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30 de março de 2023

Ainda o Mondego e os Kennedy

 Das redes sociais! Cap. Vasco Lourenço

Caros Associados

Junto reflexão pessoal sobre o caso do Navio-Patrulha "Mondego", tendo presente a minha experiência enquanto GML.

Cordiais Saudações de Abril

Vasco Lourenço

O sucedido com a atitude de 13 militares da Armada, ao recusarem embarcar no navio-patrulha “Mondego”, lembra-me o caso dos “29 Capitães, do Curso de Actualização e Aperfeiçoamento para Capitães (CAAC)” passado na Escola Prática de Infantaria (EPI) em Mafra, em Outubro/Novembro de 1977.

Não vou comentar a diferença de tratamento público dado aos dois casos: enquanto em 1977 nada saiu nos jornais, neste caso do “Mondego” o tratamento nos órgãos da comunicação social é totalmente diferente.

Sabemos que os tempos são diferentes, vivemos numa luta desenfreada, dirigida por populistas, com recursos financeiros pelos vistos inexpugnáveis, onde a mentira, o escândalo e a especulação são o “pão nosso de cada dia”.

Como resultado disso, até assistimos a um idiota cobardolas (será mesmo anónimo ou não passará de uma invenção de quem publicou essa notícia?) vir explanar a ideia de que é o dedo do PCP que, através da Associação Nacional de Sargentos, está por de trás da atitude dos marinheiros.

Pois se o navio a controlar até era um navio russo!

Que melhor justificação queriam, para levar os marinheiros a um “acto de insubordinação intolerável”, como o General Alfredo Cruz, ex. Comandante Operacional dos Açores e do Centro de Operações  conjunto da Nato classificou a actuação desses 13 marinheiros?

Como “comunistas empedernidos”, ou no mínimo ingénuos instrumentalizados, podiam lá permitir que um navio do “país dos comunas” pudesse ser controlado, ao passar ao largo da costa portuguesa!

Se o ridículo matasse teríamos assistido a mais uns quantos assassinatos, mas convenhamos que a asneira  deveria ter limites. Mas, como podemos constatar, não! Esses limites não existem…

Basta olhar para o título de uma noticia publicada num diário (CM): “Marinha deixa navio russo passar a 30 Km da Madeira”.

Um leitor desprevenido concluirá que a Marinha tinha por missão impedir a passagem do navio russo, mas que ao não cumprir a missão, terá permitido a passagem do mesmo.

Disse que não iria comentar o “barulho” feito publicamente, mas já me alonguei mais do que o previsto. Por isso, fico por aqui.

Vejamos então o que me levou a comparar as duas situações, tão distintas no tempo.

Em 1977, após um curso de Capitães na EPI, onde estes foram enganados pelo Estado Maior do Exército (EME) – a garantia de que o curso não teria classificação não se verificou e os Capitães, com vários anos de Capitão e desempenho de várias missões próprias do posto, frequentaram um curso de actualização para Tenentes e viram o seu desempenho nesse curso impropriamente e ao contrário do prometido, ser sujeito a uma classificação – um novo curso de Capitães se iniciou, com a promessa do EME, fortemente pressionado por mim enquanto Governador Militar de Lisboa (GML) – de não se proceder a qualquer classificação.

No entanto, os Capitães seriam colocados perante a obrigatoriedade de serem sujeitos a um teste escrito, que os levou a decidirem realizar a prova, mas não a assinarem.

Escândalo! O EME exigia sangue, exigia que os 29 Capitães fossem punidos disciplinar e exemplarmente!

Como GML, responsável da disciplina nas respectivas unidades, pesando todos os elementos, recusei a pressão do Chefe de Estado Maior (CEME), que me exigia uma punição mínima de 3 dias de prisão disciplinar a cada Capitão, e apliquei a cada um dos prevaricadores uma simples repreensão. Tendo o cuidado de, através das atenuantes elencadas, ter transformado essa repreensão num autêntico louvor aos oficiais punidos. Acrescentando, no meu despacho, a referência aos oficiais do EME (com um General à cabeça) que considerava os principais responsáveis pela situação verificada, sugerindo que, dado eu não ter qualquer competência disciplinar sobre eles, o CEME utilizasse a sua própria competência para os punir.

