O CORBYN AINDA ESTÁ VIVO?. Agostinho Lopes
Títulos de jornais portugueses:
«Labour vinca
princípios. Ganhará votos com isso?», Expresso 13MAI17
«Programa eleitoral de
Corbyn comparado à “nota de suícídio” de 1983», Público, 12MAI17;
«Corbyn e Brexit são
tóxicos para um Labour ameaçado por derrota», Público 28ABR17;
«O triunfo de May
ensombrou a meia vitória de Corbyn», Público, 25FEV17;
«Jeremy Corbyn não
canta o God Save the Queen em acto público», Diário de Notícias, 16SET15
Se está vivo, já não devia estar, a acreditar nas proféticas
e tenebrosas profecias de correspondentes em Londres, em correspondência com os
correspondentes articulistas em Portugal dos nossos principais órgãos de
comunicação social. Não se acredita que tenha sobrevivido a tantos títulos de
desgraça iminente! Até uma greve dos funcionários do Partido Trabalhista foi
feita nos jornais por antecipação, caso ele não se demita, caso perca as
próximas eleições, sendo certo, e não caso, que não as ganha! Há um estranho
furor nestes jornalistas e comentadores e articulistas, para quem só não chove
em Londres para afogar o Corbyn, porque já está sempre a chover
…
…
Corbyn é um verdadeiro gato preto a atrair desgraças sobre o Labour, um verdadeiro pára-raios de quantos atingem o Reino muito Desunido de
sua Majestade… o mais grave dos quais, é o conhecido BREXIT! Corbyn «não foi capaz de convencer muitos eleitores
de que será um bom primeiro-ministro», legenda de fotografia de Corbyn de
mãos postas a rezar (Público, 28FEV17). «Ficou
claro nesta campanha que as pessoas não se sentem representadas por Jeremy Corbyn»
(Público, 25FEV17).
O Corbyn tem contra ele os deputados do partido, os
funcionários do partido, os jovens que querem a UE, os velhos que não querem a UE, os escoceses que querem a independência e não só a gaita-de-foles, os
irlandeses que não se sabe bem o querem, excepto os que já são independentes… «Estamos a caminho para uma derrota histórica
e catastrófica», admitiu o deputado trabalhista John Woodcock… (Público
25FEV17. «Quando Teresa May anunciou as
legislativas antecipadas, e passado o pânico inicial, muitos deputados
trabalhistas confidenciaram aos jornalistas o seu alívio – o receio de um
resultado avassalador para o partido era mitigado pela expectativa que dentro
de apenas sete semanas o Labour poderia enfim livrar-se de Corbyn.»
(Público 28ABR17). Notável…Que deputados! Para que é que Corbyn precisará de
adversários e inimigos conservadores???
O Corbyn é uma desgraça, não acerta uma… Ganha aqui, e impede
o UKIP de eleger, mas perde acolá para maior glória dos Conservadores. Mesmo
que «Corbyn seja considerado mais forte
que May nas ações de campanha»! (Público, 28ABR17) Todos contra. Até os
jornais portugueses, vá lá saber-se porquê, também estão contra! Mas Teresa de
Sousa em o «O tempo dos radicais»
depois de louvar «O centro- esquerda na Europa
(que) teve um enorme sucesso no tempo
da “terceira via”», (…) explica que «Jeremy
Corbyn, ainda mais à esquerda, ainda não conseguiu nem pacificar nem unificar o
partido.» (Público 29JAN17), e Francisco Assis reclama «É com homens sólidos como Schultz e não com
fantasistas e vendedores de ilusões como Hamon e Corbyn que se poderá e deverá
promover o relançamento da social-democracia europeia» (Público, 09FEV17).
O Corbyn é de facto um bocado enfezado, é um pacifista! Está
em «oposição à NATO, às armas nucleares e
às operações militares contra os extremistas islâmicos», diz Boris Johnson,
o ministro dos Negócios Estrangeiros conservador (Público, 28ABR17). E, de
facto, Corbyn está contra os bombardeamentos à Síria, contra o investimento
numa nova geração de mísseis nucleares (Trident), e ampliação da zona de
intervenção da NATO! Claro que o Boris acha que bom, bom, é o Reino Unido estar
ao lado da Arábia Saudita e Israel a armar os radicais! E Corbyn esteve contra
o grande democrata e patriota, e amigo da paz, Blair, o amigo do Barroso, do
Bush, do Aznar, na invasão do Iraque. E, calcule-se, votou a favor do Relatório
do Parlamento britânico que pôs em vinha de alho o Blair… mas este era, e é, da
social-democracia de Assis… e do êxito da 3ª via social-democrata de Teresa de
Sousa.
O Corbyn é um passadista, um antiquado, até fala em nacionalizações e tudo! «Propostas
“radicais” que recordam as ortodoxias socialistas do passado (…)» (Público,
12MAI17). Aliás, parece que «as sondagens
mostram um grande apoio à renacionalização dos comboios e correios»
(Público, 12MAI17). Acredite-se ou não, Corbyn tem um programa que também
inclui o regresso das negociações colectivas, prevê o fim das propinas, é
contra os especuladores financeiros da City, propõe-se restabelecer o controlo
financeiro sobre o Banco Central! É um tradicionalista, o Corbyn, defende a
República e não canta o God Save the Queen! O que choca com o pendor dos
britânicos para a modernidade, que mantêm essa fórmula política avançada, de
futuro, que é a monarquia. E a Isabel, e o Filipe, pelos vistos o maior corta
fitas do universo que agora se aposentou, e a irmã da rainha, e os filhos e
netos, e noras da rainha, e os bisnetos da rainha…God Save the Queen!
E é extraordinário que, nas cabeças que vão escrevinhando
estas coisas, não se faça nenhuma luz.
Parece que os grandes amigos das primárias consideram que uma votação de 500 mil militantes/simpatizantes do Labour em 24SET16 (aliás,
segundo o regulamento impulsionado pelos blairistas pensando nas primárias dos
EUA), dando 62% dos votos a Corbyn, reforçando os resultados de votação
anterior, posto em causa pela minoria do partido, é coisa sem significado
político!
Parece que o apoio evidente de milhares de jovens – só a
ausência de imagens dos seus comícios permite a manipulação que é feita sobre
os seus apoiantes – do significativo movimento da paz britânico e dos
principais sindicatos, são coisa despicienda! Aliás, os jovens que foram tão
realçados, valorizados, no combate ao Brexit, agora já não prestam…! Estão do
lado do Corbyn….
Parece que para muitos daqueles que todos os dias clamam e
reclamam do santo nome do populismo (pelos vistos em vão!) considerem errado
que um partido esteja vinculado aos seus princípios, numa campanha eleitoral,
mesmo que com risco de perder votos, é coisa absolutamente notável!
Parece que para estes senhores e senhoras, a enormidade
ética política, democrática, de deputados de um dado partido ficarem
«aliviados» pelo facto do seu partido ir ter uma derrota «histórica», e assim
arrumarem com o líder de que não gostam, é uma coisa pacífica, e não um
escândalo político!
Duas notas finais.
Uma sondagem divulgada pelo The Sunday Times, domingo, 21MAI17, efectuada a 18 e 19 de Maio, informa que Corbyn reduziu a vantagem de
anteriores sondagens de 18 pontos percentuais dos conservadores, para 9 pontos
percentuais, 45% contra 35%, com descida de May e subida de Corbyn. Outra
sondagem no Telegraph, confirma essa tendência, com 46% contra 33%.
Quem isto escreve, não é social-democrata.
Agostinho Lopes, Abril Abril
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