A CRISE PARA OS TRABALHADORES - COMO SE ESTÁ A DESTRUIR A ECONOMIA
Como disse Confúcio, só verdadeiramente nos vemos pelos olhos dos outros. Os ensinamentos que este artigo contém para a situação portuguesa são evidentes, em particular com governantes fundamentalistas da religião neoliberal. As semelhanças com a situação portuguesa e de uma forma geral da UE não são obviamente mera coincidência.
Para passar a mensagem culposa para o comum dos cidadãos são chamados à comunicação social os legionários do neoliberalismo. Depois de se especializarem a convencer as pessoas a aproveitarem as oportunidades do “mercado”, agora estão bem ao estilo do “fascismo sorridente” a convencê-las a serem pobres sem protestar.
Recordemos que os “ricos” a que o autor se refere são os High Net Worth Individuals, indivíduos com pelo menos 1 milhão de dólares de "activos investíveis e os High Net Worth Individuals, com 30 ou mais milhões de dólares de activos investíveis, isto é, em acréscimo a outros valores de património como a sua residência primária, obras de arte, colecções, etc.
Mas este artigo tem mais uma virtude: mostra que mesmo nos EUA, para além da censura ao que não se insere no pensamento único, podemos dizer como Galileu: “e apesar de tudo a Terra move-se”.
COMO OS MAIS RICOS ESTÃO A DESTRUIR A ECONOMIA – por Shamus Cook
O Presidente Obama tem prometido a recuperação económica. A evidência desta recuperação, foi-nos dito, manifestar-se-ia nos lucros que as grandes empresas fariam na sequência das massivas entregas de dinheiro. Em breve, assegurou-nos o Presidente, as grandes empresas cansar-se-iam da acumulação de dinheiro em caixa e iniciariam a prosperidade, seguida por aumentos dos salários e benefícios. Era ou tomar os desejos pelas realidades ou engano consciente. A recente queda do mercado de acções afundou qualquer esperança numa recuperação conduzida pelas grandes empresas.
Os Democratas combatem a recessão com os mesmos métodos que os republicanos usaram para a criar. Permitindo que os ricos de forma imprudente dominem a economia dando-lhes massivos apoios. Esta estratégia, designada geralmente como reaganomics ou “economia do pinga para baixo” (Trickle Down Economics) é agora a religião tanto de Democratas como de republicanos não importa qual seja o espetáculo de competição para os média crédulos ou cúmplices.
Quando se tornou óbvio mesmo para o Presidente que a recuperação económica nunca existiu para além das contas bancárias dos mais ricos, questões têm de ser respondidas. Por que razão ninguém em qualquer dos partidos previu as desastrosas consequências dos entregas de fundos às empresas e bancos? Não só o défice dos EUA aumentou drasticamente como às mesmas grandes empresas que causaram a recessão foi-lhes dado reforço para prosseguirem as suas acções destrutivas assegurando que continuarão sem serem limitadas.
No seu livro “Crise Económica”, Nouriel Roubini afirma que ambos os partidos apenas atiraram dinheiro para os bancos em vez de os punirem, criando uma condição de “risco imprevisível” (“moral hazard”), significando que os bancos assumem que novos planos de salvamento virão se destruírem de novo a economia – demasiado grandes para falirem, lembram-se? Roubini explica como os bancos “demasiado grandes” se tornaram ainda maiores e como os salários da Wall Street baseados no curto prazo continuam sem regulação.
Essencialmente os grandes bancos e ricos investidores estão a ter empréstimos baratos do Fed e investir no estrangeiro em mercadorias com a previsão de altos lucros. Diz Roubini “O risco é que estão a plantar as sementes da próxima crise (…) esta bolha de activos é totalmente inconsequente com uma fraca recuperação económica e com fundamentalismo financeiro”.
A bolha criada pelo investimento em mercadorias está a elevar os preços do petróleo, dos alimentos e outros produtos básicos causando maior sofrimento às famílias trabalhadoras. Esta bolha especulativa era previsível mas foi ignorada por ambos os partidos, a partir do momento em que eles proclamaram que a bolha era um sinal de recuperação.
Outro economista de referência Paul Krugman, também admite que o aperto letal dos ricos na economia e na política dos EUA está a causar sofrimento para todas as outras pessoas.
“ Longe de estarem prontos a gastar mais na criação de empregos, ambos os partidos estão de acordo que é tempo de cortar despesas – destruindo postos de trabalho neste processo. (…) cuidando apenas dos interesses dos rentistas – ricos investidores - aqueles que despenderam largas somas de dinheiro no passado, muitas vezes de forma insensata, mas que são agora protegidos das perdas à custa de todos os outros” (10.junho.2011).
(Contudo) isto não é apenas “má política” como liberais como Krugman gostam de afirmar, mas a agenda dos mais ricos. Grandes empresas e grandes investidores gostam de desemprego elevado. (…) Desemprego elevado cria uma pressão para a descida dos salários, permitindo que os trabalhadores que permanecem com emprego trabalhem mais duramente e assim aumentar os lucros. Esta dinâmica combinada com a especulação sobre mercadorias foi a base para a recuperação das grandes empresas, enquanto que os trabalhadores não tiveram qualquer benefício. (…) Como as despesas em consumo representam 70% da economia dos EUA, políticas como esta asseguram que outra crise é inevitável.
(…) Assim os ricos têm uma situação duplamente ganhadora (“win-win”): obtêm sem encargos fundos públicos, o que aumenta o défice e como o défice é demasiado alto os ricos querem juros mais altos para investirem em Títulos do Tesouro. Em qualquer das hipóteses a classe trabalhadora paga a factura.
Esta insanidade não pode ser parada por meios convencionais, pois os políticos dos dois partidos são surdos e mudos a tudo que não soe a dinheiro para as grandes empresas. (…) O movimento sindical tem um papel especial a desempenhar para alterar estas políticas – acordadas por ambos os partidos.
A política de cortar programas sociais para conter o défice pode ser substituída por uma campanha nacional coordenada pelos sindicatos exigindo: “Impostos para os mais ricos!” (Tax the Rich!) Esta exigência pode resolver quer o problema dos défices quer da crise de criação de empregos com um massivo programa de trabalhos públicos baseado nos impostos sobre as grandes empresas e mais ricos para os níveis pré-Reagan. E isto faz sentido devido às crescentes desigualdades e espectacular concentração de riqueza no topo. Os trabalhadores organizados necessitam trazer para a rua as massas populares de todo o país para chamar a atenção e pressionar o governo a responder às suas exigências.
Recentemente o presidente da AFL-CIO Richard Trumka falou a favor de um movimento sindical forte e independente. Esta direcção tem de ser seguida em vez de acreditar nos Democratas. O movimento sindical deve agir unido para lutar e exigir medidas políticas específicas que possam concretamente reflectir-se na crise que enfrentam milhões de trabalhadores.
(*) www.counterpunch.org. - The Crisis for Working People How the Rich are Destroying the Economy By Shamus Cooke June 13, 2011. Shamus Cooke is a social service worker, trade unionist, and writer for Workers Action He can be reached at shamuscooke@gmail.com.
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