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11 de setembro de 2025

Aditamento à questão do acidente do elevador da Glória.

 No texto anterior foram expressos um conjunto de requisitos que seriam obrigatórios em trabalhos e operação de sistemas ferroviários. A partir destes requisitos podem ser avaliadas várias questões sobre o desempenho dos intervenientes, desde os gestores aos executantes.

Ao falar-se de Normas Técnicas específicas e mais rigorosas para certos sectores, convém lembrar que decorreram de acidentes graves. Foi o caso de incêndios em túneis, grandes edifícios e metropolitanos que obrigaram ao estudo de soluções de desenfumagem de túneis, procedimentos de evacuação de passageiros, fabricação de cabos elétricos, resistentes ao fogo, não propagadores de chama, não emissores de fumos tóxicos (como ocorre com os isolados a PVC), etc.

Isto dá-se no final dos anos 1980, não só devido à crescente complexidade dos sistemas - não será o caso aqui - como ao abandono da engenharia tradicional que usava sobretudo o sobredimensionamento dos equipamentos e a substituição de materiais baseada na experiência, embora sem base científica explicita.

No caso considerado, colocam-se então questões como: 

- Os responsáveis pela operação do elevador tinham conhecimento das normas IRIS e ISO 9000? Se sim, onde está a evidência de terem sido aplicadas? Se não, por foram ignoradas?

- As empresas contratadas estavam certificadas de acordo com as normas para os trabalhos que realizavam? Que exigências eram expressas na adjudicação de subcontratos? Tanto quanto se veio a saber uma empresa subcontratada tinha uma morada fictícia. 

Aparentemente, nem exigências aplicadas a oficinas representantes de marcas de automóveis foram consideradas, em que procedimentos e planos de manutenção, substituição preventiva de peças, etc., registada a sua execução e assinados documentos por executantes e/ou responsáveis hierárquicos. Será que na CML e na gestão da Carris, se ignoravam os requisitos das Normas da Qualidade?

- Existia a Análise Modal de Falhas suas Causas e Efeitos? Parece claro que não, caso contrário teriam sido identificados pontos críticos quanto a segurança de pessoas e bens, tido em conta a fadiga dos materiais em termos de MTBF, e agido em conformidade para eliminar os riscos. Não repetimos aqui o que foi dito anteriormente, sobre avaliação de riscos, redundâncias de segurança, sistemas de segurança de emergência, etc. Esta análise por muito simplificada que fosse, obrigaria a rever o projeto construtivo dos elevadores.

- Não foi até agora - devia ter sido no relatório preliminar - evidenciado o Plano de Inspeções e Ensaios aplicável. No caso de empresas subcontratados esse Plano teria que ser emitido e aprovado pela Carris, devendo ser objeto de auditoria externa por empresa certificada para o efeito. Portanto fica-se na dúvida, sobre que PIE a gestão do operador e a CML consideravam aceitável, baseados em quê. Afinal de que constavam os cadernos de encargos, quanto a obrigações e evidências técnicas e de gestão da qualidade a apresentar pelos concorrentes e contratados?

- Estava o pessoal das empresas intervenientes, incluindo da Carris, credenciado para a execução das diferentes tarefas, assinar e aprovar os documentos com as evidências decorrentes da correta gestão da qualidade?

- A qualificação de fornecedores é um processo que pode ser complexo, podendo exigir-se demonstração de capacidade e qualificação. Que papel desempenhou quem tinha poder de decisão sobre este processo no estabelecimento de contratos? Ou seja, estava estabelecido e evidenciado um processo baseado nas Normas aplicáveis para a contração no exterior, de fornecimentos e manutenção?

A resposta às questões colocadas parece ser NÃO. Papagaios televisivos andam a meter os pés pelas mãos, uns à procura de culpados partidários outros a ilibá-los. Como exceção foram ouvidos alguns técnicos que prestaram esclarecimentos relevantes.

Uma certa noção de inovação competitiva, tendo em vista redução de custos e pessoal, pôs de parte saberes e experiência acumulados. Porém, o aumento de cargas e frequência de utilização, bem como sistemas mais complexos, maiores dimensões - embora não seja aqui o caso - levaram a tragédias.

O ultrapassar ou ignorar os requisitos das Normas, entregar lugares de gestão e decisão não pela competência e experiência no sector, mas por afinidades partidárias, só pode levar a desastres quanto a segurança e eficiência. Uma última pergunta persiste: na Carris, nenhum gestor, na CML o vereador do pelouro, conheciam os requisitos de operação de sistemas ferroviários? Se sim, o que fizeram em conformidade? Se não, como é possível ocuparem aqueles cargos?

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