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8 de abril de 2022

A criação do mundo bipolar

 Não, não se trata de uma oratória de Haydn, porém talvez seja a realidade deste tempo histórico. De um lado EUA/NATO e aliados mais fieis, do outro Rússia, China e países ligados a estes como o Irão, Bielorússia e outros. De um lado a "comunidade internacional" com uns 15% da população mundial, do outro 25%. O "terceiro mundo" volta a reconstituir-se como se viu na votação na ONU sobre a aplicação de sanções à Rússia.

Entretanto o combate pró ou contra esta situação decorre e vai continuar estendendo-se à China, tendo em conta o resultado do conflito Rússia - Ucrânia e da posição que a UE vier a tomar em relação à China, acompanhando ou não (se é que o poderá fazer) os EUA. O que as populações fizerem em termos de luta pela paz e soberania nacional será também decisivo.

Por isso a propaganda entrou em histeria. Factos inverosímeis são dados como certos, as evidências rejeitadas, a paixão suprimiu a lógica. A UE obedece como caniche a tentar parecer rottweiler, o RU tornou-se sucursal de Washington - como considerava De Gaulle.

A ideia inicial do avanço russo a Kiev seria a adesão da população e formar um novo governo que fizesse a paz negociada com a Rússia. Tal não foi possível nem se sabe que percentagem da população apoiaria esta solução. Passou então ao plano B concentrando-se sobre o Donetsk e zonas marítimas.

A Rússia menosprezou o formidável poder da propaganda russofóbica e anti-Putin, intensa durante oito anos, mas que já vinha de trás, desde que perceberam que Putin não era um Ieltsin não alcoólico ou um novo Gorbatchov seduzido pelas riquezas imperialistas sonhando associar-se - de qualquer forma não lho permitiriam.

O objetivo das sanções era destruir a economia da Rússia criando uma crise que levasse à substituição de Putin. Este objetivo falhou e quem paga as custas são os demais países da Europa, o que pouco importa aos EUA, já que: "Fuck UE" (Nuland). A popularidade de Putin está acima dos 80% enquanto o desagrado pelos "liberais", a 5ª coluna ocidental, é total.

A Rússia e os EUA estão numa guerra existencial em que apenas um dos lados pode ganhar, os EUA sonham com o seu império de 1000 anos, a Rússia pelo direito de ser livre e soberana - na realidade Putin não os fez esquecer a agressão nazi e os tempos de horror sob a "democracia liberal" de Ieltsin e conselheiros dos EUA.

Uma das histórias infames da propaganda foi a da empregada da maternidade em Mariopol, chamada Marianne, que refutou completamente a propaganda. Afirmou na sua entrevista que não só a maternidade não foi “bombardeada” por nenhum avião, como as falsas notícias afirmaram, mas contou como os militares ucranianos invadiram a maternidade, roubaram a comida dos pacientes mesmo depois dela dizer-lhes que era para as grávidas. Após o “ataque”, os soldados apareceram com jornalistas ocidentais e basicamente usaram-na como “adereço” apesar dela chorar e dizer-lhes para pararem de tirar fotos. Em suma, foi um evento de guerra psicológica ensaiado onde os fotógrafos já estavam à espera. A peça da grávida foi perfeitamente utilizada como objeto de propaganda orquestrada. (1)

Vídeos mostram forças ucranianas abusando de prisioneiros russos. Num vídeo um jornalista ucraniano mostra três corpos carbonizados, que se considera serem prisioneiros de guerra. Aisling Reidy, consultora jurídica da Human Rights Watch. disse: “Deve ser possível verificar se houve abuso e, a partir daí, responsabilizar os responsáveis.” Outro vídeo mostra cinco homens em uniforme militar no chão com as mãos amarradas e dois deles com sacos na cabeça. Pelo menos três dos prisioneiros têm ferimentos nas pernas consistentes com ferimentos de bala. Os captores têm uma mistura de uniformes, armas e equipamentos e nenhuma insígnia claramente identificável. Não está claro se fazem parte do exército regular, de uma unidade de defesa territorial (grupos nazis) ou outra força. Alguns dos prisioneiros têm faixas brancas nos braços (civis ucranianos) um deles tem uma faixa vermelha, ambas usadas pelas forças russas e pró-russas na guerra da Ucrânia. Muitos dos captores têm braçadeiras azuis (forças de segurança ucranianas). (2)

Em 28 de março, o jornalista ucraniano Yuri Butusov, editor do Censor.net, postou um vídeo que disse ter gravado algumas horas depois que os combates na área cessaram. Mostra restos mortais gravemente queimados de três pessoas que usavam o que pensava serem uniformes russos, se são os mesmos homens dos vídeos anteriores, ainda não se sabe. Jornalistas que visitaram o local relataram que viram os corpos de dois soldados russos nas ruas e outros dois que foram atirados a um poço. Disseram que que cinco soldados russos foram capturados, um dos quais foi morto ao tentar escapar. (2)

"Yuri Butusov, editor do site de notícias ucraniano Censor.net, publicou um artigo de opinião no seu site no qual argumentava que “a Convenção de Genebra não se aplica a militares russos detidos na Ucrânia”. “A Ucrânia não é obrigada a cuidar deles e fornecer acesso à Cruz Vermelha, já que Putin não declarou guerra à Ucrânia”, argumentou Butusov. Este jornalista, uma semana antes da invasão russa agrediu um político pró-Rússia durante um debate ao vivo na televisão, acrescentou que, na sua opinião, “os russos não são legalmente prisioneiros de guerra, mas são terroristas”. (2)

Bem, não apenas a propaganda segue Goebbels, como há unidades ucranianas que adotam os procedimentos das SS.

1 https://thesaker.is/sitrep-operation-z-3/ A entrevista com legendas pode ser vista aqui

2 - https://www.hrw.org/news/2022/03/31/ukraine-apparent-pow-abuse-would-be-war-crime

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