Ouvir comentadores e noticiários seria divertido se estivéssemos noutro planeta. Aqui é quase masoquismo, um banho de idiotice sem sentido que deve tomado rapidamente para não fazer mal à saúde mental. O mais que pode esperar é de quem dá uma no cravo, duas na ferradura, para não ser objeto da censura da “liberdade de informação”.
No campo do anedótico recordo aquela senhora que muito excitada afirmava: “a Rússia é capitalismo de Estado, a China é capitalismo de Estado, a União Soviética era capitalismo de Estado!”. Ó minha senhora, ninguém lhe disse que “capitalismo (monopolista) de Estado” é o que os seus confrades dizem ser “os anos de ouro” do capitalismo”!
Outra senhora, com ar dramático, mas assertivo, dizia que a Rússia não pode vencer, seria a derrota do mundo livre, perdermos a nossa liberdade, é preciso fazer sacrifícios (para vencer), etc. A pergunta (que Marx recomendava) é: “quem” ou “para quem”.
Sacrifícios? Os oligarcas do grande capital e grande distribuição, nem sequer admitem um imposto transitório (!) sobre os lucros excessivos extraordinários. Como se para o grande capital, houvesse alguma vez “lucros excessivos”… Será um oximoro ou um pleonasmo?
A primeira questão é: como pensam políticos, comentadores, etc., vencer a Rússia. Teriam que o dizer, porque o que têm feito até agora só nos tem prejudicado. Será que “desnazificar e desmilitarizar a Ucrânia” significa que os “russos” vão assentar arraiais junto ao Tejo? Terá a Rússia recusado algum Tratado de segurança mútua proposto pela pela NATO? Ou foi o contrário no final de 2021?
Quanto ao mundo livre (o “ocidente”) a ser defendido na Ucrânia, temos bons exemplos como foi defendido na Líbia, Afeganistão, Iraque, ex-Jugoslávia, em África (o continente da fome e das transnacionais) América Latina (das prisões políticas, tortura e “desaparecimentos”), na Indonésia, etc.
Para além da verborreia a roçar a idiotice – ou pior - há uma lei económica, que não vem nos livros de economia neoliberal: “o poder do frigorífico é diretamente proporcional ao poder da televisão”. Ou seja, frigorífico vazio, propaganda da TV a tender para zero.
O BCE, afunda-se nas areias movediças do seu neoliberalismo, não controla a inflação que caminha para os 10% - em junho na zona euro, 8,9%. Os juros sobem levando à retração da economia, o que resta da classe média é destruído, os países mergulham na estagflação.
Mas os salários não podem aumentar porque isso causa inflação – assim disseram, assim fazem! Contudo não falta dinheiro nem armas para o protetorado da NATO chamado Ucrânia. Um ministro foi de Lisboa a Kiev entregar 250 milhões de euros… que não causam inflação.
Na UE/NATO “já se catapultaram para a estratosfera da irracionalidade: a desnazificação e a desmilitarização de facto do exército imperial terceirizado na Ucrânia está levando os manipuladores do Império e seus vassalos literalmente à loucura” (Pepe Escobar).
Graças às sanções que iriam derrotar a Rússia em semanas e colocar no Kremlin outro Yeltsin (Navalny, por exemplo!) acabou a energia barata na UE, fundamental para o seu desempenho económico. Um gasoduto na UE está parado, outro funciona a uns 40% da capacidade, o preço do gás por 1000 m3 aumentou 30% num mês, atingindo 3 300 dólares. Todas as soluções alternativas repetidamente anunciadas terão custos astronómicos e prazos de realização de que não se fala, nem se sabe de qualquer plano estruturado as realizar. As consequências para o nível de vida, indústrias, competitividade na UE/NATO são dramáticas. Porém, não deixam de clamar: “Delenda est Moscovo”.
Graças às sanções a economia russa porta-se bem. Segundo a Reuters, citando documentos do Ministério da Economia alemão, as receitas orçamentais russas com exportações de energia crescerão 38% em 2022. Por outro lado, a substituição de importações foi menos difícil do que o esperado graças ao apoio da China, Índia, países da América do Sul, Ásia, África; muitos produtos ocidentais foram substituídos sem problemas e o rublo é a moeda com melhor desempenho em 2022.
A situação nos EUA não é tão má quanto na UE, mas a recessão na UE terá obviamente consequências negativas para os EUA, que têm de sustentar o que resta da Ucrânia, o seu exército, fornecer armas, pagar a mercenários, inteligência, etc. Os EUA desde janeiro 2021 entregaram à Ucrânia só em armas 13,5 mil milhões de dólares, agora mais um pacote de 2,8 mil milhões. Que raio fazem os ucranianos às armas que lhes dão?!
Entretanto o endividamento dos EUA cresce sem cessar, para o Estado, cidadãos e empresas. Mas à finança apenas lhe interessa receber juros. O FED lá está para lhes fornecer “quantitative easing”...
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