Como esperava, o que então afirmei pessoal e previamente ao CEME consumou-se: ele não teve coragem, nem para punir os verdadeiros responsáveis, nem para agravar a Repreensão que eu dera aos 29 Capitães…

Porquê este reviver do que se passou comigo em 1977?

É que assisto à repetição da situação, agora com contornos muito mais graves.

Perante o conhecimento das circunstâncias da atitude dos 13 militares do “Mondego” não tenho quaisquer dúvidas – aqui, porque sou dos que por vezes tem dúvidas e também se engana – de que a responsabilidade maior do sucedido não pertence aos 13 militares, mas sim a quem – e serão muitos e diversos, não apenas militares mas também responsáveis políticos – que criaram, ou deixaram criar, as condições que forçaram esses militares a assumir uma atitude que se apreciada liminarmente, tem de ser considerada indisciplinada.

Daí que aqui deixe um apelo: Não espero – seria uma enorme surpresa se isso acontecesse – que os principais responsáveis, políticos e militares, sejam punidos pelas suas acções que criaram as condições para a atitude de indisciplina dos 13 militares do “Mondego”!

Mas tenho esperança que os responsáveis pela aplicação da disciplina no navio-patrulha “Mondego” saibam compreender que o gesto desses militares tem tais atenuantes que não pode ser visto como uma “grave e intolerável insubordinação”. As atenuantes são tão fortes que, podendo não apagar totalmente o acto de indisciplina, justificam plenamente que o mesmo seja resolvido com uma simples Repreensão.

Por mim, passados estes 46 anos, confesso que mantenho a mágoa de não ter tido a lucidez e a coragem de pura e simplesmente, não ter sequer repreendido os 29 Capitães (alguns estavam e continuam a estar entre os melhores amigos).

2 do Facebook de C. Fino
 OPERAÇÃO SECRETA DOS KENNEDY  NA SICÍLIA

por Seymour Hersh

Imagem: Robert F. Kennedy. / Foto da Biblioteca LBJ.

Eu e outros escrevemos sobre a brecha que cresceu entre Jack e Bobby Kennedy e os agentes secretos da Agência Central de Inteligência sobre as repetidas exigências dos Kennedy de que a agência encontrasse uma maneira de assassinar Fidel Castro. O líder comunista de Cuba esteva na mira dos irmãos antes e depois de sobreviver à fracassada invasão da Baía dos Porcos, em abril de 1961.

Os Kennedys eram os queridinhos da media, apesar desse fracasso. 

Richard Helms, chefe das operações secretas da agência, e sua equipa imediata entenderam que não havia como recusar a missão. Eles tiveram que continuar tentando livrar-se de Castro - e continuaram tentando - até que o assassinato do presidente em 22 de novembro de 1963 os libertou da tarefa. Disseram-me que a noite do assassinato de Kennedy foi uma noite de bebedeira e comemoração para alguns dos operadores clandestinos da agência.

Não entendi completamente a profundidade da raiva da CIA contra os irmãos Kennedy até começar a conversar com Sam Halpern, um assessor sénior aposentado de Helms. Halpern era conhecido como um guardião de segredos que sabia manter a boca fechada. 

Sammy era muito antiquado: a única razão pela qual ele falava com um repórter era para espalhar uma mentira. Dizia-se que ele sabia o nome de todos os funcionários do governo estrangeiro recrutados pela CIA e quanto eles recebiam anualmente. Se essa informação não estava em sua cabeça, então estava em um livro negro mítico que alguns acreditavam que ele carregava constantemente consigo.

Halpern não era falador e não era meu amigo, para dizer o mínimo, mesmo na década de 1990, por causa de minhas reportagens para o New York Times e o New Yorker sobre operações secretas que incluíam a revelação explosiva de um livro de horrores da CIA... conhecido internamente como Family Jewels - que era mantido pela agência. 

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