A ONU alerta sobre uma crise humanitária iminente no Afeganistão, porém os EUA congelaram quase todas as reservas de moeda estrangeira no valor de 9,4 mil milhões de dólares do banco central afegão, privando o novo governo dos Talibã de fundos necessários para alimentos e serviços básicos. O FMI decidiu também não entregar 450 milhões de fundos para ajudar o Afeganistão a lidar com o coronavírus. Os EUA e outros países ocidentais também suspenderam a ajuda humanitária ao Afeganistão.
Boris Johnson disse que negar ajuda lhes dará “uma considerável influência económica, diplomática e política” sobre os Talibã. Os políticos ocidentais falam em direitos humanos, mas estão tentando garantir vantagens e influência no Afeganistão. Vantagens pagas com vidas afegãs.
Lendo ou ouvindo analistas ocidentais, poderia pensar-se que a guerra de 20 anos dos Estados Unidos e seus aliados no Afeganistão foi um esforço benigno e benéfico para modernizar o país, libertar as mulheres afegãs e fornecer cuidados de saúde, educação e bons empregos e que tudo isso agora foi varrido pelos Talibã. A realidade é bem diferente.
Os Estados Unidos gastaram 2,26 milhões de milhões de dólares na sua guerra no Afeganistão. Esse dinheiro deveria ter tirado a maioria das pessoas da pobreza. Mas a grande maioria desses fundos, cerca de 1,5 milhões de milhões, foi para gastos militares absurdos, manter a ocupação militar, lançar dezenas de milhares de bombas e mísseis, pagar empresas privadas e transportar tropas, armas e equipamentos militares durante 20 anos.
O dinheiro emprestado para esta guerra custou 500 mil milhões de dólares em juros, que continuarão por muito tempo no futuro. Os custos médicos e de incapacidade para os soldados americanos feridos no Afeganistão e no Iraque já somam mais de 350 mil milhões de dólares e aumentarão à medida que os soldados envelhecerem. Os custos médicos e de invalidez para ambas as guerras podem chegar a milhões de milhões de dólares nos próximos 40 anos.
O Congresso destinou 144 mil milhões de dólares para a reconstrução do Afeganistão desde 2001, mas 88 mil milhões foram gastos para recrutar, armar, treinar e pagar as “forças de segurança” afegãs que se desintegraram, com soldados voltando às suas aldeias ou ingressando nos Talibã. Outros 15,5 mil milhões gastos entre 2008 e 2017 foram documentados como “desperdício, fraude e abuso” pelo Inspetor Geral dos EUA para a Reconstrução do Afeganistão.
As migalhas que sobraram, menos de 2% do gasto total dos EUA com o Afeganistão, deveriam ter proporcionado algum benefício ao povo afegão em desenvolvimento económico, saúde, educação, infraestruturas e ajuda humanitária. Mas, como no Iraque, o governo que os EUA instalaram no Afeganistão era notoriamente corrupto, e sua corrupção só se tornou mais intensa e sistémica com o tempo. A Transparency International (TI) classificou o Afeganistão como um dos países mais corruptos do mundo.
O New York Times noticiou em 2013 que todos os meses, durante uma década, a CIA deixava malas e sacos cheios de dólares para o presidente afegão subornar senhores da guerra e políticos. A corrupção também minou áreas que os políticos ocidentais agora consideram o sucesso da ocupação, como educação e saúde. O sistema educacional está repleto de escolas, professores e alunos que existem apenas no papel. As farmácias afegãs são abastecidas com medicamentos falsos, fora do prazo ou de baixa qualidade, muitos deles contrabandeados do Paquistão. No nível pessoal, a corrupção foi alimentada por funcionários públicos como professores que ganhavam apenas um décimo dos salários de afegãos que trabalhavam para ONGs estrangeiras e empreiteiros.
A violência sem fim da ocupação liderada pelos EUA e a corrupção do governo afegão aumentaram o apoio popular aos Talibã, especialmente nas áreas rurais onde vivem três quartos dos afegãos. A pobreza do Afeganistão também contribuiu para a vitória dos Talibã, já que as pessoas questionavam como a ocupação pelos EUA e seus aliados ocidentais ricos poderiam deixá-los em tal pobreza abjeta. O número de afegãos que lutavam para viver com o seu rendimento aumentou de 60% em 2008 para 90% em 2018.
Uma pesquisa Gallup de 2018 encontrou os níveis mais baixos de "bem-estar" auto relatados detetados em qualquer outra parte do mundo. Os afegãos relataram níveis recordes de miséria, mas também uma desesperança sem precedentes sobre seu futuro.
Apesar de alguns ganhos na educação de meninas, apenas um terço das meninas afegãs frequentava a escola primária em 2019 e apenas 37% das adolescentes afegãs eram alfabetizadas. Um dos motivos pelos quais tão poucas crianças iam à escola é que mais de 2 milhões de crianças entre 6 e 14 anos tinham de trabalhar para sustentar suas famílias pobres.
Texto completo em: http://www.informationclearinghouse.info/56750.htm
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