A política externa americana caracteriza-se por estar fanaticamente obcecada em afirmar sua hegemonia, independentemente do seu realismo. É na realidade uma política que enfrenta cada vez mais resistências e muito mais fortes que anteriormente. Está já constituído um bloco euro-asiático da Bielorrússia ao Mar do Sul da China, incluindo o Irão, a Síria, a RPDC (Coreia do Norte). O Iraque, o Paquistão, o Afeganistão, de uma forma ou de outra desligam-se da hegemonia norte-americana. A NATO não pode contar com a Turquia. A China e a Rússia penetram em África, perante o nervosismo dos EUA e da UE.
O comércio através da “Nova rota da Seda” (BRI) aumentou 23,6%O investimento estrangeiro direto (IED) na China aumentou 20,2% em dólares, o PIB cresceu 8,1% em 2021. A China é o maior país exportador de bens pelo 8º ano consecutivo. No Médio Oriente, a China estabelece relações amigáveis, sendo sintomática a presença de vários dirigentes árabes na abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno (que os EUA tentaram boicotar!)
Na América Latina a China é já o maior parceiro comercial e Vladimir Putin conversou com os líderes de Cuba, Venezuela e Nicarágua concordando em intensificar a colaboração com eles em várias áreas, incluindo assuntos militares.
A tentativa de explorar dissidências entre a Rússia e a China foi frustrada. Na recente reunião entre Xi e Putin, foi reforçada a cooperação para lidar com interferência externa, apoiar a soberania, a segurança e os interesses de desenvolvimento de cada um para enfrentarem a interferência externa e as ameaças regionais. A Rússia reafirmou o apoio ao princípio de uma só China e se opõe a qualquer forma de “independência de Taiwan”. A China também se opõe a uma maior expansão da NATO pedindo ao bloco que abandone as abordagens da Guerra Fria e respeite a soberania, a segurança e os interesses de outros países. É evidente que A China e a Rússia mostram aos EUA e NATO que não permitirão ingerências tipo “revoluções coloridas” na Ásia Central, como ficou demonstrado no Cazaquistão e Arménia. A ligação entre a Rússia e a Bielorrússia foi também reforçada com a aprovação de uma nova doutrina militar e a elaboração de documentos de integração dos dois países.
Se os EUA pensavam que iam atrair a Rússia para uma armadilha na Ucrânia, esse objetivo é cada vez mais longínquo. De toda a confusa encenação resultaram contraditórias tomadas de posição: afinal a NATO não se prepara para enviar tropas para a Ucrânia… embora já lá estejam. O palhaço Boris Johnson afirma que nenhum membro da NATO se prepara para uma implantação em larga escala na Ucrânia. Se Putin invadisse a Ucrânia seria para a Rússia um “derramamento de sangue”, “trágico” e “fútil”, por causa da “feroz” resistência ucraniana. (!)
Outro palhaço, o secretário-geral da NATO, Stoltenberg, em contradição com o que andou a dizer durante semanas, descartou a possibilidade da Aliança enviar tropas de combate para a Ucrânia. "Estamos a concentrar-nos em oferecer apoio à Ucrânia, ajudando-a a exercer o seu direito de autodefesa. Ao mesmo tempo, estamos a enviar a mensagem à Rússia de que imporemos sanções severas se, mais uma vez, usarem a força contra a Ucrânia". Não há "certeza sobre as intenções" do presidente russo, mas o envio de dezenas de milhares de soldados para a fronteira ucraniana, trata-se de "retórica muito agressiva" bem como precedentes do "uso da força" contra a Ucrânia. (Lusa - CNN Portugal 2022/01/30)
Os EUA alegadamente para deter os tais 100 mil soldados russos enviam alguns milhares para países da NATO. É quase um convite para a Rússia invadir a Ucrânia! Mas a Rússia não lhes faz esse favor que permitiria verem-se livres desse Estado tóxico e disfuncional e obrigar países NATO a comparem mais armas aos EUA, etc.
Garantido são as divisões que a encenação criou na UE. O presidente da Croácia anunciou que retirará suas tropas dos contingentes da NATO estacionadas na região caso a situação se transforme em um conflito em grande escala. As autoridades de Zagreb “não têm nada a ver com isso e nós não teremos nada a ver com isso, garanto”.
A Hungria também se afasta da NATO e desenvolve uma ligação íntima com a Rússia. O volume de comércio aumentou 30% no último ano. Projetos de grande escala prosseguem, como a construção de centrais nucleares. Putin e Orban reuniram-se em Moscovo para conversações e assinar um grande acordo de energia que permite à Hungria comprar gás com desconto até 2036, muito mais barato que a taxa do mercado europeu.
A posição da Alemanha também se distancia dos EUA – apesar das contradições dentro do governo – como ficou patente na indecisa reunião do chanceler Scholz com Biden. Macron pediu que a UE inicie seu próprio diálogo com a Rússia , sem intermediários (leia-se EUA). “A segurança do nosso continente exige um reforço estratégico da nossa Europa como potência de paz e equilíbrio particularmente no diálogo com a Rússia.” Discurso que causou preocupação em Washington. Obedientemente o irrelevante alto comissário da UE, Josep Borrell, afirmou que Macron “não disse que os europeus apresentariam suas próprias propostas aos russos.” Entretanto Macron foi a Moscovo falar com Putin. Deve ter ouvido das boas...
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