Agora os pirómanos vestem-se à pressa de bombeiros para apagar os fogos
de crise que atearam, diz-se que em fevereiro o governo apresentará um documento sobre “política
industrial” e no passado dia 13 o “Público” trouxe larga reportagem sobre o
tema. Foram ouvidos ex-ministros, economistas, dirigentes empresariais e
associativos. Tudo “farinha do mesmo saco” que levou o país para o desastre em
que se encontra ou apoiou ativamente.
Não vamos aqui apresentar alternativas, que as há, deixaremos para outra
ocasião, embora o “Público” obviamente faça por as ignorar – pluralismo, mas só
para os do mesmo clube ideológico.
As ideias são mais que velhas: não vão muito mais longe do que em meados
dos anos 60 os “liberais do regime” queriam: exportar mais, e incentivos para
“atrair capital estrangeiro”.
Várias das luminárias respeitosamente escutadas querem que se siga o
exemplo da Irlanda, nos anos noventa. Querem fazer omeletes sem partir os ovos,
parecem esquecer o que esteve subjacente aos transitórios “êxitos” da Irlanda
que continua sem sair da crise: o dumping fiscal e laboral, a livre
transferência de capitais, o investimento estrangeiro nómada.
Quanto aos incentivos, basta ver as verbas que foram despejadas na
economia nos EUA – 13 milhões de milhões para a finança, 800 mil milhões para
empresas não financeiras, com o resultado apenas de salvar megaempresas na
falência, que receberam dinheiros do Estado e despediram trabalhadores aos
milhares. Apesar dos massivos incentivos, anémicas recuperações são seguidas de
recaídas, a pobreza aumenta, os EUA são um Estado cada vez mais insolvente. A
receita não funciona em lado algum, mas não têm outra: tirar mais dinheiro
aos trabalhadores para entregar ao grande capital – sobretudo
transnacional - para fazer com ele o que
bem entenda; reduzir salários e direitos do trabalho em nome duma
competitividade dominada pela parte financeira e pelas rendas dos monopólios da
energia, telecomunicações, etc.
Por muito que exporte, qualquer economia está dependente do consumo
interno, aliás esta é uma condição para ganhar potencial no mercado externo. Os
feiticeiros da tribo neoliberal querem recuperação económica sem emprego e sem aumento
do consumo interno, - há mesmo quem diga que “os salários dos trabalhadores não
qualificados são altíssimos e o dos qualificados baixíssimos” – o que é meia mentira e meia verdade…- devia referir os rendimentos de administraçdores
e grandes acionistas, algo sempre escamoteado.
Ninguém fala dos condicionalismos dos tratados iníquos da EU, nem do
mercado interno, e muito menos de um plano económico (que deve soar como uma
blasfémia para esta gente).
O ministro da economia, para esconder as 500 falências por mês, anda
pelas “empresas de sucesso” a perorar, prometendo o que será dado à custa de mais austeridade e mais crise.
Refira-se que este “reindustrializar” revela também as contradições
no sector capitalista entre a esfera não monopolista e a os sectores monopolistas
e financeiros, que continuarão a agudizar-se.
1 comentário:
No dia em que o povo compreender coisas tão simples, isto muda...
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