A história repete-se primeiro como tragédia, depois como farsa, disse Marx, mas não é uma lei. Vem a propósito mencionar um caso pouco pouco referido ou mesmo conhecido, a invasão alemã da Grécia em abril de 1941 e da ilha de Creta em maio.
Relativamente à invasão da URSS em 21 de junho de 1941, cita-se a informação do espião soviético Sorge esquecendo que esta era uma das muitas informações que a direção soviética recebia, mesmo contraditórias sendo que várias eram avançadas pelos próprios nazis.
A direção soviética – pode ler-se Estaline – não tinha dúvidas que a agressão alemã estava prevista era só uma questão de tempo: a data. Em 1931, Estaline perante a Comissão Política tinha declarado, de forma premonitória: “temos 10 anos para nos industrializarmos ou estamos perdidos.”
Perante as informações que chegavam era necessário que os serviços secretos confirmassem factos e fontes pois a direção soviética receava que uma mobilização intensa e deslocação de tropas para as fronteiras desse aso a que a Alemanha considerasse uma provocação e intenções agressivas. Recorde-se que a invasão da Polónia foi vendida pela propaganda nazi como ato de defesa e contra-ataque.
A URSS tinha necessidade de adiar o mais possível a agressão nazi. Apoiando esta estratégia outra circunstância ocorreu: a invasão de Grécia (abril de 1941) e de Creta em maio (ver Creta 1941, Antony Beevor, Bertrand Editora). A descrição detalhada destas ações mostram a total incapacidade em termos táticos e estratégicos das tropas britânicas, em guerra desde 1939, note-se. Os críticos da “incompetência” da direção soviética deviam ter isto em conta.
A mobilização geral soviética foi por fim posta em prática no limite da agressão nazi. A opinião de Goebbels, exposta no seu diário, mostra como a complexa preparação tática e estratégica soviética estava muito à frente de qualquer outro adversário da Alemanha. A 24 de junho (dois ou três dias depois do inicio) escrevia Goebbels: “o inimigo combate bem” “os russos defendem-se corajosamente. Não cedem.” Dias depois: “Segundo os nossos dados Moscovo dispõe ainda de cerca de 2 000 aviões utilizáveis. Os bolchevistas continuam a combater com obstinação e fúria”. A 27 de junho: “ uma divisão couraçada rompeu as linhas dos nossos carros armados”. A 1 de julho: “os russos resistem mais do que poderia prever-se. As nossas perdas em homens e material são notáveis.”
A História está agora a repetir-se de duas formas: os nazis instalaram as suas tropas nos países aliados ou submetidos, da Finlândia à Roménia, na proximidade das fronteiras soviéticas, como atualmente a NATO faz em relação à Rússia. Note-se que a Alemanha tinha ao seu dispor toda a restante Europa em termos materiais e em vários casos humanos. Porém o avanço de tropas soviéticas seria considerado uma ameaça e dar pretexto a retaliação.
Algo que também se repete, é da propaganda. Escrevia Goebbels. “Recorremos também a meios de propaganda mais fortes, já postos à prova quando da campanha do Ocidente, como a difusão do pânico, etc.”
A principal diferença relativamente a 1941, é que agora militarmente a Rússia tem significativa superioridade sobre a NATO. Só isso a salva de um provocação em larga escala que a obrigasse a intervir. Os misseis hipersónicos russos contra os quais os EUA/NATO não têm defesas adequadas nem para os seus navios nem para objetivos terrestres como os centros de comando e controlo da NATO contra os quais serão utilizados em caso de qualquer forma de agressão contra a Rússia, no dizer de V. Putin.
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