Mas não um lucro qualquer, o lucro monopolista que a própria concorrência ajuda a consolidar. Liberalismo, neoliberalismo, democracia liberal (atrás da qual se esconde o liberalismo social-democrata), economia neoclássica, são basicamente nomes que na atualidade se referem ao sistema económico e social vigente no ocidente.
Na economia clássica o grande capital assumia o controlo da finança colocando-a ao serviço do seu poder industrial e serviços. Na neoclássica, grande capital coloca a indústria e serviços ao serviço da finança, que continua a controlar.
A propaganda liberal domina o pensamento económico do ocidente, a literatura e os grandes media, sem sofrer contestação, apesar dos seus dogmas e postulados sobre a "concorrência perfeita" (com monopólios e oligopólios!) e o equilíbrio competitivo estarem na teoria e na prática mais que demonstrado estarem errados, ilusões baseadas em falácias.
A primeira é o crescimento. Mas as economias liberais foram muito menos bem-sucedidas do que as economias administradas coletivamente como a história e a atualidade comprovam. Se o crescimento fosse uma prioridade então a indústria, infraestruturas, sistema educacional, saúde, não podiam estar subordinadas ao lucro privado, mas sim às opções coletivamente assumidas, como as consagradas na Constituição. Com o neoliberalismo o crescimento produtivo - o que satisfaz as reais necessidades das pessoas - praticamente desapareceu substituído pela especulação financeira e imobiliária, satisfazendo a ordem financeira.
A eficiência liberal, limita-se ao dinheiro ser adorado como um deus, tendo o mundo que funcionar segundo os interesses duma oligarquia em que os 20 mais ricos detêm mais de 3 milhões de milhões de dólares (!!) em que 1% da população detém cerca de 50% da riqueza mundial e 50% mais pobre 1% dessa riqueza.
Como o sentido do progresso ficou subordinado ao lucro privado, caso contrário, dizem, não é eficiente, isto é, não gera lucro privado, seja educação, estrutura produtiva, saúde, tudo deve ser privatizado. Ora o progresso é uma expressão coletiva, que exige planeamento macroeconómico, investimento no futuro, educação e ética social.
Assim, para além da propaganda populista dos seus dogmas, o liberalismo atual - neoliberalismo - não consegue nem crescimento nem progresso. Não importa que em tempos ou transitoriamente tenha aderido a medidas de cunho progressista, tratava-se simplesmente de impedir o avanço de forças efetivamente socialistas.
Outra falácia é o da liberdade proporcionada pelo liberalismo. Ora, como disse Engels, o reino da liberdade começa quando se sai do reino da necessidade, mas no liberalismo a liberdade depende da riqueza possuída. A liberdade liberal baseia-se na busca do interesse individual, imposta pelo dogma de que com o pleno funcionamento do mercado todos os nossos desejos podem ser satisfeitos. Exceto que nesses desejos não se incluem necessidades sociais e que para satisfazer o que quer que se pretenda é necessário ser solvente (ter dinheiro), um problema, pois a força de trabalho também está sujeita à concorrência e esta ao lucro capitalista.
Com o liberalismo, a vida de largas camadas médias tornou-se mais insegura e as perspetivas de vida das novas gerações mais difícil, enquanto o Estado é cada vez menos capaz de satisfazer as necessidades sociais e estruturais do país. As prioridades são outras: garantir lucros privados. Mas nisto, como disse JK Galbraith: "os ricos nunca são demasiado ricos para investirem mais e os pobres nunca são demasiado pobres para trabalharem mais."
A política dos governos liberais acaba por resumir-se à gestão técnica do sistema, em que, as preocupações das pessoas são secundarizadas em nome da eficiência liberal. Os impostos, salário mínimo, greves, sindicatos de classe, são sempre "ineficiências" que a propaganda diz prejudicarem os trabalhadores. Os sentimentos coletivos, são obstáculos a uma distopia que consiste basicamente em cada um é levado a maximizar escolhas egoístas. Nos media o processo é simples: evitar falar sobre problemas de interesse popular e apontar como "radicalismo" os que estão interessados nessas questões. O sistema não tendo concretamente nada a oferecer socialmente tenta encontrar uma base de entendimento na mobilização contra inimigos, externos e internos.
Em França, Espanha, Portugal, etc., falou-se do tráfico e das condições de trabalho de imigrantes ilegais incluindo crianças, para trabalhar na agricultura, vindimas, etc. Mal pagos, mal alimentados ou abrigados, sem direitos. Afinal, é isso que remover barreiras ao "mercado perfeito" e à concorrência "livre e justa", impõe à força de trabalho.
É neste contexto de preocupações das pessoas com a queda do nível de vida, a insegurança, o futuro dos filhos, a sua saúde, e o cansaço por sucessivamente maioritariamente votarem em quem nada cumpre do que promete, que a extrema-direita, 100% liberal, é promovida pelos media e não só - veja-se a também a tolerância do presidente da AR - aliciando as pessoas para uma agenda neofascista, em curso em cúpulas da UE.
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