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Ainda que a economia esteja saudável, também está frágil. Os EUA viveram uma década de taxas de juro excessivamente baixas, o que levou os investidores e os credores a procurarem rendibilidades mais altas, fazendo subir os preços de todos os tipos de activos e realizando empréstimos arriscados. O perigo é que os activos sobrevalorizados e os empréstimos de alto risco possam perder valor e provocar uma desaceleração económica.
O rácio preço/lucros do índice Standard & Poor's 500 está agora quase 70% acima da média histórica. Um retorno da relação preço-lucros à sua média histórica faria com que os preços das acções caíssem 40%, implicando uma perda de mais de 9 biliões de dólares, um valor equivalente a quase metade do PIB total.
Os juros da dívida a dez anos estão agora nos 2,5%. Com a actual taxa de inflação de mais de 2% e os mercados a anteciparem uma taxa de inflação semelhante a longo prazo, a yield dos títulos do Tesouro deveria estar acima de 4%. Um aumento da yield a dez anos para 4% reduziria substancialmente o valor dessas obrigações. Outros títulos de longo prazo – obrigações soberanas e de empresas - sofreriam quedas similares.
A procura por rendibilidade também reduziu os spreads de crédito entre obrigações com um rating elevado e obrigações domésticas e dos mercados emergentes mais arriscadas. E os preços dos imóveis comerciais têm sido elevados até níveis que provavelmente não são sustentáveis.
Ao mesmo tempo, os bancos e outros credores estenderam empréstimos com taxas de juro que não reflectem o risco dos mutuários. E, como esses empréstimos impõem menos condições aos mutuários, são mais propensos ao default se as condições económicas se deteriorarem.
Mas um mau resultado não é inevitável. É possível que nenhum dos riscos que descrevi se materialize. As taxas de juro podem voltar aos níveis normais, e os preços dos activos podem corrigir de forma gradual. Mas há o risco claro de uma década de taxas de juro excessivamente baixas provocar um colapso dos preços dos activos e uma crise económica. Este será um grande desafio para a Reserva Federal dos EUA e para o governo de Trump no próximo ano.
Martin Feldstein é professor de Economia na Universidade de Harvard e presidente emérito do Departamento Nacional de Investigação Económica, e presidiu ao Conselho de Assessores Económicos do Presidente Ronald Reagan de 1982 a 1984.
Copyright: Project Syndicate, 2017. Negócios
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