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11 de junho de 2021

O EURO ,a política de direita e o passa culpas no Bloco Central das negociatas

 FAZER O MAL E A CARAMUNHA

Agostinho Lopes


De há uns tempos a esta parte multiplicaram-se os comentários sobre a avaliação da situação económica do país, comparando-a com os países do Leste Europeu a partir do cotejo da evolução dos respectivos rácios do PIB/capita. E as conclusões são sempre as mesmas: Portugal ultrapassado até pela Roménia; Portugal lanterna vermelha na UE, pior só a Bulgária; «Portugal é o terceiro pior do euro»! Com mais ou menos música, os títulos são elucidativos: «Retrato de um país ameaçado pelo marasmo» (1); «Assim não saímos do mesmo sítio» (2); «Portugal, pedala, pedala, e não sai do sítio» (3); «Causas da nossa decadência» (4); «História de um país pobre que se tornou um pobre país» (5); «O fracasso de Portugal na Europa e a SEDES» (6) – com um subtítulo: «É infelizmente necessário constatar que, em termos de desenvolvimento económico e social, os últimos 22 anos se saldaram por um rotundo fracasso», etc., etc. E a controvérsia não será certamente com as «conclusões» inscritas nos títulos. Três breves anotações e o registo da superficialidade, mesmo do simplismo, de algumas análises e surpreendentes «esquecimentos». (7)

Aparentemente não passa pela cabeça dos analistas que no período de tempo de referência utilizado, as duas primeiras décadas do século, a economia portuguesa é definitiva e estruturalmente marcada pela adesão ao euro e tudo o que a pertença à Zona Euro arrastou, nomeadamente em termos de gestão orçamental e investimento público. A que se deve acrescentar as consequências da chamada Estratégia de Lisboa (2000) e os seus sucedâneos, com o carrossel das liberalizações e privatizações, uma financeirização brutal, e consequências dramáticas nos sectores produtivos, como foi a desindustrialização. Depois são análises que, metendo todos aqueles países no mesmo saco, não conseguem ver que há dois grupos bem distintos. O grupo que está fora do euro (Bulgária, Croácia, Hungria, R. Checa e Roménia), que crescem a um ritmo médio anual que é o dobro da média da Zona Euro. O outro, os restantes cinco (Estónia, Lituânia, Letónia, Eslovénia e Eslováquia), que aderiram ao euro em momentos diferentes nos últimos 15 anos, e que, desde então, baixaram consideravelmente os seus ritmos de crescimento. Sendo, apesar disso, quase sempre superior ao da média da Zona Euro (e não só de Portugal, Itália, Grécia e Espanha). Veremos no futuro o que vai acontecer, mas seria estranho que não se acrescentassem nesta análise outros factores, nomeadamente os pontos de partida das suas estruturas produtivas, qualificação da mão-de-obra (uma «herança» do comunismo!), e até a sua maior proximidade geográfica à Alemanha e países do centro da Europa.   

Depois o «esquecimento» de que há mais de duas décadas todos estes analistas, e os jornais onde escrevem, e os partidos a que alguns pertencem, são os promotores, os ideólogos e estremes defensores das políticas de sucessivos governos do PS (incluindo do actual), PSD e CDS, e de tudo quanto tem vindo da UE e sobretudo da Zona Euro – algumas das quais são atrás referidas – exactamente as causas e as explicações para a situação de desastre económico e social em que o país se encontra e que povoa os títulos dos seus comentários. É absolutamente notável o tom compungido do Director do Público em recente Editorial, lacrimejando pela «queda de 17% dos salários dos (jovens) portugueses licenciados» nos últimos dez anos e a «emigração dos mais ousados e talentosos» (1)! Arre, que é preciso lata!

Para acabar, desnudar os reais objectivos daquelas análises. Todos concentram as responsabilidades (mesmo se alguns dão mais umas voltas) do ponto a que chegamos, não em mais de quatro décadas de políticas de direita do PS, PSD, CDS, particularmente as que geriram os 20 anos deste século, não na continuidade, no essencial, dessas mesmas políticas pelo actual Governo PS (caso da submissão à UE e ao euro), mas na paralisia do actual Governo PS peado no ímpeto reformista pelas «alianças» à esquerda (8), na concretização das velhas e conhecidas, e nunca assaz louvadas, «reformas estruturais»: maior liberalização da legislação laboral, assalto à Segurança Social pública, privatização de serviços públicos, etc. E nunca esquecer: mais dinheiro dos fundos comunitários para o grande capital... «Esquecendo», também, mas não é por mal, que daqueles 20 anos a pontual e limitada interferência da esquerda se deu em cinco anos! Curiosamente, o único período em que crescemos acima da média da Zona Euro.


(1) Manuel Carvalho, Público, 03JUN21; (2) João Vieira Pereira, Expresso,  09ABR21; (3) João Silvestre, Expresso, 09ABR21; (4) Miguel Poiares Maduro, Expresso, 04JUN21; (5) João Vieira Pereira, Expresso, 04JUN21; (6) Clemente Pedro Nunes, “i” 05FEV21; (7) Refira-se como excepção, Cristina Casalinho, Jornal de Negócios, 26MAI21, tendo o cuidado até de uma comparação com países com economias com dimensão semelhante à nossa, Hungria e R. Checa; (8) No bom resumo de muitos dizeres de Luís Todo Bom: «um Governo socialista, de matriz comunista, onde a extrema esquerda dita as regras do seu posicionamento estratégico (...)» (Expresso, 04JUN21) Ouviste, oh Costa!?


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