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4 de abril de 2019

O verde da Iberdrola

Agostinho Lopes.
VERDE QUE TE QUERO VERDE
«A Iberdrola oferece aos clientes a possibilidade de contratarem Energia Verde, proveniente de fontes de energia certificadas e totalmente renováveis, que evitam as emissões de gases contaminantes e reduzem o efeito de estufa.» (Publicidade da empresa)
Não se quer profanar o poema de Frederico Garcia Lorca, assassinado por Franco e seus comparsas fascistas, ele que é «o poeta meu muito amado» (1). Mas, como dizia a publicidade antigamente, «estes publicitários são uns exagerados». E para vender, vale tudo. E tudo indica que o “verde” (além do vinho) está a vender bem! Como se sabe da tentativa de compra de votos pelo Governo PS, vendendo um tal Roteiro da Neutralidade Carbónica, um projecto que pretende matar vacas e justificar o gasóleo mais caro. É aproveitar a onda. Contudo, a propaganda da Iberdrola, ultrapassa os limites do imaginável. É ficção científica.
Seria interessante perceber como a partir do Despacho da REN, a Iberdrola garante o envio de apenas “electrões verdes” até aos seus clientes, com um contrato de «Energia Verde». E qual a rede de transporte e distribuição de energia que fazem, por exemplo, chegar esses «electrões» a um lar com tal contrato, num prédio de 20 apartamentos, cada um com um contrato de abastecimento de energia diferente!
Por sua própria informação, a Iberdrola diz-nos que o seu «Mix de Produção» em Julho de 2018, foi de cerca de 40% renovável e 60% não renovável. No ano de 2017, 26% renovável e 74% não renovável. E que o seu «Mix de Fontes de Energia do Produto Verde» é 100% de origem hídrica. Seria interessante saber-se como contabiliza a Iberdrola a energia produzida em centrais hidroeléctrica de barragens, com a água bombada para jusante durante a noite (o período de vazio), com motores-bomba accionados por energia eléctrica obtida nas suas centrais a carvão (39% do Mix em 2017) ou nucleares (5% do Mix em 2017). Qual é a «cor» dessa energia hídrica, muito barata, porque produzida por uso de energia barata – carvão e nuclear?   
É certamente com o objectivo de transformar energia não renovável, em renovável, tendo como fonte originária o nuclear e o carvão, ou mesmo o gás natural, que a Iberdrola tem em construção no nosso país a chamada Cascata do Tâmega, com centrais hidroeléctricas em 3 barragens (o projecto inicial era de 4 barragens), com sistema de bombagem. Ou o anúncio por estes dias do interesse na compra de barragens à EDP, depois desta ter por sua vez referido a possível venda de activos, entre outros, de centrais hidroeléctricas.
Nada como anunciar a electricidade verde, e juras de que «Na Iberdrola, sabemos que enfrentar as alterações climáticas e demais impactes ambientais é um importante compromisso onde todos devemos estar envolvidos.» Uma «estratégia» que diz vai concretizar-se com mais «hídrica», «eólica», «produção térmica ambientalmente mais eficiente», «centrais de ciclo combinado de gás natural» e… o que não diz, com a continuação da aposta no nuclear, com a sua forte participação nas centrais nucleares de Almaraz I (100%), Almaraz II (53%), Trillo (49%), Vandelós II (28%), e Ascó II (15%). Não por acaso, a Iberdrola, a Endesa e a Naturgy, empresas proprietárias da Central de Almaraz, terão acordado pedir a prorrogação da vida útil do Reactor I, até 2027 e do Reactor II até 2028, quatro anos mais para lá do limite previsto de 2021, resultado já da prorrogação do anterior limite de 2011! Isto é só verdura.
Fica-se a aguardar, a explicação tecnológica da Iberdrola, para a «pintura verde» dos electrões, para clientes que optem pelo «Produto Verde».          

  1. De um verso do doloroso poema de Vinícius de Morais «A Morte de Madrugada»

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