Linha de separação


31 de agosto de 2022

Efeméride: Gorbatchov e o fim da URSS num texto de D. Rogozin - 1

 Escrito em 2013 o livro “The hawks of peace”, de Dimitri Rogozin foi objeto de uma resenha, em

https://resistir.info/v_carvalho/rogozin_resenha_1.html https://resistir.info/v_carvalho/rogozin_resenha_2.html

Rogozin, convidado em 1986, com 22 anos, a ingressar no PCUS, a chamada Perestroika desiludia-o: “a atmosfera geral de mentiras à minha volta desencorajaram-me de prosseguir e decidi deixar o Konsomol, (48) Torna-se membro de várias organizações e partidos “não-Comunistas”, até ser chamado pelo Presidente Putin para desempenhar várias funções diplomáticas e também embaixador junto da NATO. Recentemente foi diretor do Rosscosmos, de 2018 a julho deste ano.

Eis alguns trechos do seu livro que recordamos acerca de Gorbachov e do fim da URSS. (Entre parêntesis os números da páginas a que se referem os textos)

Gorbachov é popular no Ocidente pelas mesmas razões que é criticado ou mesmo odiado por muitos no seu país. (21) Tivéssemos outro líder que não Gorbachov e teria detetado os sintomas de gangrena que afetavam os círculos internos do Partido. Yeltsin pelo contrário era de um tipo completamente diferente. Este obstinado e carismático déspota sabia o que estava a fazer. Ele traiu e vendeu a Rússia. (26)

DR atribui à fraqueza de Gorbatchov, digamos à sua falta de carácter. Não foi por acaso que assumiu profissões de fé Leninistas para depois confessar no Ocidente que tinha sido a forma de impor a “mudança”, isto é, destruir o socialismo e a URSS.

A URSS tinha especialistas, cientistas, académicos de primeira classe. Tudo o que havia a fazer era ser recetivo a essas pessoas no sentido de modernizar a economia e a ciência militar. Quando Gorbachov foi levado ao poder em 1985 nós tínhamos todas as ferramentas necessárias para transformar e consolidar essas forças se tivesse querido livrar-se dos ladrões e traidores que constituíam o governo. (22)

Muitas vezes me perguntei porquê a URSS se tinha tornado uma super potência sob Estaline e por que tinha começado a perder posição após a sua morte. (...) Muito simples, sob Estaline a ninguém da nomenclatura era permitido roubar o Estado. Este é talvez o maior mérito da sua era e a principal razão da sua imorredoura popularidade atualmente.(55)

A ideologia marxista conduziu milhares de pessoas na fé do “brilhante futuro do Comunismo”, levou a nação a grandes projetos como o Plano Goelro, industrialização, rápida reconstrução após as destruições da agressão nazi, ganhou o estatuto de potência nuclear, pesquisa espacial, campanha das terras virgens, o caminho de ferro Baikal-Amur. A minha geração está infinitamente grata aos nossos pais e avós por defenderem a liberdade e a soberania do país e levá-lo ao estatuto de potência mundial. (117) Na URSS as pessoas tinham confiança no futuro, podiam encarar expectativas para si e para o seu país. Tudo isto foi ridicularizado em grande escala por jornalistas e cómicos na TV durante a Perestroika (196)

O meu país podia ter sido poupado ao trágico destino que sofreu. Não foram causas materiais nem fatores económicos a principal causa do declínio e morte da superpotência. A URSS não morreu por lojas vazias ou patetices como agentes 007, nem pelas questões sem sentido de dissidentes desejosos de se tornarem famosos no Ocidente, nem mesmo pelos tons dececionantes da propaganda soviética. Mesmo a despeito de todos os problemas nas estruturas defensivas, as Forças Armadas eram perfeitamente capazes de responder a qualquer agressor externo que quisesse atingir a soberania do Estado soviético. (20)

