Notas sobre o Cenário Macroeconómico do Programa de Estabilidade 2017/2021
- Uma nota prévia para referir que qualquer cenário macroeconómico plurianual, dadas as enormes incertezas na evolução do enquadramento internacional e a sua repercussão na realidade nacional, tem a sua importância concentrada nas previsões para o corrente ano e para o ano seguinte, enquanto as previsões para os restantes anos são meramente indicativas.
- Neste seu cenário macroeconómico o Governo começa por rever a sua última previsão de crescimento do PIB em 2017, previsão esta apresentada com OE/2017, de 1,5% para 1,8%. Curiosamente esta era a previsão que há um ano atrás o Governo avançava para 2017.
- Para esta subida na evolução do PIB em 2017, o Governo estima uma melhoria na previsão do crescimento do consumo privado (de 1,5% no OE/2017 para 1,6%), uma menor queda no consumo público (de - 1,2% para -1,0%), uma considerável melhoria na evolução do investimento de 3,1% para 4,8%, uma melhoria na evolução das exportações (de 4,2% para 4,5%) e um pior comportamento das importações de 3,6% para 4,1%.
- Resulta do que atrás foi referido que o contributo da procura interna é bem mais positivo neste cenário macroeconómico do que com o OE/2017, passa de 1,2% para 1,7%. Dentro da procura interna os maiores contributos para a evolução favorável do PIB virão de acordo com o Governo, do investimento.
- Neste cenário macroeconómico agora apresentado pelo Governo, para os anos seguintes 2018 a 2021, continua a apostar-se num crescimento contínuo do PIB de mais 0,1 pontos percentuais por ano, continua a apostar-se num crescimento do investimento de 5,1% em 2018 e 2019, de 4,8% em 2020 e de 4,7% em 2021, num crescimento do consumo privado de 1,6% ao ano e por uma quase contínua melhoria do consumo público.
- Para a previsão de um crescimento sustentado das exportações o governo conta com um crescimento considerável da procura externa de bens dirigida à nossa economia. Em 2017 prevê-se um crescimento desta de 3,9%, enquanto para os anos seguintes se aposta num contínuo crescimento de 4,1%. O preço do barril de petróleo brent prevê-se que permaneça em torno dos 55 e 56 dólares (não será demasiado optimismo??).
- Quanto `a inflação se em 2016 ela se situou nos 0,6%, nos anos seguintes estima-se que ela suba para valores em torno dos 1,6% em 2017 e 1,8% em 2021. Já o deflator do PIB esse permanecerá entre os 1,4% em 2017 e os 1,6% em 2021.
- Quanto ao mercado de trabalho, o Governo estima para 2017, uma taxa de desemprego de 9,9%, enquanto no OE/2017 se ficava pelos 10,3% (bem mais optimista agora). Estima-se uma taxa de variação do emprego de 1,3% em 2017 (uma criação líquida de cerca de 60 mil postos de trabalho), para nos anos seguintes esse crescimento ser de cerca de 1% ao ano (uma criação líquida de cerca de 47 mil postos de trabalho ao ano). Na actual previsão do Governo de evolução da taxa de desemprego, esta continuará a cair ao longo dos próximos anos, para em 2021 se situar nos 7,4%. De acordo com estas previsões do Governo a criação líquida de emprego que se irá verificar nos próximos anos vira do sector privado, já que no sector público a criação líquida de emprego será nula, ou seja, o emprego criado não ultrapassará as saídas de funcionários públicos do mercado de trabalho. Já taxa de variação das remunerações nominais será no próximo de cerca de 3,4%, o que aliado a uma inflação em torno dos 1,6%, significará uma melhoria no salário real em torno dos 1,8%.
- Prevê-se que a Balança de Bens permaneça deficitária ao longo dos próximos anos, em torno dos -4,4% do PIB, enquanto a Balança Corrente permanecerá superavitária em torno dos 0,6% a 0,7% do PIB. Para que isto aconteça naturalmente a Balança de Serviços continuará a ser altamente superavitária em torno dos 6% ao ano, graças à Balança de Turismo.
- O saldo orçamental global (déficite orçamental) que em 2016 se situou em torno dos -3800 milhões de euros, -2,0% do PIB, prevê o governo que em 2021 seja de 0,3% do PIB (superavite orçamental).
- A dívida pública por sua vez que em 2016 se situou nos 130,4% do PIB segundo as previsões deste cenário macroeconómico será em 2021 de 111,0% do PIB. Ao mesmo tempo, enquanto em 2016 se pagaram cerca de 7836 milhões de euros com juros da dívida pública, em 2021 esse montante será de 7910 milhões de euros.
- Com este cenário macroeconómico em 2021 a nossa economia atingiria um nível bem superior ao actual, com um crescimento médio anual real nestes cinco anos de 2%. O investimento total cresceria a uma taxa média anual real de aproximadamente 5%, com o investimento público a crescer a um ritmo anual real de cerca de 8%.
- Quanto ao investimento apesar do ritmo de crescimento previsto é importante referir que, dadas as fortes quebras registadas nos últimos anos, as quais fizeram com que desde 2012 o investimento total anual fosse insuficiente para compensar o consumo anual de investimento, a este ritmo de crescimento só em 2020 o investimento anual volta a superar o desgaste anual de investimento. Seria por isso importante conseguir-se um ainda maior ritmo de crescimento do investimento para que esta situação fosse superada mais cedo. (ver gráfico em anexo).
- Numa síntese final diria que, se é verdade que é bem possível que no corrente ano a nossa economia possa até crescer a um ritmo superior a 1,8% (o núcleo de conjuntura da Universidade Católica avança hoje com a previsão de um crescimento do PIB em 2017 de 2,4%), o cenário macroeconómico apresentado com o PE 2017-2021, é um cenário muito optimista e até mesmo irrealista já que sem romper com os constrangimentos impostos pelo Pacto de Estabilidade e pela União Económica e Monetária, o país chegaria a 2021 e teria resolvido o problema do défice orçamental e teria começado a reduzir de forma consistente a sua dívida pública, coisa em que não acreditamos.
O irrealismo deste cenário do meu ponto de vista reside no facto de se considerar que será possível ao nosso país crescer desta forma, sem medidas de política económica que protejam a produção nacional, apostem no nosso aparelho produtivo e que incentivem a substituição de importações por produção nacional (a saída do euro será para isso uma decisão incontornável), sem que a nossa Balança Corrente volte a entrar em desequilíbrio com o crescimento das importações a superar fortemente o crescimento das exportações. Não por acaso as mais recentes projecções do Banco de Portugal para 2017, 2018 e 2019, (são de Março passado) ao contrário do Governo colocam as importações a crescer a um ritmo superior ao das exportações.
Com este cenário macroeconómico de médio prazo o Governo continua a apostar em conseguir passar pelos intervalos da chuva!
CAE, 13 de Abril de 2017
José Alberto Lourenço
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