o “mercado livre”.
Ora, nas mãos dos neoliberais “mercado livre” é livre apenas para uma classe rentista favorecida pelos impostos para extrair juros, rendas e preços de monopólio. Os interesses rentistas são então designados “criação de riqueza”.
Não há qualquer razão económica ou tecnológica para as políticas que estão a ser impostas na UE pelos bancos que ganharam o controlo da política económica do BCE. O resultado só pode ser desemprego, mais impossibilidade de pagar dívidas e falências. Isto é pior que um plano de soma zero, no qual os ganhos de uns são as perdas dos outros. No final, a economia no seu todo irá reduzir-se. A democracia económica deu lugar à oligarquia financeira invertendo a tendência das décadas passadas.
O FMI e o BCE criando dinheiro que não poderá ser pago (fiat money) não altera as dívidas governamentais, contudo pretende preservar a riqueza e o controlo económico nas mãos do sector financeiro: “honrar as dívidas” passa a significar deflação pela dívida e contração económica generalizada.
1 - January 04, 2012 Mike Whitney, The Growing Crisis The Eurozone’s Looming Credit Crunch
lives in Washington state. He is a contributor to Hopeless: Barack Obama and the Politics of Illusion, forthcoming from AK Press.
2 - December 9-11, 2011 - Europe’s Deadly Transition From Social Democracy to Oligarchy. MICHAEL HUDSON is a former Wall Street economist. A Distinguished Research Professor at University of Missouri, Kansas City (UMKC), he is the author of many books, including Super Imperialism: The Economic Strategy of American Empire (new ed., Pluto Press, 2002) He is a contributor to Hopeless: Barack Obama and the Politics of Illusion. He can be reached via his website, mh@michael-hudson.com.
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