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3 de fevereiro de 2022

O vírus da extrema direita ataca. É urgente uma adequada vacina.

Portugal era de facto anómalo enquanto a extrema-direita proliferava em vários países europeus. Mas isso foi resolvido: pegaram numa figura com perfil para os media ou promovida a tal e andaram com ela. Não precisam pensar muito, a agenda está de antemão preparada e é servida em qualquer parte do mundo. Mas para que o vírus da extrema-direita alastre é preciso que o corpo social perca resistências, que as vítimas da exploração e marginalização percam a consciência de classe, objetivo central da extrema-direita.

A extrema-direita é mais uma consequência da persistente crise capitalista e do agudizar das suas contradições. É o resultado em termos ideológicos de anos de calúnias contra tudo o que mesmo com leves traços progressistas pusesse em causa privilégios do grande capital e de paranoia anticomunista.

A ignorância política, a promoção do individualismo afasta as pessoas do que socialmente lhes diz respeito, fomenta personalidades  antissociais,  propicia a adesão a teses da extrema-direita. O reformado ou o trabalhador desinformado, com algumas centenas de euros por mês, no limite da pobreza e exclusão social, acaba por se revoltar contra o que recebe, alinhando pela insídia a favor de partidos que lhe retirariam ainda mais direitos e rendimentos.

A extrema-direita diz ser contra o sistema, mas faz suas as reivindicações da oligarquia. É contra a progressividade dos impostos, quer um imposto único sobre o rendimento e toma como preferencial os impostos sobre o consumo, uma ideia perversa para os menores rendimentos, vantajosa apenas para os mais ricos.

Graças ás políticas de direita, Portugal é dos países de maior desigualdade na distribuição da riqueza: em 2017, 10% das famílias com maior riqueza liquida detinham 53,9% da riqueza total das famílias, as 50% mais pobres 8,1%. Em Portugal, segundo informação em 2016, os mais ricos entre os ricos não pagam os impostos devidos e o prejuízo para o Estado estimava-se na ordem dos 3 mil milhões de euros!

A extrema-direita é contra os apoios sociais do Estado, afirmando a boçalidade de que metade do país anda a trabalhar para a outra metade. Não, 99% do país anda a trabalhar para os 1% que fogem descaradamente aos impostos. Perante isto, o que perspetivam é o regresso à "caridadezinha" salazarista, com a "assistência aos carenciados" a ser feita pelas associações de beneficência, igrejas, empresas (!?), autarquias locais, competindo ao Estado o papel de auxílio supletivo. (?)

Os países onde a extrema-direita se instalou, foram cenários de crises e repressão extremas. Com as bandeiras anti-corrupção e eficiência económica, semearam misérias, perseguições, crimes políticos, economias destroçadas e totalmente endividadas, obscenas desigualdades, corrupção contra bens públicos.

Se não fosse a audiência que lhes é concedida direta ou indiretamente pelos media, as políticas da direita e extrema-direita não passariam de mera ignorância e obscuras lucubrações. Mas os “comentadores” nunca analisam as causas, escamoteiam-nas ou deturpam-nas, servem-se dos seus efeitos para criticar tudo o que tenha um aspeto progressista. Agitar a indignação na superfície das coisas é a forma de esconder o poder oligárquico e seus procedimentos.

Os enormes lucros e a extrema desigualdade resultante da exploração capitalista não foram nem são capazes de tirar o sistema da sua crise estrutural. As políticas de "ajustamento estrutural" não só se revelaram totalmente ineficazes para resolver desequilíbrios internos e externos como contribuíram mesmo para propagar as causas da crise. Mas é isso que as políticas de direita continuam a propor. Obedientemente, a extrema-direita não tem outras, além de querer impor mais "disciplina" sobre os trabalhadores restringindo a ação dos sindicatos, apresentados como "grupos de pressão".

Quando se afirma que o "Estado Social tem de ser associado às disponibilidades que o Estado tem", está-se a dizer que as prioridades são as da especulação e da agiotagem fomentada e protegida na UE pelo BCE. Porém, que "disponibilidades" existem ou se criam quando o Estado deixa fugir a riqueza criada no país para paraísos fiscais e entrega ao desbarato a grupos privados empresas públicas lucrativas?

Vale o postulado do liberalismo que "a melhoria das condições de vida da classe trabalhadora é sobretudo um problema de aumento da produção e de organização dos mercados e não um problema de redistribuição de riqueza".

Com isto procura-se que as pessoas fiquem disponíveis para aceitar como sem alternativa e sem reivindicações, as regras ditadas pelos monopólios e pela finança, deixando funcionar o "mercado" e a "livre empresa". É fácil odiar o vizinho sindicalista, o "preto", o cigano, o comunista, difícil é "comentadores" atribuírem o que está mal aos oligarcas com fortunas nos paraísos fiscais, escondidos pela "mão invisível" dos "mercados".

A extrema-direita aparece sempre mascarada de “democracia” (a oligárquica) e liberdade. Também o fascismo salazarista na sua Constituição tinha inscrito a "liberdade de reunião, associação e expressão", suprimida por leis de "segurança". Depois de 1945 foram instituídas "eleições livres" - sabemos (infelizmente) o que esta farsa representou para o povo português: mais repressão.

O avanço da extrema-direita é uma tragédia que tem que cessar. É cada vez mais urgente o esclarecimento militante.

1 comentário:

Anónimo disse...

Não há pior cego, que aquele que se recusa a ver. Porque será que os portugueses estão a votar à direita, não na direita do CDS, mas na do Chega? Será porque estão contentes com a esquerda? Será que querem a esquerda a defender os imigrantes e a esquecer-se dos portugueses que trabalham e pagam para eles? O que fez a esquerda quando Costa decretou a ditadura-sanitária? O que devem os putativos votantes na esquerda, achar das preocupações de um famoso sindicalista (Mário Nogueira) acerca das injecções de manipulação dos genes? A esquerda deixou de se preocupar em repor o poder de compra, que o Vírus da inflação infecta as carteiras de quem trabalha e pouco recebe? A esquerda, PCP e ... contentaram-se com o prato de lentilhas no pós 25 de Novembro, agora contentam-se em pisar de vez em quando os tapetes do Poder como convidados. Chega-lhes fazer parte do Circo parlamentar. Tudo bem. Cada um sabe de si. Eu sei de mim. Querem palhaçada? Vamos escolher um palhaço encartado, um artista, um verdadeiro artista. Quanto a absterem-se da implantação da ditadura-sanitária (2020), os comunistas russos são contra as medidas decretadas à pala da "epidemia" contra as liberdades do Povo na Rússia e são a 2ª força, agora o PCP teve a resposta, na próxima talvez sejam varridos da AR como o CDS. Se é para ter "fascistas", ah!!! então quero "fascistas" a sério. Acordem! Olhem-se ao espelho e deixem de repetir a K7. O Mundo mudou e a esquerda deveria ter acompanhado a mudança. Acompanharam, pois acompanharam, temos 'gays', temos animais com mais direitos que pessoas, temos drogas, temos casamentos contra-natura, temos a defesa de imigrantes-invasores de Portugal, temos baratas-tontas preocupadas com o Planeta, as carochinhas e as ervinhas. Temos tudo. Não sei de que se queixam.