Na série de BD “O vagabundo dos limbos”, Gosciny, apresenta em “Que realidade, papá” o seu protagonista Axle Munshine na posse de um simpático bicharoco, um “distors”, proporcionado por uma “vidente extra lúcida”. Graças ao “distors” enquanto à sua volta ocorrem tragédias, horrores, violências de toda a espécie, Axle vê um mundo belo, puro, em que os seus desejos parecem sempre prestes a realizar-se, mas parecem apenas. Tudo não passa porém de um logro, de uma miragem, de uma realidade encenada. Além disto, o "distors" tem um inconveniente: é que se alimenta do seu sangue...Ora, é precisamente assim que funciona a alienação.
Qual o princípio condutor da alienação? Ver a realidade da forma mais conveniente para os interesses ou os desejos de outrem. Uma forma talvez mais sedutora, mas que no fundo anestesia, limita, distorce o poder de decidir, de optar, em benefício alheio.
Qual o princípio condutor da alienação? Ver a realidade da forma mais conveniente para os interesses ou os desejos de outrem. Uma forma talvez mais sedutora, mas que no fundo anestesia, limita, distorce o poder de decidir, de optar, em benefício alheio.
A alienação torna-se assim um mecanismo induzido nos oprimidos e nos explorados para se adaptarem-se à linha de pensamento dos opressores e exploradores como estratégia de sobrevivência.
Procura-se que as pessoas aceitem o que se lhes propõe sem se interrogarem sobre os seus verdadeiros fundamentos; procura-se por todos os meios denegrir e fazer esquecer os valores de progresso transmitidos do passado.
Quando os que defendem o neoliberalismo falam da crise de valores, fazem por ignorar ou escondem deliberadamente que a alienação pela qual o seu sistema sobrevive procura produzir em termos sociais seres humanos no modelo de Frankenstein: o ser sem memória, sem passado, sem perspectivas históricas. A alienação leva a que as pessoas deixem de querer pensar, analisar, concluir.
A humanidade aliena-se porque ignora ou se esquece o que os grandes e bons espíritos nos transmitiram, porque se afasta da sua luz.
Um outro aspecto da alienação é a servidão ao objecto transmitido pela designada sociedade de consumo. No entanto, a componente fundamental da alienação, da qual derivam todas as outras, consiste na perda de consciência do valor criado, valor-trabalho. Toda a economia política do sistema actual se baseia na alienação do conceito de valor, na alienação dos resultados do trabalho: trabalho desapossado, trabalho alienado. “O salário é uma consequência imediata do trabalho alienado”. “Trabalho alienado, significa vida alienada, ser humano alienado, ser humano desapossado”. (Marx – Manuscritos de 1844 p.72 e 71).
As medidas que o neoliberalismo apresenta para a resolução da crise em que os seus procedimentos mergulharam os povos consistem em aumentar a alienação, o desapossamento do valor criado pela força de trabalho, o desapossamento do ser pela eliminação de direitos sociais.
Os promotores da alienação ao serviço de um sistema iníquo, procuram assegurar pela crença na bondade do sistema através dos seus silogismos de verdade parciais ou meras premissas falsas, são apresentadas como leis infalíveis, inelutáveis, eternas.
A alienação existe para os que sofrem as degradações da pobreza, existe para os que vivem na opressão do trabalho sem direitos nem segurança, sujeito apenas às leis da maximização lucro. Estes estão fora da própria condição humana. Mas a alienação existe também para os que se subordinam à religião do consumo.
Mas para serem consumidores terão de tornar-se primeiro mercadorias. Cada indivíduo é confrontado com uma dupla personalidade: ora o incensado consumidor soberano ao qual se tecem loas e se organizam campanhas de sedução ora o produtor, um custo a abater, classificado como parasita se detém pela sua condição de trabalhador direitos sociais. Por um lado, uma aparência de potencial liberdade, por outro a tendencial condição de pária.
Um país paga caro quando os seus cidadãos não exercem as faculdades que possuem. A alienação é precisamente a forma de limitar, desapossar os seres humanos das suas capacidades humanas e humanistas, das suas potencialidades, dos seus direitos. Que se passa se não se exercem, se se gera um permanente desajuste entre a natureza humana e ambiente em que vive?
O que se passa é a disseminação dos desequilíbrios nervosos. Sociedades de pessoas alienadas, com distúrbios nervosos generalizados, que se mantêm à custa de antidepressivos ou outras drogas, quando não levados ao suicídio, imolados ao deus-mercado.
A alienação gera uma massa da Humanidade desapossada e a par disto, em contradição, um mundo de riquezas (Marx - A ideologia Alemã )
A partir do momento em que abrimos os olhos para a realidade mais profunda, para além das aparências, libertamo-nos da alienação.
Condorcet, como todos os iluministas tinha esperança no futuro da humanidade. Dizia: “A nossa esperança no futuro da espécie humana pode reduzir-se a estes três pontos importantes: a destruição da desigualdade entre as nações, os progressos da igualdade num mesmo povo e finalmente o aperfeiçoamento real do homem”.
Em suma, eliminando a alienação, eliminando o desapossamento do ser humano.
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