Agora, Donald Trump já é bom?!
Pedro Tadeu . DN
Quando vejo os dirigentes desta querida Europa Ocidental, suposta paladina dos direito humanos, da liberdade e da paz, aplaudirem unanimemente o bombardeamento norte-americano contra instalações militares, governamentais, na Síria, para penalizar uma utilização de armas químicas, concluo: "Não aprendemos nada."
Quando, pela enésima vez, vejo repetida a cena da crónica subserviência europeia, acrítica e impotente, às ações intempestivas da política norte-americana (embora coerentes com uma estratégia política de domínio do Médio Oriente), exclamo: "Pois... não aprendemos nada..."
Quando vejo tantos aplausos a Donald Trump, dados pelas mesmas pessoas que na véspera acusavam o presidente norte-americano de ser um perigo para a democracia, chego à desesperada conclusão: "Realmente, bolas, não aprendemos nada!"
Não aprendemos quando os norte-americanos juraram que Saddam Hussein tinha armas de destruição maciça, uma comprovada mentira que justificou a segunda invasão do Iraque em 20 de março de 2003.
Agora aceitamos com entusiasmo, com base em informações imprecisas, a culpa do governo sírio (plausível, mas não comprovada) sobre a atrocidade em Khan Sheikoum, que matou 86 pessoas, 30 delas crianças.
Não aprendemos com as inúmeras notícias manipuladas que levaram a opinião pública europeia a aceitar a invasão do Iraque.
Agora aceitamos a parcialidade das informações sobre a guerra entre as forças de Al-Assad e os grupos da oposição, onde se misturam terroristas fundamentalistas islâmicos, realçando-se as atrocidades de um dos lados em guerra mas, com duplicidade, escondendo ou relativizando as múltiplas crueldades do lado oposto, como aconteceu, ao nível do escândalo, no final do ano, sobre os combates em Aleppo.
Não aprendemos sobre as consequências graves que se espalham pelo mundo quando os norte-americanos avançam para ações militares sem apoio da ONU.
Em 2003 o Canadá, a França e a Alemanha (vá lá!), para além da Rússia, opuseram-se ao ataque pedido por Colin Powell e George W. Bush às Nações Unidas, à espera da comprovação das acusações contra Saddam. Veja-se o que, desde aí, aconteceu ao Iraque (180 mil mortos e um país sem governo e sem economia) e a toda a região.
E veja-se, igualmente, como as repercussões laterais dessa ação conduziram à guerra e aos atentados terroristas do Estado Islâmico, ao desastre da intervenção europeia na Líbia, à própria guerra na Síria, entre muitos outros focos de conflitos, de mortes e de hordas de milhões refugiados.
Desta vez, Trump nem quis saber da organização liderada por António Guterres... E acabou aplaudido por todos menos a Rússia e a China... Como se consegue ver aqui um passo na direção da paz?
Achamos mesmo que o errático Donald Trump vai conseguir sozinho a paz que, ao longo de seis anos de guerra, 360 mil mortos e dez milhões de refugiados, chamou ao envolvimento direto uma dúzia de países, em apoio às várias fações em contenda, na retaguarda, em fornecimento de armas, em apoio logístico, em treino de combate e, até, no próprio campo de batalha?
Achamos mesmo que o tweeteiro/trauliteiro Donald Trump merece mais crédito no índice de sensatez política do que o autocrata Vladimir Putin?
Achamos mesmo que Donald Trump, o político antirrefugiados, deve liderar a política internacional do chamado mundo livre?
Pois se achamos isso é porque, de facto, não aprendemos nada.
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