1. Nos 1ºs oito meses do ano o valor das nossas exportações de mercadorias excedeu em cerca de 2 654 milhões de euros o valor registado em igual período do ano passado (+9,6%). As exportações atingiram os 30 299 milhões de euros. Os principais contributos para este aumento das exportações vieram das seguintes mercadorias:
1.1. Combustíveis minerais (+ 866 milhões de euros, +45,9%);
1.2. Máquinas, aparelhos e material eléctrico (+562 milhões de euros, +14,1%);
1.3. Ouro e outros metais preciosos (+ 219 milhões de euros, +67,3%);
1.4. Ferro fundido, ferro e aço e cobre e suas obras (+173 milhões de euros, +11,7%);
1.5. Plástico e borracha (+ 153 milhões de euros, 7,9%)
1.6. Produtos farmacêuticos (+76 milhões de euros, +21,2%).
2. A evolução da exportação de mercadorias nos 1ºs oito meses do ano ficou sem dúvida marcada pela exportação de produtos refinados (combustíveis minerais), que têm vindo a crescer de importância nas nossas exportações, de tal forma que com um peso de 9,1% no total das exportações de mercadorias, são já hoje atrás das exportações de veículos automóveis (11,4%), e das máquinas, aparelhos e material eléctrico (+15,0%), a 3ª mais importante mercadoria que se exporta. Esta evolução na exportação de combustíveis refinados verificou-se fundamentalmente para países fora da Europa, em especial Angola e EUA e não é certamente alheia à recente desvalorização do euro em relação ao dólar. Só nos últimos doze meses, entre Agosto de 2011 e Agosto de 2012 essa desvalorização foi de 13,5%. Por outro lado para mal dos nossos pecados a refinação de combustíveis depende dos combustíveis minerais que são a nossa principal mercadoria de importação, representa 21,0% do total das nossas importações e neste mesmo período de 8 meses aumentaram 15,0% (+1 016 milhões de euros).
3. As exportações neste mesmo período foram ainda marcadas pelo crescimento do valor das exportações em ouro e outras pedras preciosas e em produtos farmacêuticos. Só nestes 1ºs oito meses do ano o valor registado da venda ao exterior de ouro e outras pedras preciosas atingiu os 544 milhões de euros, mais 219 milhões do que em igual período do ano passado (67,3%). Para termos uma ideia da dimensão actual deste negócio refira-se que de acordo com dados recolhidos pelo grupo de trabalho para a compra e venda de ouro criado pela actual Comissão de Economia e Obras Públicas da Assembleia da República, em 2007 o valor anual das exportações de ouro foi de 6,9 milhões de euros, agora de acordo com estes últimos nºs só nos 1ºs oito meses terá ultrapassado os 500 milhões de euros. Também as exportações de produtos farmacêuticos com um crescimento superior a 21% nos primeiros oito meses do ano não podem deixar de nos suscitar algumas perplexidades, já que ao mesmo tempo que isto acontece escasseiam muitos medicamentos nas farmácias nacionais.
4. Vale a pena assinalar que estes três produtos (combustíveis refinados, ouro e outras pedras e metais preciosos e produtos farmacêuticos) foram responsáveis por quase 50% do crescimento das exportações de mercadorias nos 1ºs oito meses do ano.
5. A evolução das nossas exportações por destino teve um comportamento muito díspar, consoante falemos do espaço comunitário (+3,8%) ou do espaço extracomunitário (+27,0%). Mesmo dentro do espaço comunitário verifica-se que para o nosso principal mercado de destino, a Espanha, as exportações caíram -4,1%, para a Alemanha estagnaram com uma variação 0,0%. Fora do espaço comunitário não existe ainda informação desagregada que permita saber quais são concretamente esses destinos cujo ritmo de crescimento é tão elevado, mas a confirmar-se informação de meses anteriores, será os EUA, a China e Angola entre outros.
6. A boa evolução registada nas nossas exportações para os países extracomunitários e para os países que não integram a zona euro resulta fundamentalmente da desvalorização cambial do euro neste período, como já atrás referimos. Se nos últimos 12 meses terminados em Agosto as exportações de mercadorias cresceram 10,6% em euros, neste mesmo período a desvalorização do euro em relação ao dólar foi de 13,5% e em relação à libra foi de 10,0%.
7. Ao mesmo tempo que as exportações de mercadorias evoluíam a bom ritmo para os produtos atrás referidos (Combustíveis minerais, Máquinas, aparelhos e material eléctrico, Ouro e outros metais preciosos, Ferro fundido, ferro e aço e cobre e suas obras, Plástico e borracha e Produtos farmacêuticos), não deixa de ser preocupante que alguns sectores empregadores de muita mão-de-obra e tradicionalmente bons exportadores como o sector dos Têxteis e Vestuário e o sector do Calçado, tenham respectivamente estagnado e crescido apenas 2,7%.
8. Falando das importações de mercadorias nos 1ºs oito meses do ano, verifica-se que neste período se importaram 37 081 milhões de euros de mercadorias, menos cerca de 1 679 milhões de euros e -4,3% comparativamente com os 1ºs oito meses do ano. As maiores quedas em valor nas importações de mercadorias foram de:
8.1. 1 240 milhões de euros de veículos automóveis (-29,9%);
8.2. 418 milhões de euros de máquinas e aparelhos (-7,3%),
enquanto a maior subida nas importações, como atrás disse, se registou na importação de combustíveis minerais com mais 1 016 milhões de euros de importações (+15,0%). A evolução das importações reflecte naturalmente a forte queda que se regista no consumo das famílias e no investimento, isso é bem visível na evolução que se registou nestes 1ºs oito meses do ano na importação de bens alimentares e bebidas (-6,1%), na importação de bens de consumo não especificados (-5,1%), na importação de bens para a industria (-5,9%), na importação de máquina e outros bens de capital (-8,2%) e na importação de material de transporte (-27,8%). Como atrás foi já referido só a importação de combustíveis e lubrificantes cresceu neste período.
9. Por origem das importações, tal como para as exportações também neste caso, o comércio com os países do espaço comunitário está em queda (-6,9% nos 1ºs oito meses do ano), enquanto as importações dos países extracomunitários se manteve positiva, embora em forte desaceleração (+2,7%).
10. Em síntese devemos assinalar que se é verdade que as exportações continuam a crescer a bom ritmo, também é verdade que tal se deve a exportações de bens que muito pouco têm a ver com a esmagadora maioria das nossas empresas – exportações de combustíveis - ou a actividades de interesse muito duvidoso para a nossa economia – como é caso da venda de ouro, outros metais preciosos e produtos farmacêuticos-. No caso do ouro, muitos portugueses estão literalmente a desfazer-se dos anéis para poderem fazer face às suas despesas inadiáveis, confrontados que foram com cortes brutais nos seus salários e pensões e podem estar a fazê-lo a preços quase simbólicos e, no caso dos produtos farmacêuticos esta subida das vendas ao exterior coincide com uma crescente escassez de medicamentos nas nossas farmácias, o que pode significar que confrontados com a imposição da descida dos preços dos medicamentos e com a forte redução do poder de compra da população, a indústria farmacêutica virou-se para o exterior para escoamento da sua produção e as Entidades Reguladoras da Saúde nada fizeram até agora, para obrigar a que o mercado dos produtos farmacêuticos responda em tempo às necessidades da população.
Sem comentários:
Enviar um comentário