Linha de separação


9 de março de 2018

Negrão perdeu a memória !

Jorge Cordeiro.


 Condoídos que estão!

 Em “horas de aperto” foge-se para onde se está virado. Mesmo que o apuramento científico da afirmação seja mais empírico que racional, resulte mais de experiência feita do que sustentação académica, a verdade é que a observação popular que a sustenta lá se vai comprovando. Melhor aprofundadas as razões que deram vida à expressão, se verá que a força da lei da vida e, em particular do instinto de sobrevivência, assim o determinam. Será à luz destas que se pode compreender a afirmação de Fernando Negrão, proferida no debate quinzenal após ter sido eleito líder parlamentar do PSD, de que o «dinheiro dos pobres não deve ter por destino os bancos». Comovido que se ficará perante tão condoído dizer, sobrevive o risco de nele ver nesga de contrição.

Adiante-se que não merecerá reparo especial a matéria que suscitou a ousada afirmação: o questionamento sobre a entrada da Santa Casa da Misericórdia no capital do Banco Montepio Geral. O Montepio é uma associação posta de pé pelos seus associados – mais de seiscentos mil – criada com fins mutualistas e não subordinada aos critérios da banca privada. A eventual entrada da Misericórdia de Lisboa no capital do Banco não pode ser vista à margem das orientações que visam subverter a natureza do projecto e a sua origem: seja pelas alterações que a mando da regras da União Europeia obrigaram à separação do Banco da Associação; seja pela ambicionada abertura da entidade bancária ao capital privado; seja pela sua transformação em “banco social”. E até se deve acrescentar, pelo conteúdo ainda que não pela intenção, que nem mereceria registo crítico particular a ideia de que o dinheiro dos “pobres” - imprecisão do termo mas admissível pelas concepções que adiante se sublinharão – não deve destinar-se à banca. Intercale-se agora, com prejuízo da fluidez narrativa que, se com a frase Negrão quis agradar à bancada, bem se pode dizer que foi “pior a emenda que o soneto”. Negrão deveria saber que a frase, capaz de pôr os cabelos em pé dos seus pares e o PSD em pé de guerra, soará como demolidora acusação aos seus e a si próprio.

Não o tivéssemos visto por cá a deambular em cargos e responsabilidades diversas no PSD; não nos recordássemos da sua passagem pelo Governo de Passos Coelho empossado após as legislativas de 2015 – meteórica, é certo, atendendo aos 11 dias de vida que na balsa fornecida por Cavaco Silva se tentaram manter à tona da governação  – e diríamos que Negrão vindo de nenhures aterrou agora em solo pátrio. Negrão parece não ter dado conta do desfiar de escândalos, burlas, fraudes e gestão danosa desse interminável corrupio envolvendo BPP, BPN, BES ou BANIF.

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