Medidas decisivas introduzidas por um forte líder nacional teriam sido apoiadas pelos povos da URSS, que desejavam preservar as boas realizações da estrutura Soviética. No referendo realizado em março de 1991, apesar da formula rebuscada arranjada por Gorbachov, a grande maioria da população votou a favor da manutenção da URSS. (25)

A URSS foi perdida por vigaristas políticos e demagogos. A nação foi traída pelos líderes que erigiram o Comunismo como partido privado, desprezando o povo. Muitos destes governantes conduziram movimentos separatistas e participaram nas calamidades do final dos anos a 80 e início dos anos 90, levando à desintegração do Estado. (20)

Os hipócritas pais da Perestroika implantaram um tom de “conversa fiada” e sentimental na relações internacionais, seduzidos por habilidosos psicologistas do Ocidente que inventaram histórias como “o novo pensamento” e “valores humanos universais” para quebrar as fracas e demagógicas defesas dos políticos soviéticos. (40)

Não se consegue entender como foi possível os líderes soviéticos sancionarem a reunificação da Alemanha sem receberem significativos dividendos políticos e materiais (excluindo os pessoais) mas pelo contrário tornando o país endividado ao Ocidente. Como foi possível acreditar nas palavras dos Americanos que fizeram promessas a Gorbachov que a Alemanha reunificada nunca se juntaria à NATO e esta não se expandiria para Leste. Em qualquer outro país falsos negociadores como estes teriam sido linchados, mas na Rússia de então ladrões e traidores esperavam não apenas perdão mas glória e respeito. (44)

Nos Estados Bálticos neonazis e veteranos das Waffen SS marchavam pelas ruas, Gorbachov desviava o olhar perdendo o controlo do governo e do país. Na Geórgia e na Arménia armamento era retirado dos depósitos e distribuído aos esquadrões de rebeldes separatistas com a conivência das entidades partidárias e do governo. (53)

(continua)

30 de agosto de 2022

Roger Waters um dos fundadores dos Pink Floyd na lista negra ucraniana

 O site Myrotvorets, a lista negra neonazi, acusa o músico Roger Waters, membro fundador da banda de rock Pink Floyd, de ofensas "anti-ucranianas". Esses supostos crimes incluem a disseminação da "propaganda anti-ucraniana", colaborando nos esforços para legitimar a anexação da Crimeia pela Rússia e desafiando a integridade territorial da Ucrânia.

O site exibe partes de declarações de RW em 2018, informações gerais sobre Waters e comentários sobre a guerra na Ucrânia que o músico fez em entrevistas recentes. Por exemplo, ele menciona o apoio dos EUA ao golpe de 2014 na Ucrânia, e a campanha de Russofobia. O Myrotvorets pede às "agências de aplicação da lei" que intervenham contra Waters pelos seus "atos deliberados contra a segurança nacional da Ucrânia, contra a paz, a segurança humana e a lei e a ordem internacionais, bem como outras ofensas".

O Myrotvorets teria sido criado em 2014 por Anton Gerashchenko, então assistente do ministro do Interior da Ucrânia. Lista informações pessoais, como endereços e números de telefone de alguns dos chamados "inimigos da Ucrânia" que nomeia. O local tornou-se infame quando várias pessoas que tinha como alvo foram assassinadas. Entre eles estão o escritor ucraniano Oles Buzina, o ex-legislador ucraniano Oleg Kalashnikov e o fotojornalista italiano Andrea Rocchelli.

Entre os milhares de nomes listados pelos Myrotvorets estão jornalistas, empresários e políticos, ucranianos e estrangeiros. Além de Waters, figuram Viktor Orban; Gerhard Schroeder; Henry Kissinger; Bashar Assad. O caráter completamente infame e reacionário de Myrotvorets é atestado pela sua enumeração dos nomes de mais de 300 crianças.

Waters há muito se pronuncia contra o nacionalismo e a guerra em sua música e em entrevistas. Entre os temas do lendário álbum the Wall (1979), do Pink Floyd, do qual Waters foi o principal autor, está a ameaça do fascismo.

