Pronto a explodir
Pepe Escobar | ||
traduzido por Coletivo de tradutores Vila Vudu |
Você está na iminência de pôr os pés no derradeiro campo minado.
Comecemos com os 28 líderes da União europeia, UE, a discutir os Bálcãs Ocidentais
em recente reunião de cimeira, e atirando a culpa sobre –e sobre quem seria? -"a
agressão russa" no quintal dos fundos da UE.
Dica para um Procurador de Montenegro pôr-se a vociferar que
"corpos estatais russos" teriam encenado uma tentativa de golpe durante
as eleições de outubro de 2016, para impedir o país de unir-se à OTAN.
E dica também para o presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker
pôr-se a ameaçar que a retórica anti-UE de Donald Trump pode levar à guerra
nos Bálcãs. Juncker, sempre condescendente, insiste que "Se nós deixarmos
aqueles países entregues a eles mesmos – Bósnia e Herzegovina, República
Srpska, Macedônia, Albânia, todos aqueles países – teremos guerra outra vez."
Os Bálcãs podem estar a ponto de explodir – tudo outra vez! Mas com
pequeno toque novo: diferente de 1999, a OTAN não conseguirá bombardear
uma Belgrado indefesa durante 78 dias, e safar-se como se nada tivesse acontecido.
Uma nova geração de mísseis russos lá estará para impedir.
A tragédia de 1999 nos Bálcãs começou essencialmente com massacres
no Kosovo, forjados pela inteligência alemã (o BND), usando albaneses
locais e agentes provocadores da inteligência alemã, que atiravam contra os dois lados, para provocar uma guerra e quebrar a Iugoslávia.
Todos os olhares sobre Albânia
O que fermenta hoje na atual conjuntura geopolítica é ainda mais sinistro.Os suspeitos de sempre fazem o que sempre fazem: culpar a Rússia e atropelar
quaisquer provas.
Deixemos pois que nos guie um especialista 'interno' reconhecido, Dr. Olsi Jazexhi, diretor do Instituto de Mídia Livre em Tirana, Albânia. Em dezembro de 2016, John Brennan da CIA foi à Albânia e lançou uma
fatwa ordenando "guerra contra a Rússia" – especialmente na Macedônia.
Como o Dr. Jazexhi explica, "depois que Brennan saiu, Edi Rama, primeiro-ministro
da Albânia, amigo íntimo de George Soros, reuniu todos os partidos políticos
albaneses na Macedônia e ordenou que apoiassem Zoran Zaev contra
Nikola Gruevski. Gruevski é visto como pró-Rússia e anti-OTAN, e Zaev
é cachorrinho de pelúcia de Soros. Resultado, Gruevski foi boicotado
pelos albaneses e Zaev recebeu apoio para formar um governo. A promessa
de Zaev aos albaneses é que a Macedônia adaptará o idioma albanês como língua
oficial e criará um terceiro estado (meio albanês) nos Bálcãs. Os macedônios
estão resistindo, mas Tirana e Edi Rama estão orquestrando os partidos
políticos albaneses contra Gruevski. O objetivo da jogada é tornar
a Macedônia membro da OTAN."
Enquanto isso, no Kosovo – que não passa de lixeira controlada por mafiosos
fazendo pose de estado e hospedando o Camp Bondsteel, a maior base militar
dos EUA de todo o planeta –, Hashim Thaci, presidente e bandido que
foi membro do ex-KLA [ing.] (Exército de Libertação do Kosovo, ELK), está
"construindo um exército para o Kosovo. O objetivo final é integrar o Kosovo
à OTAN, ainda que a Sérvia rejeite o arranjo para sua ex-província autônoma."
Jazexhi também detalha como, "na Albânia, temos duas grandes organizações
terroristas ambas protegidas pelos norte-americanos e pelos europeus."
A primeira é o que Ancara chama de Organização Terrorista Fetullah Gulen [ing.
Fetullah Gulen Terror, FETO], que teria sido instrumentalizada pela inteligência
alemã; "a Turquia está protestando porque a Albânia abriga o grupo FETO,
mas os EUA os hospedam contra Erdogan."
A segunda daquelas organizações terroristas é Mojahedin-e Khalq (MKO),
que luta contra Teerã; "a Albânia está sendo convertida em centro da MKO.
