As últimas eleições tornaram mais evidente um problema que não é novo, mas que se amplia e vulgariza de forma preocupante sustentada por um certo populismo serôdio anti-partidos e anti-políticos. Trata-se da difundida ideia de que os políticos e os partidos são todos iguais e que, por arrasto e acção ideologicamente orientada de alguns, conduz à diabolização das instituições democráticas, do Estado e dos serviços públicos que são indispensáveis para dar resposta a problemas essenciais das populações.
Muita da abstenção verificada alimenta-se desta concepção e vimos como certas candidaturas nela cavalgaram e a alimentaram na base das generalizações abusivas que metem tudo no mesmo saco da corrupção e do sistema clientelar para captar o voto de protesto sincero de muitos portugueses decepcionados com a evolução das suas vidas.
Os fenómenos de desilusão, descrença e até desorientação que se reflectem nesta ideia que toma a parte como todo, não podem ser desligados de uma persistente ofensiva contra os interesses populares que cresceu em função da incapacidade revelada na solução dos problemas do país pelos executores de uma política muito concreta que, no essencial, pouco ou nada se diferencia de governo para governo. Mas também não pode ser desligada da capacidade revelada por aqueles que executam e a quem servem tais políticas para, através de uma comprovada capacidade de produção ideológica e de domínio do espaço mediático, promover a mistificação das causas e dos responsáveis pela grave situação a que o país chegou.
As técnicas da excessiva personalização da política, deixando na penumbra a natureza das próprias políticas que se executam, a centralização da responsabilização da situação nos actores políticos para ocultar a responsabilidade do poder económico e os grandes interesses de que aqueles são expressão, são, entre outras, como a filtragem e exposição privilegiada das soluções que promover a confusão e até a provocação gratuita com o objectivo de fazer engordar a torrente do efémero, para fazer desaguar toda e qualquer vontade de mudança no mar das inutilidades.
É uma evidência que nem todos os partidos estiveram no governo do país nos últimos anos e muito menos deram aval às orientações que conduziram o país à grave situação em que se encontra. Mas esse facto é completamente triturado e de forma pouco inocente num sugerido processo de intenção que dá como certo que seja quem for fará o mesmo.
Esta fórmula de que todos os partidos e políticos são iguais e se comportarão de igual modo é hoje, sem dúvida, um factor poderoso da ideologia da resignação que não só encerra enormes perigos para o regime democrático, como se está a transformar num poderoso obstáculo a uma mudança capaz de romper o circulo vicioso do domínio dos que estão na origem de um país cada vez mais injusto e mais dependente.
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