Sobre o status da Crimeia, Myrotvorets cita Waters da seguinte forma: "Eu sei que Sevastopol é muito importante para a Rússia e os russos. Existem muitos contratos e documentos segundo os quais a Rússia tem todos os direitos desta cidade." Ele ressaltou que a expansão da NATO para leste, que violou garantias diplomáticas dadas à Rússia, e contribuiu para a guerra.

Waters também provocou raiva ao apontar a hipocrisia da insistência do presidente Joe Biden em respeitar o direito internacional. Myrotvorets cita Waters que observou que os próprios EUA rompem livremente acordos internacionais quando entram em conflito com seus interesses imperialistas. Waters também disse que os políticos ocidentais estão usando a campanha de Russofobia e a demonização de Putin para suprimir a oposição interna.

Waters embora diga não admirar Putin nem apoiar a invasão, acrescentou para uma jovem ucraniana que lhe escreveu, que "os governos ocidentais estão ateando o fogo que destruirá o seu belo país despejando armas na Ucrânia, em vez de se envolverem na diplomacia que será necessária para parar o massacre", referindo-se também aos batalhões Azov, à Milícia Nacional e ao C14 como "grupos neonazistas autoproclamados".

Praticamente todas as canções têm como alvo problemas urgentes do nosso tempo: guerra imperialista, fascismo, veneno do nacionalismo, a situação dos refugiados, as vítimas da opressão estatal, a pobreza global, a desigualdade social, o ataque aos direitos democráticos e o perigo da aniquilação nuclear." (1)

Este texto, confirma o que é revelado pela jornalista Esha Krishnaswamy ou também aqui e aqui e aqui

Tudo isto é escamoteado nos media, tal como o relatório da ocidentalizada Amnistia Internacional. É espantoso, que das numerosas entrevistas a ucranianos que são emitidas pelos centros globais de (des)informação, normalmente mulheres a chorar, nunca se ouviu alguém a desejar a paz ou o fim da guerra. Podem as entrevistas ser manipuladas (censuradas) ou pode o receio que essas pessoas têm de represálias por serem “antipatrióticas” e "pro-russas". Como mostra o que é revelado nos sites acima.

Tudo isto pelo que diz e pelo que esconde, mostra o estilo mediático vigente na “comunidade internacional". Quanto ao Myrotvorets mostra os métodos e princípios nazis que vigoram na Ucrânia sob o controlo de Kiev/NATO. Lembremos que na Alemanha nazi, os SS, já com o Exército Vermelho à entrar em Berlim, quem fosse apanhado a dizer que a Alemanha ia perder a guerra era enforcado. As vítimas ficavam penduradas com um dístico a dizer “Ich bin ein Feigling” (eu sou um cobarde).

1 - https://www.legrandsoir.info/roger-waters-sur-une-liste-de-gens-a-abattre-de-l-extreme-droite-ukrainienne.html Erik Schreiber

29 de agosto de 2022

A quem pertencem os cereais da Ucrânia

Enquanto se vertiam lágrimas de crocodilo pela fome em África – algo que só esporadicamente interessava a propósito de estatísticas da FAO - mais uma vez estavam em causa interesses das transnacionais do agronegócio e OGM, a quem pertencem parte das terras agrícolas da Ucrânia.

Antes do golpe de fevereiro de 2014, em dezembro de 2013, o presidente Viktor Yanukovych anunciou, após meses de debate, que a Ucrânia se juntaria à União Económica Euroasiática russa com a promessa de uma compra de 15 mil milhões de dólares pela Rússia da dívida pública da Ucrânia e uma redução de 33% no custo do gás russo.

