Nota sobre o Inquérito ao Emprego do 1º Trimestre de 2017
- Os resultados do Inquérito ao Emprego do 1º trimestre do corrente ano, embora não corrigidos de sazonalidade, espelham bem a aceleração da actividade económica que se regista desde o início do 2º semestre do ano passado. Embora por razões sazonais o emprego tendencialmente baixe no 1º trimestre de cada ano e o desemprego suba comparativamente com o trimestre anterior - o 4º trimestre de 2016 -, a forte reanimação da actividade económica que se vem registando, fez com que apesar do efeito sazonal o emprego tenha subido e o desemprego descido em relação ao último trimestre de 2016.
Desta forma a taxa de desemprego em sentido restrito situou-se no 1º trimestre de 2017 nos 10,1%, o que corresponde a 523 900 desempregados, menos 19 300 desempregados do que no 4º trimestre de 2016 e menos 0,4 p.p do que neste período, enquanto o emprego cresceu com a criação líquida de 14 500 postos de trabalho.
- A comparação do desemprego e do emprego entre o 1º trimestre do corrente ano e o período homólogo de 2016 reflecte de forma muito clara a reanimação da actividade económica neste último ano.
Neste período foram criados em termos líquidos 144 800 postos de trabalho e o nº de desempregados em sentido restrito reduziu-se em 116 300. - A melhoria registada na situação económica e social do país foi fruto das medidas de política económica e social implementadas com a nova solução política a que foi possível chegar após as eleições de 4 de Outubro de 2015. A partir daqui foi possível afastar a direita do Governo e viabilizar-se um governo minoritário do PS, o qual com base nas posições conjuntas assinadas com os partidos à sua esquerda procedeu em 2016 à reposição dos salários na Administração Pública, à devolução da sobretaxa de IRS para parte considerável dos trabalhadores por conta de outrem, à reposição das 35 horas de trabalho semanal na Administração Pública, ao aumento do salário mínimo nacional, ao descongelamento das reformas, ao aumento dos apoios sociais e à redução do IVA no sector da restauração, medidas que entre outras contribuíram para aumentar o rendimento disponível das famílias, reanimar a consumo privado e consequentemente a procura interna e actividade económica.
- Os dados agora divulgados espelhando uma melhoria na situação registada no mercado de trabalho continuam no entanto a alertar-nos para o elevado nível do desemprego em sentido lato que o país enfrenta. No 1º trimestre de 2017 o desemprego real, que o desemprego em sentido lato reflecte, atingiu os 961 900 indivíduos, uma taxa de desemprego de 17,8%. São ainda 219 100 os portugueses que se encontram na situação de inactivos e que estão disponíveis para regressar ao mercado de trabalho e são 218 900 os portugueses que trabalham, mas estando disponíveis para trabalhar a tempo completo apenas conseguem trabalhar poucas horas por semana.
- Mas não é apenas o desemprego que mantém níveis muito elevados, é também muito do emprego existente que continua a não ter qualidade. Mais de 800 mil trabalhadores por conta de outrem têm contratos precários, centenas de milhares de trabalhadores são falsos trabalhadores independentes forçados a passar recibos verdes e mais de um milhão e cento e cinquenta e um trabalhadores por conta de outrem (30% do total), a receber um salário bruto inferior a 600 euros.
- Em síntese podemos dizer que os resultados hoje divulgados pelo INE do Inquérito ao Emprego do 1º trimestre de 2017 reflectem uma melhoria no mercado de trabalho no último ano e no último trimestre, mas esses mesmos resultados não escondem muitas das suas debilidades que subsistem e que é necessário enfrentar a muito curto prazo – muito emprego precário e uma muito elevada percentagem de salários baixos -.
CAE, 10 de Maio de 2017
José Alberto Lourenço
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