O (NOVO) D.DINIS DEIXOU ARDER O PINHAL Agostinho Lopes
O tempo não estará para graças a propósito. A dor (de muitas
espécies) que nos percorre a todos, deve vedar tal recurso.
Mas no meio de tantas desgraças e dramas humanos, de um país
que literalmente arde desde Maio, o último pesadelo, encarnado em chamas bem
reais, é certamente a destruição do Pinhal de Leiria. Nunca lamentaremos
bastante a incúria pública que o permitiu. Apesar dos alertas, apesar dos
avisos, apesar do que não precisava de óculos para bem se enxergar.
Que responsabilidades vão ser apuradas e assumidas, pela
situação de prevenção e defesa do maior e secular património florestal
nacional? Não será possível, nem aceitável dissolvê-las nas responsabilidades
diversas, inclusive políticas, de outros incêndios florestais.
Quem, mesmo depois de ver arder as barbas do vizinho, não pôs
as suas de molho, isto é, não tomou todas as medidas necessárias para defender
essa riqueza sem preço?
Responsabilidades que não são apenas de quem, bem
recentemente, se arvorou em novo D. Dinis, com uma coisa a que chama Reforma
Florestal! Não. São velhas as responsabilidades de sucessivas tutelas
governamentais de sucessivos governos PS, PSD e CDS, pela degradação e
desprotecção de todo aquele valioso pulmão, aberto ao mar, à Vieira dos
pescadores e à Marinha dos vidreiros.
Que conclusões vão ser tiradas? Que devia estar entregue à
gestão privada, como já se ouviram em algumas aproximações «comentaristas»?
Ou será ironia descabida, ofensiva mesmo, perguntar se os 11
mil hectares do Pinhal do Rei era uma pequena propriedade florestal,
abandonada, sem dono conhecido, pronta para engrossar o «banco de terras»? Uma
floresta onde não se fazia a tão glorificada «gestão activa florestal», cuja
ausência, segundo parece, está na base de quantas desgraças florestais acontecem
no país?
Os mortos e os feridos desta catástrofe portuguesa terão que
estar no centro das nossas dores e preocupações. E da imperiosa procura e séria
concretização de respostas políticas, sociais, técnicas.
Mas o Pinhal de Leiria, o Pinhal de El Rei D.
Dinis, era um monumento florestal desta pátria tão maltratada. Não é possível
não o chorar. Em memória lágrimas de resina, de sombra, de cheiro, de oxigénio
do seu «verde pinho». Que tardarão a regressar.
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