A oferta do “ocidente” consistia numa "adesão" à UE, vinculada à aceitação pela Ucrânia de um pacote de empréstimos do FMI e do BM, impondo a privatização de terras agrícolas, culturas OGM, cortes nas , austeridade social, aumento de impostos e do gás natural, mais 10 anos para atingir a reforma, etc., em troca de um empréstimo de 17 mil milhões de dólares do FMI e "investimento estrangeiro".

Após o golpe, o primeiro-ministro Arseniy Yatsenyuk, escolhido pelos EUA e líder dos protestos do MAIDAN, abriu as ricas terras agrícolas da Ucrânia às transnacionais do agronegócio, especialmente dos OGM. Três dos membros do gabinete de Yatsenyuk, incluindo ministros das Finanças e da Economia, eram estrangeiros, escolhidos sob a direção de Victoria Nuland e do vice-presidente Joe Biden.

Quando a Ucrânia deixou a União Soviética em 1991, sete milhões de agricultores ucranianos possuíam pequenas parcelas que totalizam cerca de 32 milhões de hectares; 4 milhões pertenciam ao Estado. O cultivo de OGM era ilegal.

Apesar disto, Monsato, DuPont, Cargill e outros fornecedores de OGM começaram a espalhar secreta e ilegalmente sementes patenteadas de OGM nas terras negras da Ucrânia. Pequenos proprietários de terras alugaram suas terras para grandes oligarcas ucranianos que, fizeram acordos secretos com a Monsanto e outros para plantar milho e soja transgénicos. No final de 2016, de acordo com um relatório do extinto Departamento de Agricultura dos EUA, cerca de 80% da soja ucraniana e 10% do milho foram cultivados, ilegalmente, a partir de sementes geneticamente modificadas.

Um dos primeiros atos de Zelensky em 2019 foi tentar alterar as leis da terra. Os protestos dos agricultores e cidadãos em 2020 bloquearam estas intenções. Em 2021, aproveitando a proibição das manifestações públicas, Zelensky assinou a Lei nº 2194, desregulamentando as terras, como "chave" para o "mercado agrícola de terras", permitindo que empresas estrangeiras como a Monsanto (hoje parte da Bayer AG) ou a DuPont (agora Corteva), e outras empresas comprassem as terras.

O sem vergonha Zelensky renegou assim a sua promessa de campanha de realizar um referendo nacional sobre qualquer mudança na propriedade da terra.

Bayer/Monsanto, Corteva e Cargill já controlam, segundo estimativas, 16,7 milhões de hectares de terras agrícolas nobres na Ucrânia. Agora, apenas a Rússia, que baniu as culturas OGM em 2016, permanece como o único grande fornecedor mundial de cereais não transgénicos. A UE trabalha numa lei que abriria as comportas para a aquisição de OGM.

Com a criação pelo BM de um mercado agrícola, como forma de os agricultores terem acesso a financiamento dando como garantia as terras, o esquema foi usado para serem vendidas/entregues aos credores para pagamento de dívidas.

A questão da propriedade das terras é fundamental porque torna possível acompanhar o fracasso da democracia na Ucrânia independente. Empresas estrangeiras, principalmente dos EUA, possuem agora possuem 17 milhões em 42 milhões de hectares de terras agrícolas, adquiridas em menos de um ano. Quando falamos de trigo ucraniano, é caso para se perguntar se o termo é apropriado.

De acordo com pesquisas de opinião, 64% dos ucranianos são contra a venda de terras para estrangeiros, pedindo o referendo prometido pelo presidente.

A Rede Ucraniana de Desenvolvimento Rural denuncia o facto de que "a maioria das terras privatizadas é alugada por grandes empresas comerciais... a terra não estará mais disponível para venda em benefício de agricultores independentes."

Foi assim que investidores dos EUA se tornaram, disfarçados, proprietários de terras agrícolas na Ucrânia.

