Linha de separação


18 de janeiro de 2013

REEINDUSTRIALIZAR…dizem eles

Primeiro destruíram a indústria: era a modernidade e a sociedade pós-industrial. Chegaram a propagandear como um êxito a redução do peso da indústria no PIB e o aumento dos serviços. Bastava olhar para os crescentes défices da BC para compreender o que representava esta modernidade, que era também uma fórmula ideológica: a velha ambição  do “fim da classe operária” e de criar capital sem trabalho produtivo. Não eram poucas as vozes do PS que faziam parte deste coro.
Agora os pirómanos vestem-se à pressa de bombeiros para apagar os fogos de crise que atearam, diz-se que em fevereiro o governo apresentará um documento sobre “política industrial” e no passado dia 13 o “Público” trouxe larga reportagem sobre o tema. Foram ouvidos ex-ministros, economistas, dirigentes empresariais e associativos. Tudo “farinha do mesmo saco” que levou o país para o desastre em que se encontra ou apoiou ativamente.
Não vamos aqui apresentar alternativas, que as há, deixaremos para outra ocasião, embora o “Público” obviamente faça por as ignorar – pluralismo, mas só para os do mesmo clube ideológico.
As ideias são mais que velhas: não vão muito mais longe do que em meados dos anos 60 os “liberais do regime” queriam: exportar mais, e incentivos para “atrair capital estrangeiro”.
Várias das luminárias respeitosamente escutadas querem que se siga o exemplo da Irlanda, nos anos noventa. Querem fazer omeletes sem partir os ovos, parecem esquecer o que esteve subjacente aos transitórios “êxitos” da Irlanda que continua sem sair da crise: o dumping fiscal e laboral, a livre transferência de capitais, o investimento estrangeiro nómada.
Quanto aos incentivos, basta ver as verbas que foram despejadas na economia nos EUA – 13 milhões de milhões para a finança, 800 mil milhões para empresas não financeiras, com o resultado apenas de salvar megaempresas na falência, que receberam dinheiros do Estado e despediram trabalhadores aos milhares. Apesar dos massivos incentivos, anémicas recuperações são seguidas de recaídas, a pobreza aumenta, os EUA são um Estado cada vez mais insolvente. A receita não funciona em lado algum, mas não têm outra: tirar mais dinheiro aos trabalhadores para entregar ao grande capital – sobretudo transnacional -  para fazer com ele o que bem entenda; reduzir salários e direitos do trabalho em nome duma competitividade dominada pela parte financeira e pelas rendas dos monopólios da energia, telecomunicações, etc.
Por muito que exporte, qualquer economia está dependente do consumo interno, aliás esta é uma condição para ganhar potencial no mercado externo. Os feiticeiros da tribo neoliberal querem recuperação económica sem emprego e sem aumento do consumo interno, - há mesmo quem diga que “os salários dos trabalhadores não qualificados são altíssimos e o dos qualificados baixíssimos” – o que é meia mentira e meia verdade…- devia referir os rendimentos de administraçdores e grandes acionistas, algo sempre escamoteado.
Ninguém fala dos condicionalismos dos tratados iníquos da EU, nem do mercado interno, e muito menos de um plano económico (que deve soar como uma blasfémia para esta gente).
O ministro da economia, para esconder as 500 falências por mês, anda pelas “empresas de sucesso” a perorar, prometendo o que será dado à custa de mais austeridade e mais crise.
Refira-se que este “reindustrializar” revela também as contradições no sector capitalista entre a esfera não monopolista e a os sectores monopolistas e financeiros, que continuarão a agudizar-se.

1 comentário:

Formiga disse...

No dia em que o povo compreender coisas tão simples, isto muda...