John Bolton foi recentemente a Tirana, com outros apoiadores internacionais
dos MKO, e agora atacam o Irã e clamam por 'mudança de regime'."
Marjam Rajavi, dos doidos MKO, também visitou Tirana, desenvolvendo
planos para "derrubar os aiatolás" no Irã.
A questão chave, como Jazexhi enfatiza, é que "depois de converter os Bálcãs em centro de recrutamento para o ISIS/Daech durante a guerra na Síria, agora os norte-americanos estão convertendo a Albânia num Estado de Jihad 2.0."
O Inimigo "Invisível"
Assim sendo, a peça chave do quebra-cabeça é a configuração da Albânia como centro de Jihad 2.0 – contra os eslavos na Macedônia, contra Teerã, e também contra Ancara. Não surpreende que, até há uns poucos meses, o principal conselheiro do governo albanês tenha sido um certo Tony Blair.Mas há sobretudo o inimigo "invisível", o inimigo que realmente interessa compreender. No final de março, o presidente sérvio Tomislav Nikolic foi a Pequim em sua última
visita oficial antes das eleições de 2 de abril. O presidente Xi Jinping da China
destacou que a cooperação econômica com a Sérvia – e, de modo geral, com os Bálcãs – é prioridade para a China.
Quanto a isso, nem se discute. Em 2014, Pequim criou um fundo que investirá 10 bilhões
de euros na Europa Central e Ocidental. Ano passado, a empresa China
Everbright comprou o aeroporto de Tirana na Albânia. O China Exim Bank
está financiando a construção de autopistas na Macedônia e em Montenegro.
Na Sérvia, a empresa China Road & Bridge Corporation construiu a ponte Pupin de 170 milhões de euros sobre o rio Danúbio em Belgrado – chamada "Ponte da Amizade Sino-sérvia",
inaugurada em 2014, 85% da qual foi financiada por um empréstimo do China Exim Bank.
E a cereja do bolo (do desenvolvimento da infraestrutura) é a ferrovia para trens de alta velocidade, de 350 km e que custou $2,89 bilhões, entre Atenas e Budapeste, via Macedônia e Belgrado. A União Europeia disparou sinetas de alarma contra o trecho principal, de $1,8 bilhão,
Budapest-Belgrado, com investigações sobre a possibilidade de o trecho pela
Hungria violaria estritas leis da UE segundo as quais a licitação pública é obrigatória
para grandes projetos de transporte.
Incluída vem a proverbial arrogância ocidental, que determina que nenhum chinês será jamais capaz de construir infraestrutura para ferrovias de alta velocidade que chegue sequer à mesma qualidade, imagine se chineses fariam melhor – e por menor custo – que a Europa. Acontece que o trecho Budapest-Belgrado é absolutamente crucial na Rota Expressa
Terra Mar que Pequim prometeu construir já há tempos, em 2014, com Hungria,
Sérvia e Macedônia. É o centro do nodo crucial Sudeste da Europa do Projeto
Novas Rotas da Seda, agora rebatizado como Iniciativa Cinturão e Estrada: um
corredor comercial entre o porto de contêineres de Pireus, no Mediterrâneo – do qual
a China Ocean Shipping Company é coproprietária desde 2010 –, diretamente
até a Europa Central.
A 'ideia' central dos especialistas da OTAN é que a Aliança terá de estar plantada nos Bálcãs para combater a "ameaça do terrorismo". Segundo o secretário-geral da OTAN Jens
Stoltenberg, "Visitei recentemente a Bósnia Herzegovina e o Kosovo, e estou
muito encorajado, por ver como estão focados em dar combate à ameaça
dos combatentes estrangeiros."
Ora essa! Os "combatentes estrangeiros" estão precisamente em casa, não só no Kosovo, mas logo também na Albânia, capital da Jihad 2.0. A OTAN, na verdade, é especialista renomada
em criar "ameaças" iminentes, indispensáveis para justificar sua própria existência.
A Jihad 2.0 pode ser dirigida contra os eslavos na Macedônia, contra o Irã e contra a Turquia. Para nem falar do que pode fazer contra o "baixo ventre" da Rússia. O ângulo invisível
é que essa Jihad 2.0 sempre poderá ser usada para boicotar o movimento da China,
de integrar o sudeste da Europa como nodo chave das Novas Rotas da Seda.
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