28 de agosto de 2022

Biden não se referiu a zelensky nem uma vez

 https://www.indianpunchline.com/ground-beneath-zelenskys-feet-is-shifting/

O chão sob os pés de Zelensky está mudando

Lendo e relendo a declaração do presidente dos EUA, Joe Biden, na última segunda-feira, no Dia da Independência da Ucrânia, lembramos a frase imortal do poeta inglês John Keats: "Melodias ouvidas são doces, mas as não ouvidas são mais doces". Três coisas são impressionantes.   

Biden invocou repetidamente a natureza permanente do relacionamento dos EUA com o povo ucraniano. Mas em toda a declaração, ele nunca mencionou o governo ucraniano ou a liderança do presidente Volodymyr Zelensky. Uma omissão descuidada?   

Em segundo lugar, Biden minimizou a ponto de ignorar a intensa parceria EUA-Ucrânia em nível de estado para estado. O regime em Kiev é impensável sem o apoio robusto dos EUA. Terceiro, mais importante, Biden ficou em silêncio sobre a guerra como tal, que está em um estágio decisivo no momento.

Recentemente, em 18 de agosto, vinte proeminentes profissionais de segurança nacional americanos instaram o governo Biden a “produzir uma narrativa estratégica satisfatória que permita aos governos manter o apoio público ao engajamento da OTAN a longo prazo … (e) mover-se mais rápida e estrategicamente, em atender aos pedidos ucranianos de sistemas de armas.”  

Mas Biden evitou tudo isso. Mesmo quando falou sobre a última parcela de armas para a Ucrânia no valor de US$ 2,98 bilhões, Biden expressou a esperança de que os sistemas de armas possam garantir que a Ucrânia “possa continuar se defendendo a longo prazo ”. (Enfase adicionada.)  

Analistas americanos estimam que o pacote de armas de US$ 2,98 bilhões é radicalmente diferente em seu mecanismo de distribuição. Assim, enquanto a ajuda militar até agora era extraída de estoques pré-existentes de armamento e equipamento dos EUA, desta vez, o pacote de ajuda será comprado ou encomendado de empreiteiros de defesa. 

John Kirby, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, admitiu a repórteres que parte da ajuda no último pacote poderia ser distribuída mais lentamente do que outras partes do pacote, dependendo dos estoques atuais dos contratados de defesa. Ele disse vagamente: “Vai depender, francamente, do item sobre o qual estamos falando. Algumas coisas provavelmente ainda precisarão de algum tempo de produção para serem desenvolvidas.” 

Com efeito, o complexo militar-industrial pode ter mais a comemorar no anúncio de Biden do que Zelensky. O governo Biden está se afastando de esgotar os estoques atuais dos EUA, como os aliados europeus também estão fazendo. 

De acordo com Mark Cancian , Consultor Sênior do Programa de Segurança Internacional do CSIS, o último pacote de US$ 2,98 bilhões de Biden “sustentará os militares ucranianos a longo prazo, mas levará meses ou até anos para ser totalmente implementado… militar a longo prazo, provavelmente no pós-guerra, em vez de aumentar suas capacidades no curto ou médio prazo... 

“Isso significa que a capacidade dos EUA de fornecer equipamentos rapidamente pode estar diminuindo… O governo pode precisar pedir mais dinheiro ao Congresso em breve. Embora o consenso bipartidário para apoiar a Ucrânia permaneça forte, pode haver uma briga com a esquerda progressista e a direita isolacionista sobre a sabedoria de enviar dinheiro para o exterior quando houver necessidades urgentes em casa.” 

Esses são quase os mesmos dilemas que os aliados europeus dos EUA estão enfrentando. O prestigiado think tank alemão Kiel Institute for the World Economy informou na semana passada : “O fluxo de novos apoios internacionais para a Ucrânia secou em julho. Nenhum grande país da UE, como Alemanha, França ou Itália, fez novas promessas significativas”.  

Ele disse que a comissão da UE está pressionando por pacotes de ajuda maiores e mais regulares para a Ucrânia, mas o entusiasmo está faltando no nível dos países membros – “Os principais países da UE, como França, Espanha ou Itália, até agora forneceram muito pouco apoio ou permanecem muito opaco sobre sua ajuda.” 

