Ainda Paulo Núncio e as estatísticas fiscais
A divulgação,
por parte de um jornal diário, há cerca de quinze dias da informação de que o ex-Secretário
de Estado dos Assuntos Fiscais do anterior governo PSD/CDS, Paulo Núncio, tinha
deliberadamente ocultado informação estatística tributária referente às
transferências financeiras para offshores e para territórios com tributação
privilegiada, entre 2011 e 2015 caiu que nem uma bomba entre os portugueses.
Fala-se em cerca
de dez mil milhões de euros que foram transferidos para paraísos fiscais neste
período, valores que não só não foram publicitados pela autoridade tributária
como não foram objecto de qualquer fiscalização por parte da mesma autoridade.
Se em qualquer
circunstância o comportamento de Paulo Núncio, militante do CDS e conhecido
advogado especialista nesta área das transferências para offshores, ao ocultar
a divulgação desta informação seria sempre altamente censurável, o facto de
tudo isto acontecer em pleno período de intervenção da Troika no nosso país,
quando os trabalhadores e o povo português eram submetidos a um verdadeiro
ataque e assalto por parte do governo PSD/CDS e ao mesmo tempo que o sector
financeiro se desmoronava, com a falência do BPN, BES e BANIF, tornam ainda
mais suspeito este seu comportamento.
Não será difícil
concluir que muitas destas transacções financeiras deverão ter tido origem na
situação que atravessavam estes Bancos, podendo corresponder objectivamente a
operações de fuga e evasão fiscal de capitais.
É caso para
dizer que Paulo Núncio foi neste caso, o homem certo, na hora certa e no lugar
certo para defender os interesses dos grandes especuladores financeiros
nacionais e internacionais. Dificilmente encontrariam melhor.
Mas a actuação de
Paulo Núncio a propósito da divulgação das estatísticas tributárias, que já
seria gravíssima pelo que atrás se referiu, não se ficou por aqui, ele foi
muito mais além.
Ao mesmo tempo
que procedia desta forma em relação à divulgação das estatísticas tributárias
das transferências para offshores, o ex-Secretário de Estado dos Assuntos
Fiscais atrasava deliberadamente a divulgação das estatísticas tributárias
referentes à cobrança do IRS, IRC e IVA. Toda a informação referente à cobrança
do IRS em 2013, ano do enorme aumento deste imposto sobre os trabalhadores e
reformados e pensionistas, toda a informação sobre a cobrança do IRC com os
bónus concedidos através da sua redução e a informação sobre a cobrança do IVA
e o impacto do aumento das taxas do IVA sobre a electricidade, gás e o sector
da restauração, foi atrasada de forma a ser divulgada apenas a poucos dias das
eleições do dia 4 de Outubro de 2015.
Apesar das
inúmeras vezes em que este Sr. ex- Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais e
os ex-Ministros das Finanças, Victor Gaspar e Maria Luís Albuquerque, foram
questionados na Assembleia da República sobre esta matéria, nunca qualquer
justificação foi fornecida para os atrasos que se verificavam e mais do que
isso não poucas vezes procuraram responder com a informação sobre estatísticas
fiscais divulgadas pelo INE, sabendo eles muito bem que essa informação
estatística nos permite apenas conhecer o valor global de cada imposto cobrado
anualmente e nada mais. O verdadeiro impacto do enorme aumento de impostos
sobre os trabalhadores e o povo só é detectável com as estatísticas fiscais
divulgadas pela autoridade tributária. Essa informação, esconderam-na
deliberadamente.
Sem procurar
desculpabilizar Paulo Núncio, que conhecia suficientemente a importância que
toda esta informação sobre as estatísticas tributárias tinha junto das forças
políticas da oposição e como era importante ocultá-la pelo seu impacto político,
não tenho dúvidas de que só foi possível esconder esta informação durante
quatro anos e meio, porque essa era uma estratégia deliberada do Governo
PSD/CDS e como tal ela responsabiliza-o na sua totalidade e em particular os
ex- Ministros das Finanças e o Primeiro-Ministro.
José Alberto
Lourenço
Sem comentários:
Enviar um comentário