O mês de Maio de 2018 foi, em termos de preço da eletricidade transacionada no mercado grossista (MIBEL/OMEl) o mais caro desde 2008, apontando-se para os 62 €/MWh.
Aliás, o MIBEL foi, em 2017, a segunda “bolsa” de eletricidade mais cara da Europa, com um valor ponderado anual de 53 €/MWh, que compara, por exemplo, com o valor correspondente em França, que andou nos 45 €/MWh!
Estamos com preços altíssimos e com fortes repercussões socioeconómicas para os quais são necessárias explicações claras e urgentes.
Os fervorosos adeptos do mercado diziam, há alguns anos atrás, que a liberalização e privatização das empresas de eletricidade traria o paraíso aos consumidores e aos contribuintes portugueses.
Sabemos que, na realidade, isto não é verdade, já que as tarifas/preços da eletricidade (e do gás natural) são, em Portugal, das mais elevadas no contexto europeu.
Na realidade as grandes empresas instaladas no setor energético têm tido nos últimos anos, incluindo aquelas que atuam a coberto do lobby das energias renováveis, lucros que, pela sua escala, são escandalosos e atentatórios dos interesses comuns. Isto para além da hipótese de haver atuações que venham a ser merecedoras de condenação judicial. De facto, o que se passa à sombra da legalidade construída é, em si mesmo, politicamente criminosa, porque o conteúdo dos diplomas legais fundamentais desrespeita e violenta grosseiramente os interesses nacionais.
Em princípio, de acordo com a teoria dos mercados, a formação dos preços da eletricidade seria influenciada por vários fatores, designadamente:
- A estrutura de produção em termos de tecnologias empregues (mix tecnológico);
- Os preços e condições de energia primária;
- O regime hidrológico;
- O mercado de licenças de emissão de CO2;
- A procura de eletricidade;
- A capacidade/disponibilidade produtiva.
A constituição do parque electroprodutor é crítica na formação dos preços de eletricidade na medida em que pode condicionar a sua vulnerabilidade a aspetos específicos das energias primárias ou das condições hidrológicas, solares e eólicas.
A maior parte da eletricidade produzida em Portugal é, em termos do diagrama de base, proveniente de centrais térmicas, nomeadamente de centrais a carvão e gás natural, e, também, da produção hidroelétrica. Isto, não obstante a crescente produção a partir de centros produtores eólicos estimulados e protegidos por preços subsidiados numa proporção artificialmente empolada.
Em Portugal, como em outros países, estamos sujeitos à volatilidade dos preços dos mercados internacionais de energia primária, sendo a formação dos preços de eletricidade no mercado grossista influenciada quer aqueles preços.
Como a eletricidade não nos pode chegar de camião, navio ou avião, a capacidade de interligação a à rede espanhola e, indiretamente, francesa e europeia, é decisiva. Coisa que não é um fator que dominemos, não obstante as declarações políticas muito repetidas nos últimos tempos.
A acrescer aos preços internacionais de energia primária, o “mercado” das emissões de CO2 veio a criar um mecanismo que pressiona os preços finais da eletricidade, isto porque a questão climática (diferente da ambiental) passou a refletir-se na estrutura de custos das centrais térmicas, nomeadamente nas centrais a carvão, onde o nível de emissões de CO2 é mais elevado.
Este novo “custo”, a internalizar no preço final da eletricidade, veio a constituir um importante factor na definição de políticas energéticas tendo em consideração a preocupação, muito acarinhada na Europa, a respeito das alterações climáticas.
Na produção em centrais hidroelétricas, a valia da água tem um custo de oportunidade, que varia com o nível de armazenamento e o regime hidrológico verificado (ano húmido ou seco).
No presente, o preço do petróleo está nos 68 USD/barril quando já esteve, há alguns anos atrás, bem acima do 100 USD/barril. O preço do carvão importado (steam coal) têm variado, com tendência a descer desde dezembro de 2017 e inclinando-se mais recentemente para os 65 €/ton.
Ficou registado que o mês de Maio de 2018 foi, em termos de preço da eletricidade transacionada no mercado grossista (MIBEL/OMEl) o mais caro desde 2008. Ora, naquele ano, havia menos 30% de capacidade de produção eólica instalada em Portugal, ou seja, chegava ao mercado grossista muito menos eletricidade desta origem.
Por outro lado, a hidraulicidade está, em 2018, 20% acima do ano médio, havendo, portanto, muito potencial elétrico armazenado nas albufeiras.
No dia 10 de junho, domingo e feriado, a eletricidade chegou a cerca de 63 €/MWh às 23 horas, quando havia grande produção eólica.
Desconhecem-se restrições nas interligações existentes entre Portugal e Espanha, e indisponibilidades significativas no parque electroprodutor ibérico, inclusive nas centrais nucleares.
Não obstante a hidroeletricidade e eólica disponíveis, e tendo ainda em conta que o custo marginal da eletricidade produzida na central de Sines (a carvão), andará nos 42 €/MWh, os preços estão elevadíssimos.
Como se explicam tais preços? Que tipo de anomalias estão a ocorrer? As autoridades reguladoras, ERSE e Autoridade da Concorrência, já indagaram? E, se já analisaram a situação, quais são as conclusões?
O atual “mercado” grossista de eletricidade é uma coisa opaca, difícil de “ler” e dominada por meia dúzia de centros de decisão empresarial (há três fornecedores e cerca de trinta comercializadores, mas, de facto, centros empresariais independentes são muito menos).
Tudo parece indicar que há, no mínimo, uma falha grosseira de mercado.
Acrescentar que os célebres CMEC - que os consumidores portugueses pagam através da aditividade dos CIEG - estão “apenas” relacionados com as centrais hidroelétricas. Que pertencem, no fundamental, à EDP.
Assim, quanto maior for o preço da eletricidade comercializada na pool/MIBEL mais a EDP ganha, independentemente do preço das matérias primas energética (gás natural e carvão) nos mercados internacionais.
Sabendo-se que o preço no MIBEL esteve acima dos 50 €MWH durante o ano de 2017 (continuando à volta dos 60 em 2018) e, por outro lado, continuando em vigor o enquadramento legal relativo aos CMEC, pergunta-se: quem é que tem “autorizado” a EDP a receber o subsídio indemnizatório CMEC? A ERSE? A secretaria de Estado?
A EDP deveria, de facto, retornar dinheiro ao sistema, sempre que a eletricidade estivesse acima dos 50 €/MWh. Isto de acordo com o que está legislado. A não ser respeitada esta condição não estamos já perante “rendas excessivas”, mas, sim, “rendas abusivas”!
Os fundamentalistas do mercado neoliberal acham que os Reguladores têm nas suas mãos a resolução destes problemas.
Mas, será que os Reguladores, regulam bem?
Mais, há que perguntar se, na matriz das entidades Reguladoras, está, de facto, a defesa dos interesses comuns.
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