A diminuição do apoio doméstico é o principal fator. Mesmo na Polônia, há “fadiga dos refugiados”. A inflação é a grande preocupação da opinião pública. A revista alemã Spiegel informou que o chanceler Olaf Scholz está enfrentando divergências dentro de suas próprias fileiras partidárias daqueles que querem que Berlim pare de fornecer armas a Kiev e, em vez disso, querem que o chanceler se envolva em diálogo com a Rússia.  

Na quinta-feira, o chanceler Scholz fez uma observação significativa em um evento público em Magdeburg que Berlim não fornecerá a Kiev armas que possam ser usadas para atacar a Rússia. Scholz explicou que o objetivo de Berlim ao enviar armas é “apoiar a Ucrânia” e “evitar uma escalada da guerra para algo que seria muito diferente”. Ele disse que estava ecoando o pensamento de Biden.   

De fato, se por um lado os Estados Unidos continuam a exercer pressão militar sobre a Rússia, esperando quebrar a resistência de seu adversário estratégico de longo prazo, por outro lado, nos últimos dois meses, Washington tem repetidamente sinalizado que é não buscando a vitória, mas uma solução final para o problema da Ucrânia por meio de negociações pacíficas.

Como na Alemanha, há uma enorme pressão anti-guerra nos EUA também, especialmente entre o Partido Democrata e a elite acadêmica, bem como funcionários aposentados de alto escalão e executivos de negócios, pedindo ao governo que pare de aquecer a situação em torno da Ucrânia.  se os democratas perderem as eleições de meio de mandato, ou se os republicanos chegarem ao poder em 2024, a guerra poderá tomar um rumo fundamentalmente diferente. Com o tempo, é muito provável que mudanças semelhantes ocorram também na Europa.

O declínio constante na intensidade do impacto das sanções europeias e americanas contra a Rússia já fala por si. The Economist, que é um crítico virulento do Kremlin, admitiu esta semana que o esperado golpe de nocaute das restrições anti-Rússia “não se materializou”.  A revista escreveu: “As vendas de energia gerarão um superávit em conta corrente de US$ 265 bilhões este ano (para a Rússia), o segundo maior do mundo depois da China. Após uma crise, o sistema financeiro da Rússia se estabilizou e o país está encontrando novos fornecedores para algumas importações, incluindo a China.”

Em uma nota sombria, The Economist escreveu:  “O momento unipolar da década de 1990, quando a supremacia dos Estados Unidos era incontestável, já se foi, e o apetite do Ocidente por usar a força militar diminuiu desde as guerras no Iraque e no Afeganistão”. 

Mais uma vez, internacionalmente, o apoio à Ucrânia fora do bloco ocidental caiu drasticamente nos últimos meses. A proposta de Kiev de condenar a Rússia na quarta-feira atraiu o apoio de apenas 58 dos 193 estados membros da ONU, enquanto, na sessão de 2 de março, 141 países membros votaram por uma resolução não vinculativa para condenar Moscou.

Da mesma forma, o revestimento de teflon de Zelensky está descascando. Seu vício em drogas está à vista do público. O regime está instável, como mostra a onda de expurgos no sistema de segurança ucraniano. De acordo com o presidente turco Recep Erdogan, que se encontrou com Zelensky em Lvov recentemente, este último parecia inseguro e inseguro se ele está sendo totalmente informado sobre a situação do terreno. 

O comportamento errático de Zelensky também não o cativa. O Papa Francisco é a última figura a ser castigada por Kiev – porque o pontífice observou que Darya Dugina era “inocente”. O embaixador do Vaticano foi convocado ao Ministério das Relações Exteriores para receber o protesto de Kiev. 

