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19 de outubro de 2017

O Novo D DINIS e os que o antecederam

O (NOVO) D.DINIS DEIXOU ARDER O PINHAL    Agostinho Lopes
O tempo não estará para graças a propósito. A dor (de muitas espécies) que nos percorre a todos, deve vedar tal recurso.
Mas no meio de tantas desgraças e dramas humanos, de um país que literalmente arde desde Maio, o último pesadelo, encarnado em chamas bem reais, é certamente a destruição do Pinhal de Leiria. Nunca lamentaremos bastante a incúria pública que o permitiu. Apesar dos alertas, apesar dos avisos, apesar do que não precisava de óculos para bem se enxergar.
Que responsabilidades vão ser apuradas e assumidas, pela situação de prevenção e defesa do maior e secular património florestal nacional? Não será possível, nem aceitável dissolvê-las nas responsabilidades diversas, inclusive políticas, de outros incêndios florestais.
Quem, mesmo depois de ver arder as barbas do vizinho, não pôs as suas de molho, isto é, não tomou todas as medidas necessárias para defender essa riqueza sem preço?
Responsabilidades que não são apenas de quem, bem recentemente, se arvorou em novo D. Dinis, com uma coisa a que chama Reforma Florestal! Não. São velhas as responsabilidades de sucessivas tutelas governamentais de sucessivos governos PS, PSD e CDS, pela degradação e desprotecção de todo aquele valioso pulmão, aberto ao mar, à Vieira dos pescadores e à Marinha dos vidreiros.
Que conclusões vão ser tiradas? Que devia estar entregue à gestão privada, como já se ouviram em algumas aproximações «comentaristas»?
Ou será ironia descabida, ofensiva mesmo, perguntar se os 11 mil hectares do Pinhal do Rei era uma pequena propriedade florestal, abandonada, sem dono conhecido, pronta para engrossar o «banco de terras»? Uma floresta onde não se fazia a tão glorificada «gestão activa florestal», cuja ausência, segundo parece, está na base de quantas desgraças florestais acontecem no país?
Os mortos e os feridos desta catástrofe portuguesa terão que estar no centro das nossas dores e preocupações. E da imperiosa procura e séria concretização de respostas políticas, sociais, técnicas.
Mas o Pinhal de Leiria, o Pinhal de El Rei D. Dinis, era um monumento florestal desta pátria tão maltratada. Não é possível não o chorar. Em memória lágrimas de resina, de sombra, de cheiro, de oxigénio do seu «verde pinho». Que tardarão a regressar.

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