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18 de fevereiro de 2022

Abel Mateus e a pregação do liberalismo

 A dita “inteligência” do sistema (neo)liberal assemelha-se aos pregadores que no passado aterrorizavam as gentes anunciando as penas do inferno a quem não seguisse os seus dogmas e cedesse às tentações do diabo. Também o PSD anunciava que “vinha aí o diabo” devido a medidas que o PS implementava pressionado pelas propostas do PCP

Agora, aproveitando o PS à solta (pelo menos no Parlamento) estes “dominicanos” do (neo)liberalismo aproveitam para difundir a sua doutrina de submissão da força de trabalho e contra as funções sociais do Estado.

Diz o sr. Abel Mateus: “Este intervencionismo do Estado tem de ser retirado para que haja um maior dinamismo da iniciativa privada e empresarial.” “Essas reformas começam, por uma redução das taxas de imposto para dar um choque fiscal e permitir que as empresas tenham mais lucros para reinvestir e permitir que as pessoas tenham maiores incentivos para trabalhar, para poupar e investir.” Isto significa que só há uma alternativa que é reduzir também a despesa corrente primária. Portanto, é preciso fazer alguns sacrifícios no curto prazo para ganharmos fôlego para um crescimento mais rápido”. “Não é possível continuar a aumentar a despesa corrente primária com baixo crescimento”, com ausência de crescimento “não há possibilidade da economia poder reduzir substancialmente a dívida e ao mesmo tempo aumentar o rendimento das pessoas”.

É fácil descobrir o chorrilho de contradições que, mesmo sem ir mais longe no texto, aqui aparecem entre os sacrifícios que “temos de fazer”, o crescimento o aumento da poupança, etc. Já vimos quem fazia os sacrifícios no governo PSD-CDS e mesmo no PS à medida que o tempo avançava. Note-se que com estes sacrifícios “para reduzir a dívida” ela aumentou de 94% chegando a 130%, aumentou a pobreza, o país teve crescimento negativo. Mas nada os demove dos seus dogmas! E são (os únicos) ouvidos!

O sr. A M considera que dando mais aos ricos estes investem. A tese é antiga (do século XVIII) nada tem que ver com Adam Smith e ressuscita pelo liberalismo radical: a economia do lado da oferta. Havendo oferta (portanto dar dinheiro aos mais ricos para investirem) há sempre procura, álibi do neoliberalismo. O capital só investe se houver procura (mercado) e só se compra o que os salários podem pagar e o que for obtido como rendimento pelas prestações sociais do Estado. E isto é uma lei.

Estes pregadores omitem o efeito do euro sobre as economias do Sul da Europa. Esquecem que o capital circula livremente sem pagar impostos para paraísos fiscais, empobrecendo o Estado, os trabalhadores, as MPME, enfim o país, reduzindo a procura agregada. É isto que aquelas medidas fazem.

Que nos anos 1980 muita gente tenha ignorado ou esquecido o que era capital fictício, ainda se admite. Mas 40 anos depois é absurdo. Só a mera submissão a dogmas que a UE impõe e os do euro, o justifica. São meros pregadores da “democracia oligárquica” assumida como religião do “fim da História”. Mas não é.

Observemos então o que se passa no país que dita defensor desta fé, qual papado e também na UE. Entre 200 e 2019 o crescimento real anual foi na UE 1,4% (isto incluindo o “êxito” dos países do Leste!) na Zona Euro uns 1,18%, com a Grécia (0,06%) Itália (0,2%) Portugal (0,7%). Deste conjunto destaca-se a Irlanda (4,58%) como paraíso fiscal para as transnacionais. A Espanha atinge 1,64%, de qualquer forma medíocre apesar de inflacionados por bolhas imobiliárias e especulação financeira.

Perante estes resultados, que mostram o falhanço da UE e do euro no alinhamento neoliberal, seria de questionar este modelo incapaz de garantir um crescimento mínimo. Mas não. Os frades neoliberais seguem à risca as bulas que burocracia de Bruxelas determina. Acham que é preciso acabar com o “pecado nefando” que o Estado Social comete contra a oligarquia (chamam-lhe “as empresas”…)

Veremos seguidamente como o que se passa na metrópole deste império.

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