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4 de outubro de 2024

Israel, a situação militar e as narrativas

 Os conflitos não se ganham e ainda menos se resolvem pelo ruído da propaganda e ameaças de parte a parte, apenas leva a que espíritos fracos ou tresloucados que, em vez de poluírem o espaço mediático, melhor seria terem acompanhamento psicológico. Por isso, o melhor será pensar sobre o que o real transmite.

A primeira questão é que Nethanyahu ao fim de um ano, falhou em Gaza, não resolveu sequer o problema dos reféns nem das populações do norte próximas ao Líbano. Sofre ataques e bloqueio naval dos Houtis que os EUA não conseguem deter. O seu paradigma - não se pode chamar estratégia - é a fuga em frente com mais conflitos, com a Síria, o Iraque, o Líbano, o Irão. Tudo pior por uma simples razão, não acordar um cessar fogo em Gaza e libertar a Cisjordânia. Os seus supostos inimigos deixariam de o ser quando cumprisse as resoluções da ONU sobre dois Estados com as fronteiras aí definidas.

Em vez disto, bombardeia indiscriminadamente, matando gente inocente, mulheres e crianças. Estas ações e ameaças do clã sionista são sinais de desespero. O perigo está na irracionalidade de quem possui bombas nucleares.

Os propagandistas justificavam os bombardeamento de Israel, perante os quais os seus inimigos nada mais teriam a fazer senão render-se. Ora, está mais que provado desde a segunda guerra mundial que bombardeamentos como estratégia não resolvem guerras no terreno, porém as "narrativas" são imunes à história mesmo a mais recente, à própria lógica.

Não destruíram os túneis do Hamas, muito menos destruirão os complexos fortemente fortificados de mísseis subterrâneos do Hezbollah. Os ataques aéreos contra os Houthis prosseguem, sem que a sua capacidade ofensiva esteja diminuída. O Líbano está a ser bombardeado em cidades, instalações petrolíferas e centrais elétricas. Mas o Líbano não está isolado como Gaza.

Para os propagandistas, empenhados em fazer-nos engolir o que vem de de Telavive (ou de Kiev) com a morte de líderes e comandantes do Hezbollah a resistência não só perderia força como demoraria a reestruturar-se. Era não querer perceber como o Hezbollah funciona: a liderança foi rapidamente reconstituída, a estrutura militar continuava operacional. Os soldados israelitas descobriram-no ao entrar no Líbano.

No sul do Líbano Israel sofre a perdas de pessoal e equipamentos. Claro que tem capacidade para novos ataques. Contudo, só com custos (humanos e financeiros) talvez incomportáveis, Israel poderia ocupar de forma permanente o Sul do Líbano. Retirando-se é como se não tivessem lá estado, como o Hamas mostra em Gaza.

Outra ilusão dissipada foi a do intransponível sistema antimíssil Domo de Ferro. Israel dispõe de 10 baterias Domo, cada uma com até 80 mísseis. Pode derrubar com sucesso foguetes apenas certos tipos de misseis. Para as capacidades do Hezbollah e do Irão, com dezenas de milhares de foguetes, mísseis de precisão ou hipersónicos, o Domo provou não poder detê-los, sobretudo vindo em enxame sobrecarregando o sistema. Uma bateria Domo pode proteger uma área de 150 km2, mas é eficaz apenas ao lidar com alguns alvos vindos da mesma direção.

Afirma o ex analista da CIA, Larry Johnson, “Israel não está em posição de ter uma guerra com várias frentes e não tem a profundidade estratégica para uma guerra de atrito. É exatamente nisso que se meteu agora”. Se os EUA se envolverem o Irão pode vir a atacar navios dos EUA, mas certamente retaliarão contra Israel. Israel não está fora de perigo de forma alguma, apesar de todo o absurdo delirante que os apoiantes dos sionistas vão dizendo. A Lockheed Martin pode produzir por dia 1,5 mísseis. “Se o Irão continuar a lançar ataques como o de agora, isto pode realmente sair do controlo.”

Os efetivos de Israel em serviço ativo são de 176 500, nos três ramos das FDI, com uns 500 mil reservistas. As FDI têm 7 700 veículos de combate de infantaria, com 1300 tanques pesados; 684 aeronaves, 38 navios patrulha, 8 barcos mísseis e 5 submarinos. (Geopolítica ao vivo – Telegram 02/10) Em 2023 as despesas militares de Israel representaram 5% do PIB. Um valor que será muito maior em 2024. Num ano os EUA já entregaram a Israel dezenas de milhares milhões de dólares.

A dita superioridade militar de Israel apresenta portanto muitas falhas. Manter aqueles efetivos em armas, convocar reservistas, tem consequências devastadoras para a economia num país em recessão desde outubro de 2023 e que não dispõe de matérias primas para manter durante muito tempo conflitos de elevada intensidade.

Seria bom Nethanyahu pusesse os olhos em Zelensky e recordasse todas as promessas que foram sendo feitas, até Zelensky ver que a única hipótese de sobrevivência do seu clã é envolver a NATO diretamente contra a Rússia. Isto pelo menos, os sionistas perceberam: a sua sobrevivência política depende de envolverem os Estados Unidos contra o Irão. E é com este objetivo que os bombardeamentos podem representar uma estratégia: de retaliação em retaliação, obrigar os EUA a intervir diretamente. E depois?

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