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7 de junho de 2017

Desestablizar os Balcâs


Pronto a explodir
Pepe Escobar  
traduzido por  Coletivo de tradutores Vila Vudu


Você está na iminência de pôr os pés no derradeiro campo minado.
Comecemos com os 28 líderes da União europeia, UE, a discutir os 
Bálcãs Ocidentais
 em recente reunião de cimeira, e atirando a culpa sobre –e sobre quem seria? -"a 
agressão russa" no quintal dos fundos da UE.

Dica para um Procurador de Montenegro pôr-se a vociferar que 
"corpos estatais russos" teriam encenado uma tentativa de golpe durante 
as eleições de outubro de 2016, para impedir o país de unir-se à OTAN.

E dica também para o presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker 
pôr-se a ameaçar que a retórica anti-UE de Donald Trump pode levar à guerra
 nos Bálcãs. Juncker, sempre condescendente, insiste que "Se nós deixarmos 
aqueles países entregues a eles mesmos – Bósnia e Herzegovina, República
 Srpska, Macedônia, Albânia, todos aqueles países – teremos guerra outra vez."


Os Bálcãs podem estar a ponto de explodir – tudo outra vez! Mas com
 pequeno toque novo: diferente de 1999, a OTAN não conseguirá bombardear 
uma Belgrado indefesa durante 78 dias, e safar-se como se nada tivesse acontecido. 
Uma nova geração de mísseis russos lá estará para impedir.

A tragédia de 1999 nos Bálcãs começou essencialmente com massacres 
no Kosovo, forjados pela inteligência alemã (o BND), usando albaneses
 locais e agentes provocadores da inteligência alemã, que atiravam contra os dois lados, para provocar uma guerra e quebrar a Iugoslávia.

Todos os olhares sobre Albânia
O que fermenta hoje na atual conjuntura geopolítica é ainda mais sinistro.

Os suspeitos de sempre fazem o que sempre fazem: culpar a Rússia e atropelar
 quaisquer provas.

Deixemos pois que nos guie um especialista 'interno' reconhecido, Dr. Olsi Jazexhi, diretor do Instituto de Mídia Livre em Tirana, Albânia.

Em dezembro de 2016, John Brennan da CIA foi à Albânia e lançou uma
 fatwa ordenando "guerra contra a Rússia" – especialmente na Macedônia.

Como o Dr. Jazexhi explica, "depois que Brennan saiu, Edi Rama, primeiro-ministro 
da Albânia, amigo íntimo de George Soros, reuniu todos os partidos políticos 
albaneses na Macedônia e ordenou que apoiassem Zoran Zaev contra
 Nikola Gruevski. Gruevski é visto como pró-Rússia e anti-OTAN, e Zaev 
é cachorrinho de pelúcia de Soros. Resultado, Gruevski foi boicotado 
pelos albaneses e Zaev recebeu apoio para formar um governo. A promessa 
de Zaev aos albaneses é que a Macedônia adaptará o idioma albanês como língua 
oficial e criará um terceiro estado (meio albanês) nos Bálcãs. Os macedônios 
estão resistindo, mas Tirana e Edi Rama estão orquestrando os partidos
 políticos albaneses contra Gruevski. O objetivo da jogada é tornar
 a Macedônia membro da OTAN."

Enquanto isso, no Kosovo – que não passa de lixeira controlada por mafiosos 
fazendo pose de estado e hospedando o Camp Bondsteel, a maior base militar
 dos EUA de todo o planeta –, Hashim Thaci, presidente e bandido que 
foi membro do ex-KLA [ing.] (Exército de Libertação do Kosovo, ELK), está 
"construindo um exército para o Kosovo. O objetivo final é integrar o Kosovo
 à OTAN, ainda que a Sérvia rejeite o arranjo para sua ex-província autônoma."

Jazexhi também detalha como, "na Albânia, temos duas grandes organizações 
terroristas ambas protegidas pelos norte-americanos e pelos europeus."

A primeira é o que Ancara chama de Organização Terrorista Fetullah Gulen [ing. 
Fetullah Gulen Terror, FETO], que teria sido instrumentalizada pela inteligência 
alemã; "a Turquia está protestando porque a Albânia abriga o grupo FETO
mas os EUA os hospedam contra Erdogan."

A segunda daquelas organizações terroristas é Mojahedin-e Khalq (MKO)
que luta contra Teerã; "a Albânia está sendo convertida em centro da MKO.
 John Bolton foi recentemente a Tirana, com outros apoiadores internacionais 
dos MKO, e agora atacam o Irã e clamam por 'mudança de regime'."