O jornal alemão Handelsblatt escreveu hoje que a “coesão interna” do governo ucraniano “está em perigo. Há sérias acusações contra o presidente… Em casa, o presidente ucraniano, que é celebrado no exterior como um herói de guerra, está sob pressão… O comediante se tornou um senhor da guerra… O homem de 44 anos até agora conseguiu mudar e agir livremente com sua equipe, que é parcialmente composta por colegas de sua produtora de televisão. Mas o período de carência agora parece ter expirado.” O diário previa uma agitação política que se aproximava no inverno.  

Biden distanciou-se cuidadosamente do regime de Kiev e concentrou-se nas relações interpessoais. Mesmo que os americanos conheçam os corredores bizantinos do poder em Kiev, eles não podem se dar ao luxo de ser explícitos como o ex-presidente russo Dmitry Medvedev, que previu na semana passada que os militares ucranianos podem dar um golpe e entrar em negociações de paz com a Rússia.   


Austeridade

Leituras das redes sociais e não só

 1 " A fábrica da aceitação .

Está em marcha a nova campanha para que os trabalhadores e os povos aceitem uma nova época de aperto sucessivo do cinto.
 Na Europa os dirigentes seguem a mesma pauta.
" Nós  sabemos que há  cansaço da guerra mas nenhum cansaço se pode traduzir em quebra de solidariedade "
Ao mesmo tempo que enviam mais  lenha para a fogueira  , mais armas , mais sanções procuram aplainar o terreno para uma nova vaga de austeridade para os mesmos de sempre.
Macron chega a dizer que acabou o tempo da abundância e da imprudência e que o que está  em causa sao " os nossos valores"..
As famílias dos emigrantes que só  este ano perderam a vida no mediterrâneo que o digam...
Por cá o de S. Bento vai nos vendendo a ilusão do gás  a entrar em Sines e a servir toda a Europa juntamente com o hidrogénio e o das selfies de Belém não descansa enquanto não  passar no palco mediático com o Zelensky dos Pandora papéis. Mas tem que se apressar pois não está  garantido que este continue como presidente durante muito tempo ! " C. V.

2. Fim da era da abundancia ( De quem) ?

O presidente francês, Emmanuel Macron, decretou o “fim da abundância” ( veja aqui ). E logo despertou um debate tão interessante e oportuno quanto carregado do veneno das armadilhas da linguagem. O que queremos dizer com "abundância"? Quem deve abrir mão da “ liquidez livre ”? Quem deveria dizer adeus a "produtos e tecnologias que pareciam permanentemente disponíveis para nós"? "Não vamos ceder à demagogia", concluiu Macron, e neste último só podemos dar-lhe toda a razão. O problema, creio, é a base prévia de sua reflexão, um exercício de ignorância premeditada, cinismo ou – exatamente – pura demagogia.

Me explico (o al menos lo intento). 

Ler aqui https://www.infolibre.es/opinion/columnas/buzon-de-voz/abundancia_129_1305359.html




26 de agosto de 2022

É a economia, idiota!

 Ouvir comentadores e noticiários seria divertido se estivéssemos noutro planeta. Aqui é quase masoquismo, um banho de idiotice sem sentido que deve tomado rapidamente para não fazer mal à saúde mental. O mais que pode esperar é de quem dá uma no cravo, duas na ferradura, para não ser objeto da censura da “liberdade de informação”.

No campo do anedótico recordo aquela senhora que muito excitada afirmava: “a Rússia é capitalismo de Estado, a China é capitalismo de Estado, a União Soviética era capitalismo de Estado!”. Ó minha senhora, ninguém lhe disse que “capitalismo (monopolista) de Estado” é o que os seus confrades dizem ser “os anos de ouro” do capitalismo”!

Outra senhora, com ar dramático, mas assertivo, dizia que a Rússia não pode vencer, seria a derrota do mundo livre, perdermos a nossa liberdade, é preciso fazer sacrifícios (para vencer), etc. A pergunta (que Marx recomendava) é: “quem” ou “para quem”.

