BEM PREGA FREI TOMÁS… Agostinho lopes
OU COMO SACAR ACIMA DAS SUAS POSSIBILIDADES
Nada como realmente. «Dividendos
agravam dívida das cotadas», assim titulava o insuspeito Jornal de
Negócios, um esclarecedor artigo. «As
cotadas nacionais abriram os cordões à bolsa este ano para pagar dividendos.
Mas essa maior generosidade foi um dos factores que levaram a um aumento da
dívida líquida dos primeiros seis meses do ano. Subiu mais de 8%, aumentando em
mais de 2.000 milhões de euros para 26.300 milhões, tendo em conta as 14
empresas do PSI-20 que já prestaram as informações financeiras. (…)
Distribuíram cerca de 2.200 milhões de euros, mais 20% que no ano anterior. E
isso pesou na evolução da dívida.» A notícia dá depois exemplos: EDP, mais
1.000 milhões de euros; Navigator, mais 100 milhões; EDP Renováveis, mais 355
milhões; REN mais 100 milhões.
Registe-se que a informação não é propriamente uma novidade.
Tal já aconteceu em anos anteriores, mesmo quando o país estava sob a ditadura
da Troika e do governo PSD/CDS, com trabalhadores e pensionistas a serem roubados
nos seus rendimentos.
Mas é elucidativo e pedagógico, conhecidas as «preocupações»
do grande capital, bem patentes nas recentes e profusas entrevistas do
Presidente da CIP, com os seus lacrimosos choradinhos em torno da subida do
Salário Mínimo. Da sua resistência feroz a qualquer subida salarial. Sempre em
nome da defesa da sacrossanta competitividade nacional para o crescimento das
exportações. Ou seja, do «interesse nacional» deles. E o que dizer das sábias e
desinteressadas palavras do Presidente do Fórum para a Competitividade, Ferraz
da Costa, que arrasta a cassete dessas lamúrias há décadas. Nem mais um cêntimo
para salários! Redução da TSU, já. Acabar com a «rigidez laboral»! Primeiro a
competitividade, as exportações, os lucros. Depois os empregos, os salários! A
conhecida lebre da corrida de galgos…
Pois… mas parece que as grandes empresas, contrariamente à
generalidade das PME e das famílias, não estão a reduzir o seu endividamento!
Está a aumentá-lo! E não contraem mais dívidas, para suportar investimento e
assim melhorar/modernizar/ampliar a capacidade produtiva nacional! Não é por
acaso que a produtividade agregada (valor médio das produtividades dos sectores
da actividade privada) se mantém estagnada. Não há investimento privado. Logo,
não há novos equipamentos e tecnologias. Não há inovação. Não se melhora a
gestão nem a organização do trabalho.
Investimentos para melhorar a produtividade das empresas? Com
o «nosso dinheiro»? Não. Para isso há os fundos comunitários do Portugal 2020,
que os governos (este e todos os anteriores) distribuem generosamente pelo
grande capital nacional e estrangeiro. Sempre sobrarão umas migalhas para as
PME e necessidades públicas. Mas cuidado, diz o grande capital. O Estado está
sentado à mesa do orçamento e a comer demais desses fundos… que todo, é pouco
para nós! O nosso apetite é pantagruélico! É por isso que precisamos também de
novas reduções do IRC, e etc… para que não precisemos de nos endividar para
pagar bons dividendos!
Sim, endividam-se para pagar mais dividendos, mais
remuneração aos accionistas, aos donos do capital. Ou seja, pagam um volume de
dividendos superior aos lucros arrecadados. Onde aconteceu isso? Com «gestores
de topo» e «empresas modelo». Na SONAE CAPITAL: lucros, 18,7 milhões de euros,
os accionistas vão receber 25 milhões. Nos CTT: lucros, 62,2 milhões de euros,
vão distribuir aos accionistas 72 milhões – deve ser por isso que os serviços
postais estão cada vez melhores! Um aumento dos dividendos superior ao aumento
dos lucros! Não querem esmolas, aumentos indexados à taxa de inflação ou da
evolução do IAS. Não! Mais 20% nos dividendos. Por extenso: vinte por cento!
Se isto não é viver, ou melhor, sacar «acima das
possibilidades», o que será? Lata! Uma grande lata quando na praça pública
despejam tecnocráticos ou moralistas discursos sobre a necessidade da moderação
salarial e de acabar com a «rigidez da legislação laboral». Mas também põe a nu
a cumplicidade activa de quantos agentes políticos dão cobertura a políticas de
desvalorização salarial, nomeadamente travando a necessária subida do SMN para
600€, ou insistem na redução da TSU, ou resistem à obrigatória reversão das
malfeitorias feitas nas leis do trabalho pelo anterior governo.
Certo e sabido. Lá virão os «sábios», com a necessidade de
bem remunerar o capital para atrair o capital e os capitalistas… Para melhorar
a produtividade e a competitividade não é preciso. Bastarão os baixos salários
dos trabalhadores portugueses! É por isso que não se pode reformar a legislação
laboral, garantir a contratação colectiva e os direitos (constitucionais) dos
trabalhadores.
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