Marjam Rajavi, dos doidos MKO, também visitou Tirana, desenvolvendo
 planos para "derrubar os aiatolás" no Irã.
A questão chave, como Jazexhi enfatiza, é que

"depois de converter os Bálcãs em centro de recrutamento para o ISIS/Daech durante a guerra na Síria, agora os norte-americanos estão convertendo a Albânia num Estado de Jihad 2.0."

Assim, o que está em desenvolvimento é "o mesmo erro histórico cometido pelos albaneses do Kosovo, que associaram 100% do próprio futuro ao Camp Bondsteel e serão imediatamente reinvadidos pela Sérvia, caso a OTAN ou os EUA saiam de lá (o que acontecerá inevitavelmente, mais cedo ou mais tarde).

Entrementes, a União Europeia e os norte-americanos que querem des-radicalizar os muçulmanos wahhabistas da Europa, não dão um pio sobre os jihadistas iranianos."
O Inimigo "Invisível"
Assim sendo, a peça chave do quebra-cabeça é a configuração da Albânia como centro de Jihad 2.0 – contra os eslavos na Macedônia, contra Teerã, e também contra Ancara. Não surpreende que, até há uns poucos meses, o principal conselheiro do governo albanês tenha sido um certo Tony Blair.

Mas há sobretudo o inimigo "invisível", o inimigo que realmente interessa compreender.

No final de março, o presidente sérvio Tomislav Nikolic foi a Pequim em sua última 
visita oficial antes das eleições de 2 de abril. O presidente Xi Jinping da China 
destacou que a cooperação econômica com a Sérvia – e, de modo geral, com os Bálcãs – é prioridade para a China.

Quanto a isso, nem se discute. Em 2014, Pequim criou um fundo que investirá 10 bilhões
 de euros na Europa Central e Ocidental. Ano passado, a empresa China 
Everbright comprou o aeroporto de Tirana na Albânia. O China Exim Bank
 está financiando a construção de autopistas na Macedônia e em Montenegro.

Na Sérvia, a empresa China Road & Bridge Corporation construiu a ponte Pupin de 170 milhões de euros sobre o rio Danúbio em Belgrado – chamada "Ponte da Amizade Sino-sérvia",
 inaugurada em 2014, 85% da qual foi financiada por um empréstimo do China Exim Bank.

E a cereja do bolo (do desenvolvimento da infraestrutura) é a ferrovia para trens de alta velocidade, de 350 km e que custou $2,89 bilhões, entre Atenas e Budapeste, via Macedônia e Belgrado.

A União Europeia disparou sinetas de alarma contra o trecho principal, de $1,8 bilhão, 
Budapest-Belgrado, com investigações sobre a possibilidade de o trecho pela 
Hungria violaria estritas leis da UE segundo as quais a licitação pública é obrigatória
 para grandes projetos de transporte.

Incluída vem a proverbial arrogância ocidental, que determina que nenhum chinês será jamais capaz de construir infraestrutura para ferrovias de alta velocidade que chegue sequer à mesma qualidade, imagine se chineses fariam melhor – e por menor custo – que a Europa.

Acontece que o trecho Budapest-Belgrado é absolutamente crucial na Rota Expressa 
Terra Mar que Pequim prometeu construir já há tempos, em 2014, com Hungria, 
Sérvia e Macedônia. É o centro do nodo crucial Sudeste da Europa do Projeto 
Novas Rotas da Seda, agora rebatizado como Iniciativa Cinturão e Estrada: um 
corredor comercial entre o porto de contêineres de Pireus, no Mediterrâneo – do qual
 a China Ocean Shipping Company é coproprietária desde 2010 –, diretamente 
até a Europa Central.

A 'ideia' central dos especialistas da OTAN é que a Aliança terá de estar plantada nos Bálcãs para combater a "ameaça do terrorismo". Segundo o secretário-geral da OTAN Jens
 Stoltenberg, "Visitei recentemente a Bósnia Herzegovina e o Kosovo, e estou 
muito encorajado, por ver como estão focados em dar combate à ameaça
 dos combatentes estrangeiros."

Ora essa! Os "combatentes estrangeiros" estão precisamente em casa, não só no Kosovo, mas logo também na Albânia, capital da Jihad 2.0. A OTAN, na verdade, é especialista renomada 
em criar "ameaças" iminentes, indispensáveis para justificar sua própria existência.

Jihad 2.0 pode ser dirigida contra os eslavos na Macedônia, contra o Irã e contra a Turquia. Para nem falar do que pode fazer contra o "baixo ventre" da Rússia. O ângulo invisível 
é que essa Jihad 2.0 sempre poderá ser usada para boicotar o movimento da China, 
de integrar o sudeste da Europa como nodo chave das Novas Rotas da Seda.

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