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10 de junho de 2011

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO – 21.1 A "ECONOMIA DE SUCESSO" – AS 3 CRISES
Dizem-nos: “o sucesso só pode dever-se aos empreendedores não ao Estado e felizmente, pois vivemos numa economia de mercado a única viável, pois o seu contrário já provou o seu falhanço”.
Curiosamente o mesmo Estado que nunca é demais para compensar as fraudes e as consequências da especulação ou da má gestão quando se trata do grande capital. Mas concordemos, é de facto um “sucesso” pôr os contribuintes a pagar a ganância de tais “empreendedores”.
Uma economia de sucesso fonte de crises endémicas, de aumento da pobreza e também de fortunas astronómicas para os bilionários. Economia de sucesso que falha todas as previsões, que é incapaz de prever as crises e encontrar soluções que não passem por privilegiar o capital financeiro. Pouco antes da grande crise se manifestar espalhava-se a ilusão do neoliberalismo trazer a prosperidade para sempre: o FMI declarava então: "O robusto crescimento mundial perdurará". Lembremo-nos dos elogios dispensados pelo PSD e CDS ao ministro Teixeira dos Santos pelos seus êxitos na “consolidação das finanças públicas”. Não passou muito tempo que tirassem o cavalinho da chuva e criticassem as políticas seguidas, que aliás continuaram a apoiar, se não publicamente pelo menos em votações na A da R…
É esta “economia de sucesso” que está na origem das três crises que afligem globalmente o mundo: a crise económica e financeira; a crise social; a crise ecológica.
A crise financeira é consequência das teses monetaristas de criar dinheiro a partir de dinheiro, sem valor acrescentado pelo trabalho. O endividamento generalizado foi o estupefaciente que levou largas camadas das populações a aceitarem que era possível o aumento do consumo sem passar pela produção e pelo seu rendimento salarial. Numa espécie de reedição da história de Pinóquio entregaram o seu poder de decisão na mão dos mixordeiros da política populista, dos demagogos.
O valor acrescentado das empresas após impostos, que se reparte por Rendas + Lucro + Salários, passou a ser absorvido pelos accionistas e pelo sector rentista, em vez de dar lugar à correspondente retribuição salarial e ao investimento produtivo.
Veja-se por exemplo a situação nacional quanto à quebra no investimento e saída de capitais para o estrangeiro, veja-se também os lucros do sector financeiro e oligopolista. Atente-se no ocorrido na Irlanda, na Grécia, entre outros países da UE.
Desde o predomínio neoliberal as crises sucederam-se de forma praticamente ininterrupta através do mundo inteiro: bolsa de Nova York em 1987; falências de instituições de crédito EUA em 1989-1990; Japão, 1990; México, 1994-95; Crise asiática 1997-98; Rússia 1998; crise bolsista de 2000 – 2001; Argentina em 2001-02. As medidas adoptadas apenas prolongaram e agravaram estas situações até, a partir de 2007, a crise atingir de forma permanente os EUA e a U E.
A crise económica e financeira que se tornou e endémica é consequência da criação de capital fictício, apenas números nas contas dos bancos, sem contrapartida de valor real criado na produção, dando origem a dívidas absolutamente impossíveis de serem pagas. Trata-se, pois, de uma crise sem fim nem mesmo solução à vista dentro do sistema actual. (ver Dívidas).
A crise social tem origem no facto dos imenso lucros monopolistas e financeiros drenarem em seu benefício a riqueza criada. A estagnação económica resulta assim da insuficiência dos investimentos produtivos e pela desequilibrada distribuição dos rendimentos nacionais. Em termos sociais podemos dizer que existe estagnação sempre que o crescimento não pode absorver a força de trabalho disponível e que existe recessão quando o desemprego tem tendência a aumentar.
Apesar dos imensos progressos tecnológicos o desemprego, a pobreza, as desigualdades aumentaram entre as pessoas e entre os países. A livre circulação de capitais é ouro sobre azul para o crime organizado e para a corrupção que vivem paredes meias com as intocáveis entidades financeiras, que os povos acabam por ter de salvar em nome do “risco sistémico”. Contudo, o único risco “sistémico” para os povos é o prosseguimento das actividades especuladoras que se sobrepõem ao tecido produtivo.
O sistema, incapaz de assegurar o pleno emprego e direitos sociais, procura apresentá-los quer como miragens quer como intoleráveis “privilégios”. Na realidade, a esmagadora maioria da população trabalhadora do planeta sujeita aos seus critérios de usura não tem condições sociais minimamente dignas.
Segundo a OIT, o desemprego atingia 250 milhões de pessoas. Na próxima década seria necessário criar 450 milhões de postos de trabalho para integrar no «mercado de trabalho» a próxima geração de trabalhadores. Além disto, ainda segundo a OIT, apenas 20 por cento da população mundial têm actualmente acesso a mecanismos de protecção social.
A crise social trazida pelo sistema é uma crise de direitos; de desemprego e de precariedade – a patologia crónica do sistema capitalista. O neoliberalismo – o capitalismo da actualidade – não é democracia: é pauperização e depredação. “Milhões de crianças morrem cada ano porque os ricos recusam-lhes alguns centavos de ajuda” – escrevia o prof. Noam Chomsky – em “A globalização excludente”.
A crise ecológica tem origem no sistema baseado numa competição que visa exclusivamente o constante aumento dos lucros das empresas dominantes do comércio mundial, segundo os critérios da OMC. Em consequência verificamos o esgotamento dos recursos naturais. Apesar da pobreza (1 000 milhões passam fome) o consumo de recursos naturais é superior em 57% à capacidade do planeta. Apesar dos cerca de 48 milhões de pobres nos EUA se toda a população mundial tivesse os mesmos níveis e padrões de consumo seriam necessários 4,5 planetas. Seguindo as mesma vias de “sucesso” o Global Footprint Network estima que em 2030 sejam necessários 2 planetas para satisfação das necessidades. Não deixa de ser curioso que nos relatórios GEO, das Nações Unidas, todas as medidas apontadas para defesa do ambiente incluem o reforço do papel do Estado, a sua maior eficiência e independência dos poderes privados.
A “economia de sucesso” está a destruir conscientemente a casa comum a que chamamos Terra e donde não podemos fugir. É certo que o desenvolvimento tem de se guiar por critérios económicos, sem dúvida, mas subordinados aos sociais e ambientais – acima do lucro e dos interesses usurários. O sistema capitalista provou a sua incapacidade de dar solução a estas questões. Pelo contrário: é o problema.
A seguir – Economia de sucesso II

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