Sacrifícios? Os oligarcas do grande capital e grande distribuição, nem sequer admitem um imposto transitório (!) sobre os lucros excessivos extraordinários. Como se para o grande capital, houvesse alguma vez “lucros excessivos”… Será um oximoro ou um pleonasmo?

A primeira questão é: como pensam políticos, comentadores, etc., vencer a Rússia. Teriam que o dizer, porque o que têm feito até agora só nos tem prejudicado. Será que “desnazificar e desmilitarizar a Ucrânia” significa que os “russos” vão assentar arraiais junto ao Tejo? Terá a Rússia recusado algum Tratado de segurança mútua proposto pela pela NATO? Ou foi o contrário no final de 2021?

Quanto ao mundo livre (o “ocidente”) a ser defendido na Ucrânia, temos bons exemplos como foi defendido na Líbia, Afeganistão, Iraque, ex-Jugoslávia, em África (o continente da fome e das transnacionais) América Latina (das prisões políticas, tortura e “desaparecimentos”), na Indonésia, etc.

Para além da verborreia a roçar a idiotice – ou pior - há uma lei económica, que não vem nos livros de economia neoliberal: “o poder do frigorífico é diretamente proporcional ao poder da televisão”. Ou seja, frigorífico vazio, propaganda da TV a tender para zero.

O BCE, afunda-se nas areias movediças do seu neoliberalismo, não controla a inflação que caminha para os 10% - em junho na zona euro, 8,9%. Os juros sobem levando à retração da economia, o que resta da classe média é destruído, os países mergulham na estagflação.

Mas os salários não podem aumentar porque isso causa inflação – assim disseram, assim fazem! Contudo não falta dinheiro nem armas para o protetorado da NATO chamado Ucrânia. Um ministro foi de Lisboa a Kiev entregar 250 milhões de euros… que não causam inflação.

Na UE/NATO “já se catapultaram para a estratosfera da irracionalidade: a desnazificação e a desmilitarização de facto do exército imperial terceirizado na Ucrânia está levando os manipuladores do Império e seus vassalos literalmente à loucura” (Pepe Escobar).

Graças às sanções que iriam derrotar a Rússia em semanas e colocar no Kremlin outro Yeltsin (Navalny, por exemplo!) acabou a energia barata na UE, fundamental para o seu desempenho económico. Um gasoduto na UE está parado, outro funciona a uns 40% da capacidade, o preço do gás por 1000 m3 aumentou 30% num mês, atingindo 3 300 dólares. Todas as soluções alternativas repetidamente anunciadas terão custos astronómicos e prazos de realização de que não se fala, nem se sabe de qualquer plano estruturado as realizar. As consequências para o nível de vida, indústrias, competitividade na UE/NATO são dramáticas. Porém, não deixam de clamar: “Delenda est Moscovo”.

Graças às sanções a economia russa porta-se bem. Segundo a Reuters, citando documentos do Ministério da Economia alemão, as receitas orçamentais russas com exportações de energia crescerão 38% em 2022. Por outro lado, a substituição de importações foi menos difícil do que o esperado graças ao apoio da China, Índia, países da América do Sul, Ásia, África; muitos produtos ocidentais foram substituídos sem problemas e o rublo é a moeda com melhor desempenho em 2022.

A situação nos EUA não é tão quanto na UE, mas a recessão na UE terá obviamente consequências negativas para os EUA, que têm de sustentar o que resta da Ucrânia, o seu exército, fornecer armas, pagar a mercenários, inteligência, etc. Os EUA desde janeiro 2021 entregaram à Ucrânia só em armas 13,5 mil milhões de dólares, agora mais um pacote de 2,8 mil milhões. Que raio fazem os ucranianos às armas que lhes dão?!

Entretanto o endividamento dos EUA cresce sem cessar, para o Estado, cidadãos e empresas. Mas à finança apenas lhe interessa receber juros. O FED lá está para lhes fornecer “quantitative easing”...